segunda-feira, 2 de março de 2020

Contos e Lendas do Mundo (Nação Taulipang: Konewó e a Onça)


Konewó é um índio que parecia ter nascido para disputar com as onças. Certo dia, ele estava sentado, encostado a uma árvore, quando uma onça chegou e perguntou:

– Por que está aí sentado, a escorar esta árvore?

– Para que ela não caia – respondeu Konewó, secamente. – Todas as árvores estão por cair. Por que não faz o mesmo que eu com aquela outra árvore ali?

A onça viu uma árvore que parecia prestes a ruir e achou que seria uma boa distração ficar escorando-a, pois não tinha nada melhor para fazer. Depois de encostar-se ao tronco, a onça fechou os olhos, sentindo-se vagamente virtuosa.

“De vez em quando é bom ser útil”, pensou, vaidosa da sua virtude. Mas a virtude logo transformou-se em sono, e, quando a onça começou a roncar, Konewó ergueu-se e, ligeirinho, amarrou-a ao tronco com cordas trançadas de cipó.

Konewó desapareceu, a reprimir o riso, e a onça só acordou algumas horas depois, completamente imobilizada.

Os dias se passaram e ela já estava quase morta de fome quando um macaco surgiu.

– O que faz aí, toda amarrada à árvore?

– Fui amarrada, não está vendo? – rugiu a fera. – Vamos, solte-me já!

– Ah, isso eu não faço, não! Se soltá-la, você me come!

– Não comerei, dou-lhe minha palavra!

O macaco não foi muito atrás da onça, e ela precisou insistir várias vezes para que ele finalmente se decidisse a arriscar o pelo. Com toda a cautela, ele desamarrou a onça, e só por isso escapou vivo. Atento, assim que viu a pata peluda eriçar as unhas na sua direção, deu um pulo para longe. O macaco desapareceu dentro da mata, enquanto a onça ficou maquinando a sua vingança contra o índio que a aprisionara.

Depois de andar muito, farejando o rastro de Konewó, ela finalmente encontrou o seu desafeto, desta vez escorado numa rocha.

– Ah! Aí está você! – disse ela, pulando à frente do índio. – Desta vez você me paga!

Konewó olhou serenamente para a onça.

– O que quer? – disse ele, friamente.

– Vingança!

Ao observar, porém, a calma do índio, a onça não pôde deixar de perguntar-lhe:

– Ei! O que faz escorado aí nesse pedregulho?

– Estou impedindo que ele caia. Todos os rochedos estão por cair.

Konewó, então, olhou para o lado e apontou outro rochedo dez vezes maior.

– Se você fosse uma onça realmente útil, faria como eu, impedindo que aquele rochedo caia.

Uma espécie de nuvem estúpida desceu sobre a mente da onça, obrigando-a ir tomar o seu lugar, mas assim que ela o fez, o índio ergueu-se.

– Espere aí, sabichão, onde pensa que vai? – gritou ela.

– Tive uma excelente ideia para poupar-me trabalho. Vou procurar um tronco para fazer uma escora e assim livrar-me de ficar o resto da vida escorando a minha pedra.

A onça sentiu o pedregulho chacoalhar às suas costas e deu um grito:

–Traga uma escora para mim também!

Konewó sumiu e nunca mais apareceu com escora alguma. Quanto à onça, das duas uma: ou está lá até hoje, escorando o pedregulho, ou terminou sepultada viva pelo desabamento.

Fonte:
A. S. Franchini. As 100 melhores lendas do folclore brasileiro.

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