O JARDIM DAS OLIVEIRAS
Ambiente:
Rio de Janeiro nos tempos da ditadura militar. E a consciência do personagem- autor do monólogo.
Foco narrativo:
Primeira Pessoa.
Personagens:
O autor da carta: Alguém que sofreu a tiranias da ditadura.
Zé: O destinatário da carta. Alguém que pode ser um amigo ou um conhecido ou alguém necessário para desabafar o que explode no coração do autor da carta.
Sequestrador: "Tinha olhar de vidro e nariz...ligeiramente adunco."
"Um crioulo, um mulato e um branco, etnia carioca": algozes ou companheiros do autor da carta.
Antônio: Alguém que morreu após ser torturado.
Luíza: Namorada do autor da carta.
Resumo:
Ele escreve uma carta, urgente para o Zé. ......
Começa contando como foi levado para a tortura. Uma pessoa trava-o pelo braço quando sai de casa. Essa pessoa, da qual não consegue ler o semblante, lembra-lhe a humanidade.
"Ah, Zé, como a alma é uma gruta sem luz.”
Os dois caminham furtivamente. Ninguém os nota...Ele é jogado no banco traseiro do carro onde já estão seus algozes: "Um crioulo, um mulato e um branco, etnia carioca". Levam-no a um local, uma sala com apenas três cadeiras.
Ele sente medo, sente-se asfixiado, tem ânsia e vontade de vomitar; Já havia sido torturado antes. Sente-se covarde, “a desesperança de saber que a dignidade dependia de um corpo miserável a serviço da força alheia". O Zé não lhe compreende os sentimentos. Ele já fora herói. Agora não mais consegue sê-lo.
O branco ameaça, quer saber do Antônio. Ele diz que não sabe. Já confessara tudo nove anos antes. O interrogador insiste em saber do Antônio embora todos saibam que Antônio já está morto. Estilete no peito. Ele sente medo e remorso por ter dado as pistas para a prisão de Antônio. Sente vergonha e ódio.
“Eu era as palavras arrancadas à força, era a covardia que eles souberam despertar em mim, e antes me fora desconhecida”. E era ainda a vida que eu descobrira preciosa entre os suplícios infligidos.
Não desistem. Querem saber do Antônio, Torturadores com mãos como as de qualquer pessoa, aparentemente limpas. Mãos que enterraram Antônio.
Ele diz que não tem visto Antônio. Quer voltar à vida. Diz que Antônio desapareceu. O mulato assume. Ele se lembra de que vira Antônio, no ano passado, na saída do cinema. Gritara por ele que não ouviu e desapareceu. Estava mais gordo e com bigode. Surge um novo Antônio. É um jogo que lhe custa suor, vida e honra.
"Eu sei que a vida prova-se com a palavra, mas quando nos é ela extraída à força e ainda assim, a vida nos fica, não é a vida o único tesouro com que se recomeça a viver?"
Antônio está na sala, "Vivo, ardente, combatendo o mundo em tudo igual ao que havia deixado antes de partir.”
O branco diz que Antônio é um assassino de mulheres e crianças, que precisa ser levado à justiça. Sai da sala. Ele é levado para uma ceia. Pensa no suplício da manhã seguinte, ou da semana, ou de mês... Pegam-no de madrugada, colocam-no no carro, jogam-no perto de casa. Nem uma palavra.
“Acalentavam o sangue e o suor de um país com o torniquete da naturalidade e da supremacia”.
“Advirto-o assim, Zé, que temos Antônio de volta.”
Mas Antônio não dá notícias a ninguém. Menos a quem lhe facilitara a captura. Mas ele lhe deve a vida. Não o mataram.
"Terá sido desonroso reviver Antônio? O poder não fragiliza apenas a quem domina. O poder educa para que não esqueçamos as suas lições. Mas, como será quando a lição passar a ser aplicada por nós, povo pálido e submisso?"
Luíza não o recebe. Ele vai para casa. A vida de sempre. A espera do carrasco, um dia. O que se pode esperar de uma criatura fiel ao Estado a cobrar-lhe obediência como meio de assegurar a coletividade uma existência feliz? E que expulsa do seu corpo social todo e qualquer organismo infectado de pus, palavra e ação rebeldes? Ele se perfuma "moderado e elegante". Pequenas atenções conseguem mesmo. Acomodação à vida possível.
“ah, Zé, quantos capítulos são diariamente redigidos numa infindável série de resignações?”
Nada de paz, de sossego. Perplexidades. Sono difícil. Ele se sente culpado. Não crê na própria inocência.
“E com que direito protesto, fortaleceu-me quem tinha a arma na mão, dei-lhe a munição que escasseava.”
Mas ele não quer sofrer. Reconhece a própria fragilidade. Reclama da autoridade, mas, no intimo, quer ser autoridade, ter domínio, poder.
Até Luiza desconfia de Zé. O Zé fala bem, mas não se comove. Luiza não gosta de seu olhar crítico. Ela é cheia de pudor. “Onde esteja, sua linguagem é impecável. Sua ordem mental alija a paixão. Não sei onde se abriga o coração daquela mulher.”
COMENTÁRIO:
O Jardim das Oliveiras foi o local onde Jesus Cristo sofreu grande agonia antes de ser crucificado. . “O jardim das oliveiras”, de Nélida Piñon, as personagens principais evocam seu passado e expõem suas dores e seus medos, demonstrando uma relação tensa das personagens com o mundo. Nesses contos, ganham mais relevo a vida emocional das personagens e as sensações provocadas pelos acontecimentos do que os acontecimentos em si.
A autora usa esse título para demonstrar que o texto trata de uma grande agonia interior, de alguém que foi preso e torturado nos porões da ditadura militar. E um texto altamente filosófico, emaranhado de pensamentos que se sucedem numa tentativa dolorosa de explicar a própria vida que foge ao controle do personagem. O personagem é torturado física e psicologicamente. Sofre tanto que desiste de ser idealista. Faltam-lhe forças para isso. Encolhe-se em si mesmo para não sofrer. “Quer ter a ilusão de ser livre embora” sinta-se "como um polvo embaralhado nas 'próprias pernas". Descobre que o próprio amor que sente por Luíza não passa de egoísmo. Ela é a sua tábua de salvação. Descrição exata de uma vida sem fé. Vida que se transforma, para o personagem, numa luta desesperada para preservá-la, pois descobre o quanto é preciosa, Quem é o Zé? O dominador? O rico? O poderoso? A elite cultural? O amigo? Ou todos? Em todo caso, é o interlocutor do personagem a quem ele se desvenda.
Fonte:
Análise pela Profª Sônia Targa, in OBRAS DA UEM - 2012 – 2013.
Ambiente:
Rio de Janeiro nos tempos da ditadura militar. E a consciência do personagem- autor do monólogo.
Foco narrativo:
Primeira Pessoa.
Personagens:
O autor da carta: Alguém que sofreu a tiranias da ditadura.
Zé: O destinatário da carta. Alguém que pode ser um amigo ou um conhecido ou alguém necessário para desabafar o que explode no coração do autor da carta.
Sequestrador: "Tinha olhar de vidro e nariz...ligeiramente adunco."
"Um crioulo, um mulato e um branco, etnia carioca": algozes ou companheiros do autor da carta.
Antônio: Alguém que morreu após ser torturado.
Luíza: Namorada do autor da carta.
Resumo:
Ele escreve uma carta, urgente para o Zé. ......
Começa contando como foi levado para a tortura. Uma pessoa trava-o pelo braço quando sai de casa. Essa pessoa, da qual não consegue ler o semblante, lembra-lhe a humanidade.
"Ah, Zé, como a alma é uma gruta sem luz.”
Os dois caminham furtivamente. Ninguém os nota...Ele é jogado no banco traseiro do carro onde já estão seus algozes: "Um crioulo, um mulato e um branco, etnia carioca". Levam-no a um local, uma sala com apenas três cadeiras.
Ele sente medo, sente-se asfixiado, tem ânsia e vontade de vomitar; Já havia sido torturado antes. Sente-se covarde, “a desesperança de saber que a dignidade dependia de um corpo miserável a serviço da força alheia". O Zé não lhe compreende os sentimentos. Ele já fora herói. Agora não mais consegue sê-lo.
O branco ameaça, quer saber do Antônio. Ele diz que não sabe. Já confessara tudo nove anos antes. O interrogador insiste em saber do Antônio embora todos saibam que Antônio já está morto. Estilete no peito. Ele sente medo e remorso por ter dado as pistas para a prisão de Antônio. Sente vergonha e ódio.
“Eu era as palavras arrancadas à força, era a covardia que eles souberam despertar em mim, e antes me fora desconhecida”. E era ainda a vida que eu descobrira preciosa entre os suplícios infligidos.
Não desistem. Querem saber do Antônio, Torturadores com mãos como as de qualquer pessoa, aparentemente limpas. Mãos que enterraram Antônio.
Ele diz que não tem visto Antônio. Quer voltar à vida. Diz que Antônio desapareceu. O mulato assume. Ele se lembra de que vira Antônio, no ano passado, na saída do cinema. Gritara por ele que não ouviu e desapareceu. Estava mais gordo e com bigode. Surge um novo Antônio. É um jogo que lhe custa suor, vida e honra.
"Eu sei que a vida prova-se com a palavra, mas quando nos é ela extraída à força e ainda assim, a vida nos fica, não é a vida o único tesouro com que se recomeça a viver?"
Antônio está na sala, "Vivo, ardente, combatendo o mundo em tudo igual ao que havia deixado antes de partir.”
O branco diz que Antônio é um assassino de mulheres e crianças, que precisa ser levado à justiça. Sai da sala. Ele é levado para uma ceia. Pensa no suplício da manhã seguinte, ou da semana, ou de mês... Pegam-no de madrugada, colocam-no no carro, jogam-no perto de casa. Nem uma palavra.
“Acalentavam o sangue e o suor de um país com o torniquete da naturalidade e da supremacia”.
“Advirto-o assim, Zé, que temos Antônio de volta.”
Mas Antônio não dá notícias a ninguém. Menos a quem lhe facilitara a captura. Mas ele lhe deve a vida. Não o mataram.
"Terá sido desonroso reviver Antônio? O poder não fragiliza apenas a quem domina. O poder educa para que não esqueçamos as suas lições. Mas, como será quando a lição passar a ser aplicada por nós, povo pálido e submisso?"
Luíza não o recebe. Ele vai para casa. A vida de sempre. A espera do carrasco, um dia. O que se pode esperar de uma criatura fiel ao Estado a cobrar-lhe obediência como meio de assegurar a coletividade uma existência feliz? E que expulsa do seu corpo social todo e qualquer organismo infectado de pus, palavra e ação rebeldes? Ele se perfuma "moderado e elegante". Pequenas atenções conseguem mesmo. Acomodação à vida possível.
“ah, Zé, quantos capítulos são diariamente redigidos numa infindável série de resignações?”
Nada de paz, de sossego. Perplexidades. Sono difícil. Ele se sente culpado. Não crê na própria inocência.
“E com que direito protesto, fortaleceu-me quem tinha a arma na mão, dei-lhe a munição que escasseava.”
Mas ele não quer sofrer. Reconhece a própria fragilidade. Reclama da autoridade, mas, no intimo, quer ser autoridade, ter domínio, poder.
Até Luiza desconfia de Zé. O Zé fala bem, mas não se comove. Luiza não gosta de seu olhar crítico. Ela é cheia de pudor. “Onde esteja, sua linguagem é impecável. Sua ordem mental alija a paixão. Não sei onde se abriga o coração daquela mulher.”
COMENTÁRIO:
O Jardim das Oliveiras foi o local onde Jesus Cristo sofreu grande agonia antes de ser crucificado. . “O jardim das oliveiras”, de Nélida Piñon, as personagens principais evocam seu passado e expõem suas dores e seus medos, demonstrando uma relação tensa das personagens com o mundo. Nesses contos, ganham mais relevo a vida emocional das personagens e as sensações provocadas pelos acontecimentos do que os acontecimentos em si.
A autora usa esse título para demonstrar que o texto trata de uma grande agonia interior, de alguém que foi preso e torturado nos porões da ditadura militar. E um texto altamente filosófico, emaranhado de pensamentos que se sucedem numa tentativa dolorosa de explicar a própria vida que foge ao controle do personagem. O personagem é torturado física e psicologicamente. Sofre tanto que desiste de ser idealista. Faltam-lhe forças para isso. Encolhe-se em si mesmo para não sofrer. “Quer ter a ilusão de ser livre embora” sinta-se "como um polvo embaralhado nas 'próprias pernas". Descobre que o próprio amor que sente por Luíza não passa de egoísmo. Ela é a sua tábua de salvação. Descrição exata de uma vida sem fé. Vida que se transforma, para o personagem, numa luta desesperada para preservá-la, pois descobre o quanto é preciosa, Quem é o Zé? O dominador? O rico? O poderoso? A elite cultural? O amigo? Ou todos? Em todo caso, é o interlocutor do personagem a quem ele se desvenda.
Fonte:
Análise pela Profª Sônia Targa, in OBRAS DA UEM - 2012 – 2013.
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