segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Silmar Bohrer (Caderno de Versos) 2

Caçador/SC

O ÁS DO SONETO
Ao Dr. Miguel Russowski, amigo

Criatura sempre envolvente
nas planuras deste mundão,
desde cedo um competente,
fez-se hábil cirurgião.

Sendo um vivente facetado,
poliedro multilavra,
agita este mundo agitado,
também é operário da palavra.

Dos seus versos não vou falar,
pois doçuras eu não espalho,
verdadeiramente prometo.

Apenas algo eu quero evocar,
que se existe o ás do baralho,
ele é o nosso ás do soneto.

ESQUECIDOS?!

Aqueles versos perdidos
entre os meus alfarrábios
podem não ser versos sábios
nem são versos esquecidos.

Na gestação deles tantos
sempre há os demorados,
pensamentos depravados,
rimas más, sem encantos.

Para a catarse sem pressa
ficam um tempo guardadinhos
no (quase) baú, lá à beça . . .

Pois versos são como as gentes,
purificam bem devagarinho
remindo maus antecedentes.

OH ! MAGIA

Ninguém a desafinar,
a orquestra cedo cantando,
corruíras, tico-ticos, sabiá,
joão-de-barro, bem-te-vi vibrando.

Uma sabatina em festa
então cá(qui) amanheceu,
os passarinhos na sua gesta
dão ao mundo o que Zeus lhes deu.

Eis-me loguinho a perguntar
nesta insólita romaria
em que vamos nós a navegar,

Que outra mágica magia
haverá que se possa igualar
aos passarinhos em sinfonia.

SERRA ACIMA

Vinte e tantos foram os dias
na orla chamada marítima
onde me tornei então vítima
dos silêncios, doces companhias.

Bebi de ares purinhos
pisando areias finíssimas,
banhos em águas claríssimas,
com céus azuis marinhos.

Agora andando serra acima
vem a sensação de finitude
desta vidinha numa boa . . .

A reminiscência se aproxima
com vívida mansuetude
lembrando belos dias à toa.

TRANSCENDÊNCIAS

Ora (rireis), ouvir asneira,
o poeta Bilac não cantaria,
se as estrelas ele ouvia,
a verdade é verdadeira.

Tenho ouvido as estrelas
nestas minhas romarias,
o Cruzeiro, as Três-marias,
preciso ouvi-las e vê-las.

Num mundo de turbulências
busco mesmo transcendências
para uma vida de bonança.

Em momentos aflitivos
as estrelas são lenitivos
e bálsamos de esperança.

Fonte:
Recanto das Letras

Nenhum comentário: