quarta-feira, 18 de setembro de 2024

Vereda da Poesia = 113


Trova de 
ELISABETE DO AMARAL AGUIAR
Mangualde/ Portugal

Com canto combate o pranto
e a treva em que a Terra jaz;
em cada canto e recanto
cante-se a Visão da Paz!
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Poema de
ANTERO JERÓNIMO
Lisboa/Portugal

Tenho tantas perguntas 
O tempo dá-me as respostas possíveis 
Não necessariamente aquelas
Que mais gostaria de escutar 
Sinto-te e quero-te...
Um querer tão forte que provoca um aperto
Nesta ambivalência onde me sou inteiro
E onde também estás em completude.
Confio no universo 
Num caminho de sinais
Acreditando que nem tudo tem resposta plausível 
Sei que algo virá 
Que em momento certo acontecerá 
Desejos abraçados, corpos unificados
Um sentimento único, não mensurável.
Quero-te tanto
Nesta consciência que dói
Nesta realidade de saber que preciso 
Libertar as asas da tua felicidade.
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Trova de 
VICTOR BATISTA
Barreiro/Portugal

Todo o tempo duma vida
que passamos neste mundo,
é nos dado p’la medida
de horas, minutos, segundos.
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Soneto de
TIAGO
(António Barradas Barroso)
Paredes/ Portugal

Sinais da Idade

O verso já não flui com à vontade,
As rugas, o meu rosto, vão sulcando,
A noite, já mais cedo, está chegando,
E há mais recordações da mocidade.

No peito, cresce, agora, uma saudade,
Cabelos brancos há, mas rareando,
E, aos poucos, um inverno se instalando,
Promessas de trovões e tempestade.

Sinais, tantos sinais que a vida dá,
Que vão surgindo aqui, ou acolá,
Mas sempre com condão, ou com virtude

De esclarecer, em mim, grande dilema,
Devo, ou não, elaborar novo poema
Se inda há, no pensamento, juventude?
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Trova Humorística de
IZO GOLDMAN
Porto Alegre/RS (1932 – 2013) São Paulo/SP

Ao ser preso, o vigarista,
explica, muito matreiro:
- Sou apenas cientista,
faço "clones" de... dinheiro!
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Poema de
EUGÊNIO DE SÁ
Sintra/ Portugal

Ontem...

Ontem, perdi as ilusões de ser feliz
Pensei... que depois do adeus, te veria de volta
Mas, bárbaro destino; nenhum de nós o quis!

Depois de ontem...

Ontem, esquecido o norte, barco à solta
Sem leme, sem vontade a dar-me rumo
Já nem um esgar assumo, de revolta.

Um ano depois de ontem...

Ontem, vi-te num bar; queres um café?
Como vai tua vida, estás feliz?
E as mãos se deram, sem saber porquê.
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Trova Popular

O pouco que Deus nos deu
cabe numa mão fechada;
o pouco com Deus é muito,
o muito sem Deus é nada.
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Soneto de
TITO OLÍVIO 
Faro/ Portugal

Meu Futuro

Vou pintar meu futuro de esperança
E pôr-lhe asas azuis, da cor do céu,
Para atingir o sol, se houver bonança,
Sem ninguém ver, oculto por um véu.

Será, porque assim quero, apenas meu,
Já que o passado foi, desde criança,
Luta minha, que a sorte pouco deu,
Mas passei a ter já mais confiança.

Quero beber a luz de cada aurora,
Chorar cada minuto de demora
P’las coisas que no tempo já perdi.

Não sei quanto me resta. Quero só,
Até ser finalmente outra vez pó,
Gozar tudo o que ainda não vivi.
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Trova de 
ZAÉ JUNIOR
Botucatu/SP, 1929 – 2020, São Paulo/SP

Na infância a gente brincava,
eu de sol, você de lua ...
e o universo começava
e acabava em nossa rua!
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Poema de 
CRIS ANVAGO
Lisboa/ Portugal

A lua e o sol 

Esta noite a lua não está cheia
Nem é lua nova
Pode ser meia-lua ou quarto minguante
Não sei distinguir

A lua só aparece quando quer
Por vezes esconde-se por detrás das nuvens

A lua é inconstante
Assim como o sol

São irreverentes
Têm vontade própria
E brilham à sua maneira
Mas podem ser amigos a vida inteira

Encontram-se poucas vezes…

Quando o sol caminha para outro lugar
A lua aparece já sem tempo para o abraçar

Mas, quando se querem abraçar
ou encontrar-se mais perto
Existe a eclipse lunar
e, a terra não os deixa abraçar

A lua e o sol comandam as marés…

A lua não pode ter o sol a seus pés
O sol é movido pelo sentimento das marés

São distintos, fortes e frágeis
Belos elementos da natureza
Furacão, sentimento e beleza

O sol e a lua são seres potentes
Enigmáticos
Seres únicos na natureza!
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Trova de
EDUARDO A. O. TOLEDO
Pouso Alegre/MG

Neném... Zé Gordo... Tuinha...
Zeca saci... (Que distância!)
- Cadê a turma que eu tinha
na rua da minha infância"?
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Dobradinha Poética (trova e soneto) de
LUCÍLIA ALZIRA TRINDADE DECARLI
Bandeirantes/PR

Pés andarilhos

O trem sua meta alcança,
girando as rodas nos trilhos…
Meu caminhar que, hoje, avança,
conta com pés andarilhos!

Não sei dizer, quanto em quilometragem,
nem quantas as estradas percorridas...
Posso afirmar: depois de longa viagem
meus pés estão dispostos a outras idas.

Sendo andarilhos, levam na bagagem
minhas vitórias — poucas — conseguidas;
também derrotas, e essa desvantagem
é que impulsiona para mais corridas!

“Tanta importância dada aos pés, no entanto,
parece injusta e traz calado espanto
a um corpo, quase todo" — alguém diria.

Lembro que, ao corpo, dão sustentação
e exalto, aqui, o poder: locomoção...
Porque sem pés, andar não poderia!...
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Trova de 
FERREIRA NOBRE
Fortaleza/CE

Pelas ruas nas andanças
há muita gente que esquece
de buscar as esperanças
no santuário da prece.
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Poema de
ISIDORO CAVACO 
Faro/ Portugal

Sonho Louco

És a luz no infinito
E o sonho em que acredito
Poder contigo encontrar;
Faço poemas na rua
Com os retalhos de Lua
Que vejo no teu olhar.

Grito mais alto que o vento
Porque trago em pensamento
Esse amor que tanto quero,
Neste silêncio que é meu,
Onde apenas vivo eu
E a toda a hora te espero.

Dizer que te amo é pouco
Ao viver meu sonho louco
Numa ilusão permanente;
Até nas ondas do mar
Eu oiço pronunciar
Teu nome constantemente.

Tenho na alma esculpida
Essa tua imagem qu’rida,
Que já não posso apagar
Deste meu destino estreito,
Que vegeta no meu peito
Sem asas para voar.
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Trova de
JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

Enquanto a mente divaga,
  vou na jangada a sonhar,
  mas nenhum sonho naufraga
  nas tempestades do mar.
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Soneto de
DANTE MILANO
Rio de Janeiro/RJ (1899 -1991) Petrópolis/RJ

Divagação

Penso, para esquecer... Apenas vivo
Aquilo que me passa pela mente
E se vai desdobrando interiormente
Em forma de soneto pensativo.

Invento — não existe — algum motivo.
Como quem escrevendo à amada ausente
Imagina maior o amor que sente,
— Oh, tudo o que há no amor de descritivo —

Como o que ama de longe, assim pareço.
E ao me lembrar de tudo quanto esqueço,
(O voo da ave é uma existência à-toa?)

Escrevo a minha vida que se esfuma
Na distância... — Ah, bem sei que habito numa
Bola que rola e piso um chão que voa...
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Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

Vê o boneco em sua cama
e arma o maior alarido!
O "banana de pijama"
é um clone... do seu marido!!!
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Poema de 
CREMILDE VIEIRA DA CRUZ 
Lisboa/Portugal

Embrulho

Embrulhei-me num embrulho,
Fiquei assim embrulhada.
Quis desfazer o embrulho,
Mas fiquei mais embrulhada.

Pus o embrulho num canto,
Perdi o canto do embrulho.
Fiz de tudo uma embrulhada,
Perdi até o meu canto;

Ficou dentro do embrulho.
Ando assim desesperada,
À procura do embrulho!
De campainha na mão,

Subo escada, desço escada,
Chamo, chamo, pelo embrulho,
Espreito pelo corrimão,
vejo só uma embrulhada.
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Trova de 
ANTONIO COLAVITE FILHO
Santos/SP

Na terra bem preparada,
este ponto eu não discuto:
- A semente bem plantada
traz esperança de fruto !
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Soneto de 
MÁRIO ZAMATARO
Curitiba/PR

A coisa do povo

Que coisa estranha o legado deste povo...
É coisa sua e quem usa a sua coisa
é outro alheio senhor da coisa alheia
apoderado das coisas do poder

E a coisa feia é pintada como linda
emoldurada em tecido corrompido
onde a pobreza é disfarce da miséria
e onde a verdade é forjada na caneta

Coisa tomada por quem quer ter direito
e é tão suspeito e comete o vão delito
à luz do dia ou da noite tanto faz

Coisa perversa que ecoa no silêncio
e que malversa a ilusão de ser feliz
enquanto a pública rês rumina morte
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Trova de 
MOREIRA LOPES
Maranguape/CE

Acalento tanto sonho
dos meus tempos de criança
que me conservo risonho
e repleto de esperança.
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Hino de Muitos Capões/RS

Ascende a chama do nosso Planalto
Capoense do Sul altaneiro
Esta querência que leva o reponte
Campeirismo na voz do rodeio.

Irmanados nos pagos que acampa
Na essência nativa da terra
Simbolizando a cultura gaúcha
Nestes campos de cima da serra.

Soberano Patrão das alturas
Que a nós estendeu orações
Abençoe as águas do Saltinho
Natureza de Muitos Capões.

E o campo tem muitas riquezas
Araucária nasceu o pinhão
Na certeza de um novo amanhã
Houve sempre o cantar do charão.

Na certeza de um novo amanhã
Houve sempre o cantar do charão
Cavalhadas, festas de rodeio
Patrão do tempo no lombo da história.

Tradição de um povo serrano
Que o Rio Grande guarda na memória
Este pago serrano garboso
Hospitaleiro, sem luxo.

Muitos Capões cavalga rumo ao futuro
Exaltando seu pampa gaúcho
Muitos Capões cavalga rumo ao futuro
Exaltando seu pampa gaúcho.

Soberano Patrão das alturas
Que a nós estendeu orações
Abençoe as águas do Saltinho
Natureza de Muitos Capões
E o campo tem muitas riquezas.

Araucária nasceu o pinhão
Na certeza de um novo amanhã
Houve sempre o cantar do charão

Na certeza de um novo amanhã
Houve sempre o cantar do charão.
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Com que ternura e altivez 
luta a mãe pobre e sem brilho 
para ao fim de cada mês 
pagar os sonhos do filho!
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Soneto de 
EMÍLIO DE MENESES
Curitiba/PR , 1866 – 1918, Rio de Janeiro/RJ

Sai... azar!

Seis horas. Estação da Leopoldina.
Tomo o trem. Mal me abanco, uma velhota,
De setenta anos, fala, sopra, arrota,
Numa desenvoltura de menina.

Quero ler. A carcaça, de voz fina,
Tanto fala e me diz tanta lorota,
Que, na raiva, o jornal se me amarrota
E ainda o raio da velha me bolina.

Quero fugir. A peste me segura.
Por pouco mais me torno um assassino.
Sinto que passa um vento de loucura.

E julgo ver que, em meio ao desatino,
Eu era da polícia a atroz figura,
E a velha era a figura do Aurelino.
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Trova da Princesa dos Trovadores 
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Quem não sabe, quem não sente
que às vezes nos custa caro
essa audácia de ser gente,
quando ser gente é tão raro? 
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

O urso e o amador de jardins

Em um bosque solitário
De funda mudez sombria.
Por lei do destino vário
Oculto um urso vivia.

Podia perder, coitado,
O juízo; vem dele a míngua
Ao que se vê isolado
Sem ter com quem dar à língua.

É muito bom o falar,
O calar-se ainda é melhor.
Dos sistemas no abusar
É que se encontra o pior.

Como no bosque recurso
Para conversar não achava,
Aborreceu-se o nosso urso
Da vida que ali levava.

E enquanto em melancolias
Ia consumindo o alento,
Não longe passava os dias
Um velho em igual tormento.

O velho amava os jardins
Que a capricho Flora esmalta:
Belo emprego, mas dos ruins
Quando um bom amigo falta.

E cansado de viver
Com gente que muda nasce,
Meteu-se a caminho, a ver
Se achava com quem falasse.

Ora, quando o velho ia
Saindo para a jornada,
Do bosque o urso saía
Levando a mesma fisgada.

Encontraram-se — era cedo —
E o velho, como é de crer,
Teve do urso grande medo
Como teria qualquer.

Mas por fim, julgando-o manso,
Com ele simpatizou:
«Queres jantar com descanso
No meu lar?» Ele aceitou.

Comeram; de alma no centro
Nenhum receou perigos;
E ficam portas a dentro
Vivendo os dois como amigos.

O velho as flores regava,
Com que muito se entretinha;
O urso saía, caçava
E abastecia a cozinha.

E tanto afeto exibia,
Embora em maneiras toscas,
Que quando o velho dormia,
Até lhe enxotava as moscas.

Mas um moscardo* maldito
Apareceu, tão ruim,
Que o urso se viu aflito
Para conseguir o seu fim;

E, de raiva furioso,
Agarra num matacão*,*
E esborrachou o teimoso...
Sobre a tola*** do patrão!...

A mil iguais fulanejos****
Lance a Parca a dura foice:
Querem encher-nos de beijos,
E o que dão, por fim, é coice!
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* Moscardo = moscão.
** Matacão = Grande pedra solta, arredondada
*** Tola = não achei significado, creio ser “cabeça”, “cachola”. (JF)
**** Fulanejos = fulanos quaisquer

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