domingo, 8 de setembro de 2024

Vereda da Poesia = 106 =


Trova do Rio de Janeiro/RJ

SÔNIA SOBREIRA DA SILVA

É o abuso da riqueza
e o desprezo à educação
que põe sobre a nossa mesa
a fome, em lugar do pão.
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Poema do Rio de Janeiro/RJ

NÉLIO CHIMENTO

Quem ampara os animais
É gente que faz
O mundo parecer melhor
Gente que não para na dó
Faz do amor, verbo de ação
Tira as amarras do coração 
Diante de um corpo desnutrido
Com um olhar perdido
A suplicar por atenção
Um pedaço de pão
Um gesto de carinho
Apenas um tempinho
Longe do desamparo e da solidão
Quem ama, protege, acode
Não se sacode
Desvia e vai embora
Sem demora
Cuidar do que mais importa
Sem entreabrir uma porta
Para a visita da compaixão
Com todos os seres da criação
Quem respeita os animais
Não estará só jamais
Tem a alma bafejada pelos canais
Que abençoam a boa vontade
Dos que deixam rastos de caridade
Por onde passam nesse mundão
Gente que anda pela rua
Iluminada pelo sol ou pela lua
A receber o balsamo merecido
Na pureza de um olhar agradecido
De um cãozinho amparado e protegido

Quem ama de verdade os animais
Acorda feliz e dorme na paz
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Trova Humorística de Belém/PA

ANTONIO JURACI SIQUEIRA

O esculápio não se aperta
e responde prontamente:
- Passei a receita certa,
errado era o paciente...
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Quadras de Lisboa/ Portugal

ANTÓNIO FLORÊNCIO FERREIRA
1848 – 1914

XVI

Meu Amor, estás dormindo,
Não te quero despertar...
Há de ser devagarinho
Que trovas te vou soltar.

De musgo, lírios e rosas
Uma cama irei fazer;
De jasmins e de saudades
O travesseiro há de ser.

Quero que vejas nos sonhos,
Lindos, belos, perfumados,
Os meus olhos, da vigília,
Tristes, lânguidos, magoados...
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Haicai de São Paulo/SP

SOLANGE COLOMBARA

Aromas florais
libertam a poesia—
sinto a primavera.
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Poema de Curitiba/PR

DANIEL MAURÍCIO

Para o amor 
Não desbotar,
Palavras diárias de carinho 
São como lápis de cor
Que dão vida
Aos espaços vazios.
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Trova Popular

Pobre louco apaixonado,
ai de mim! Que não mais via,
que seu amor, pouco a pouco,
esfriava dia a dia.
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Poema de Natal/RN

DIVANI MEDEIROS

Setembro 

Primavera, mês do florescer, 
Flores desabrocham no alvorecer. 
Muitas adormecem com a chegada da lua, 
Outras acordam para enfeitar a rua. 
Despertam  sorrindo com o sol aquecendo 
Ornamentam jardins e residências.
Com cores variadas,  deixam pétalas nas calçadas, 
Adornam os dias e causam admiração. 
Inspiram  contos,  cordéis, músicas e poesias, 
Presenteando a diversidade  todos os dias...
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Trova do Rio de Janeiro/RJ

EDERSON CARDOSO DE LIMA

Quem meditar por instantes,
certos conceitos refaz:
- O mais caro dos brilhantes
não vale o brilho da paz!
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Poema de Curitiba/PR

ROSELI BUSMAIR

A poesia de cada dia!

 Quando vier, avise antes!
Não venha de surpresa
Pois quero me banhar
Como fazem as noivas
Antes de chegar ao altar!
Sei que o improviso
É bem melhor
Mas nesse dia eu quero
Me preparar em sintonia
Com a maior paz!
Quero vestido novo
E flores espalhadas
Nos vasos ora vazios
Há tanto tempo...
Usar meu perfume
E cabelos soltos ao vento,
Mas bem cuidados, cheirando
Alecrim e a pitanga...
Então não me surpreenda!
Mais que a surpresa é a espera,
O planejar meticuloso do jantar
À luz de velas lavanda
Com notas de almíscar e tabaco.
O vinho nem quente nem gelado:
Ao gelo, no ponto adequado
Ao brinde do encontro esperado...
Se gostar de salmão, avise
É o melhor prato que uma poeta
Conseguirá cozinhar...
Nada de surpresas!
- Esperar é mais!
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Trova Humorística de São Paulo/SP

THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA

O salão, que se destaca,
lota, assim que a noite desce,
por um engano na placa:
- “Faço tranças”... tá com S!!!
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Poema de Curitiba/PR

ISABEL FURINI

Francesca Woodman

fotografava os espelhos do destino
os rompantes emocionais
os suicídios clandestinos

o seu eu ilimitado fugia
do olho da câmera e reaparecia
com contornos indefinidos

nas fotografias, Francesca
imprimia um tom soturno
e redescobria a sua essência

enquanto o drama sacudia a sua alma
ela cinzelava imagens
nos  perenes palcos da psique
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Trova de Porto Alegre/RS

FLÁVIO ROBERTO STEFANI

Em ternura plena e extrema,
nossos sonhos se cruzaram!
E a noite se fez poema…
e os versos também se amaram!…
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Poema de Curitiba/PR

ATÍLIO ANDRADE

O viaduto 

O viaduto serve de ponte
Para transpor, atravessar 
Para o outro lado 
Mas, também  há  um monte
Embaixo dele a morar
Sem nenhum cuidado
Quando a noite chega
A disputa  acelera
Há  cochichos e gritos da galera
Tornando  a vida um pega
Enquanto  ao redor 
Ninguém  nada vê 
Não  sente a dor
Que sente  você
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Trova Humorística de Caicó/RN

DJALMA ALVES DA MOTA

De pileque, o Zé Libório,
procedeu de modo errado...
Chupando o supositório:
– Ah confeito ruim danado!
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Poema de Curitiba/PR

SONIA CARDOSO

Como já não durmo 
Também não sonho 
O que me inspira 
É o respirar 
Dos pirilampos, em 
Seu efêmero vórtice 
Na espiral de luz.
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Trova de Natal/RN

BENTO DE CARVALHO RABELO

Bom violão, que me acordas
ao luar do meu sertão,
que bem fazem tuas cordas
às cordas do coração.
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Poema de Campina Grande/PB

DANIEL RODAS

De relva e folhas

acordo cada célula 
de espanto

quando me ponho 
sozinho
na grama sob as estrelas

e meu olhar se
funde
difuso junto aos galhos

como o fluir da
vida
sobre a ferida das horas
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Trova de Maringá/PR

A. A. DE ASSIS

Depois de tomar uns treco 
para aquecer a moringa, 
o trovador de boteco 
soluceia... e a rima pinga! 
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Cantiga de Infantil de Roda

Oh! Sindô le-lê

Oh! Sindô lê-lê
Oh! Sindô lá-lá
Oh! Sindô lê-lê
Não sou eu que caio lá

Oh! Maria quer ser freira.
Não, senhor, quero casar;
Tenho o dia pro trabalho
E a noite pra descansar

Oh! Sindô lê-lê
Oh! Sindô lá-lá
Oh! Sindô lê-lê
Não sou eu que caio lá

Menina da saia curta,
Do cabelo de retrós;
Bota a chaleira no fogo,
Vai fazer café pra nós.

Oh! Sindô lê-lê
Oh! Sindô lá-lá
Oh! Sindô lê-lê
Não sou eu que caio lá

Menina da saia verde,
Não pise neste lameiro;
Não se importe, meu senhor,
Não custou o seu dinheiro.

Oh! Sindô lê-lê
Oh! Sindô lá-lá
Oh! Sindô lê-lê
Não sou eu que caio lá

Eu subi naquele morro,
De sapato de algodão;
O sapato pegou fogo
E eu voltei de pé no chão.

Oh! Sindô lê-lê
Oh! Sindô lá-lá
Oh! Sindô lê-lê
Não sou eu que caio lá
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Trova da Princesa dos Trovadores

CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Por te amar, tenho sofrido,
mas não me arrependo: Vem!
- Quem ama as rosas, querido,
ama os espinhos também!
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Hino de Gramado/RS

No alto da Serra Gaúcha
Num verde planalto ondulado
Vislumbram-se em meio aos outeiros
O velho e benquisto “Gramado”.

Cantemos num brado festivo
Com calma de ardor juvenil
O amor que nos liga a “Gramado”
Parcela do vasto Brasil.

Descendo as alturas do centro
Por vales, peraus e escarpadas,
Dos homens do campo, as lavouras
Desdobram-se ao longo espalhadas.

Indústria, comércio e colônias,
Num único esforço aplicado,
Retratam o ardor progressista
Que anima o porvir de Gramado.

Riquezas da mãe natureza
Que Deus semeou nesta terra
Ofertam aos muitos turistas
Saúde nos ares da Serra.
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Trova de Natal/RN

ARLINDO CASTOR DE LIMA

Saúde, mulher,  dinheiro,
um trio que bem nos faz,
mas só tem valor inteiro
se em nossa alma houver paz.
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Poema de Lisboa/Portugal

ANTERO JERÓNIMO

Sacode as mágoas das vestes
Arranca os espinhos do peito
Nesse peito que se insufla rarefeito 
Desesperando por alento
Quando tudo parece desabar

És um viajante na estrada
Carregas nas costas a coragem
Dos que sabem trilhar seu caminho
Um guerreiro a iluminar
Os que em ti se sabem abraçar

Ama-te em sentimento primeiro
Sorri à imagem que de ti reflete
És capitão do teu destino
Esse é o maior tesouro
O segredo que terás que desvendar

Ama-te inteiro e em verdade 
Nada menos que isso
Não te conformes com a metade
Verás toda a força que em ti transportas
Guerreiro de luz predestinado a amar.
(do livro Na pele do sentir)
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Trova de São Paulo/SP

DOMITILLA BORGES BELTRAME

Trovador é um garimpeiro:
faz de estrelas, diamantes,
e nas flores de um canteiro
rima rubis e brilhantes!
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Fábula em Versos da França

JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry, 1621 – 1695, Paris

Os dois galos

Dois galos se meteram em peleja
A fim de se saber qual deles seja
O capataz de um bando de galinhas:
Unhadas e picadas tão daninhas
Levou um, que se deu por convencido,
E andava envergonhado e escondido.

O vencedor se encheu de tanta glória,
Que para fazer pública a vitória,
Pôs-se de alto, voou sobre umas casas;
Ali cantava, ali batia as asas.

Andando nestas danças e cantares,
Veio uma águia, levou-o pelos ares;
E saindo o que estava envergonhado,
Gozou do seu ofício descansado.

Quem contemplasse bem quão pouco dura
Neste mundo qualquer prosperidade,
Livre estava de inchar por vaidade
Com um leve sucesso de ventura.
O que tem a alegria por segura,
É doente, e o seu mal fatuidade;
Que ela passa com muita brevidade,
E vem logo a tristeza, e muito atura.

De mudanças o mundo está tão cheio.
Que hoje rio, amanhã estou sentindo
Uma grande desgraça que me veio:
Delira quem dos tristes anda rindo;
Que é absurdo gostar do mal alheio,
Quando o próprio a instantes está vindo.

Um comentário:

Cris Anvago disse...

Adorei ler as poesias! Parabéns a todos! Beijinhos