domingo, 15 de setembro de 2024

Vereda da Poesia = 111


Trova de 
JESSÉ FERNANDES DO NASCIMENTO
Angra dos Reis/RJ

Nesta vida, de passagem
sem morada permanente,     
numa tão breve viagem,
sou um turista somente.
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Sextilha de
THALMA TAVARES
São Simão/SP

É teimoso meu velho coração!...
Aos menores trinados da poesia
ele esquece que deve se aquietar
e, ansioso, cedendo  a euforia
vai feliz capengando ao entrevero,
com coragem, com fé, com ousadia.
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Trova Humorística de
ERCY MARIA MARQUES DE FARIA
Bauru/SP

Diz o caipira ao chegar
“de fogo”, à mulher que o xinga:
-“Houve engano lá no bar...
eu disse “Mé”... deram “pinga”!!!
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Soneto de
ALBERTO DE OLIVEIRA
Palmital de Saquarema/RJ (1857-1937) Niterói/RJ

Lendo os antigos

Vamos reler Teócrito, senhora,
Ou, se lhe apraz, de Teos o citaredo;
Olhe a verdura aqui deste arvoredo
À beira da água... E o sol que desce agora.

Lécio, o pastor, nesta colina mora,
Onde as cabras ordenha. Este silvedo
Guarda de Umbrano à flauta a voz canora,
Como este arbusto a Títiro o segredo.

Esta água... Olhe, porém, como é tão pura
Esta água! O chão de nítidas areias,
Plano, igualado, límpido fulgura;

E tão claro é o cristal que, abrindo o louro
Cabelo, em grupo trêmulas sereias
Se veem lá em baixo neste fundo de ouro.
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Trova Humorística de
RENATA PACCOLA
São Paulo/SP

Para o furacão filmar,
a TV saiu-se bem:
a matéria foi ao ar
e o repórter foi também!
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Poema de
ANTONIO AGOSTINHO GOMES DE QUEIRÓS
Belo Horizonte/MG

Desenho 

Finda-se o dia. 
Linda! abre-se a noite estrelada.
Brisa perfumada passeia pela prata;
Profetisa a chegada da primavera.

Homens jogam damas;
Consomem o tempo desfiando tramas.
Moles mulheres tricotam mazelas;
Reles fiapos do dia.

Vida tal qual tartaruga;
Lida enfadonha, cansativa.
Qual sentido tem essa vida;
Tal não fosse acredita-la?

Cidade pequena... sem muitas ambições;
Felicidade aqui? um arco-íris.
Desconhece as tramas dos grandes centros;
Acontece, somente!
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Trova Popular

Naquela noite saudosa        
quando de ti me apartei, 
cem passos não eram dados
quando sem alma fiquei.
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Poema de
MÁRIO QUINTANA
Alegrete/RS (1906 – 1994) Porto Alegre/RS

Alma errada

Há coisas que a minha alma, já mortificada não admite:
assistir novelas de TV
ouvir música Pop
um filme apenas de corridas de automóvel
uma corrida de automóvel num filme
um livro de páginas ligadas
porque, sendo bom, a gente abre sofregamente a dedo:
espátulas não há... e quem é que hoje faz questão de virgindades...
E quando minha alma estraçalhada a todo instante pelos telefones
fugir desesperada
me deixará aqui,
ouvindo o que todos ouvem, bebendo o que todos bebem,
comendo o que todos comem.
A estes, a falta de alma não incomoda. 
(Desconfio até que minha pobre alma fora destinada 
ao habitante de outro mundo).
E ligarei o rádio a todo o volume,
gritarei como um possesso nas partidas de futebol,
seguirei, irresistivelmente, o desfilar das grandes paradas do Exército.
E apenas sentirei, uma vez que outra,
a vaga nostalgia de não sei que mundo perdido…
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Trova de
RELVA DO EGYPTO REZENDE
Belo Horizonte/MG

Desato os nós do passado
e as tramas de um sonho eu teço:
sonho é tear encantado
que motiva o recomeço.
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Poema de
VANICE ZIMERMAN
Curitiba/PR

Inspiração

Tua linda inspiração:
Filigranas em poesia
São centelhas do coração,
Inefável poesia…
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Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

Um remédio envenenado
e a Julieta morreu...
O Romeu foi condenado
porque ela disse: "Erro meu".
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Poema de
ATÍLIO ANDRADE
Curitiba/PR

Arrebol

Naquele arrebol distante
Daquela manhã risonha
Depositei meus sonhos
Abraçando as saudades
E beijando as distâncias
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Trova de 
JOÃO COSTA
Saquarema/RJ

Poesia, vida, beleza,
bem-aventurança, dor,
felicidade, tristeza...
É isso e bem mais o amor.
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Poema de
FERNANDO PESSOA
Lisboa/Portugal, 1888 – 1935

Presságio

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…

Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pra saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…
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Trova de
ANDRÉA MOTTA
Curitiba/PR

Se teus versos, poetisa,
são repentes de saudade,
tua vida, feito brisa,
sinonímia de amizade!
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Soneto de
AMAURY NICOLINI
Rio de Janeiro/RJ

Chuva Interior

A chuva cai, lavando estas calçadas,
molhando as plantas de toda a minha rua
como se fosse levando na enxurrada
até o próprio reflexo da lua.

Essa chuva afinal é benfazeja,
e não demora a cessar, serena e mansa,
para que a noite de novo calma esteja
e permita aquele sono de criança.

Tenho inveja da chuva e suas águas,
que colocam no calor um pouco o fim
nesta nova temporada de verão.

Enquanto eu enfrento minhas mágoas,
que chovem sem parar dentro de mim
e acabam me afogando o coração.
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Trova de
LUIZ HÉLIO FRIEDRICH
Curitiba/PR

O adeus naquele momento,
por orgulho de nós dois,
não mediu o sofrimento,
sem remédio, do depois.
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Poema de 
JÉRSON BRITO
Porto Velho/RO

Nos Braços do Amazonas

Rabiscando matagais
Com as águas colossais,
Meu Rio Madeira avanças.
Distritos, cidades, vilas
Festam enquanto desfilas,
Apreciam essas danças.

Nas tuas sendas incríveis
Despencas pelos desníveis
Em teu caminho encontrados.
No colo de teus banzeiros
Lá vão troncos e barqueiros
Por teu céu emoldurados.

À frente, finda o roteiro
Num abraço derradeiro
Com o gigante do Norte.
O Amazonas te devora
E, Madeira, nessa hora,
Confundem-se amor e morte...
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Trova de 
ARTHUR THOMAZ
Campinas/SP

Apita o trem na estação,
agitando os viajantes…
Nas malas, sonho, emoção
e os corações palpitantes.
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Glosa de
GISLAINE CANALES
Herval/RS, 1938 – 2018, Porto Alegre/RS

Alma do cosmos

MOTE:
Quando à noite, o infinito se levanta
à luz do luar, pelos caminhos quedos
minha tátil intensidade é tanta
que eu sinto a alma do cosmos nos meus dedos!
(Quarteto do soneto: AO LUAR)
Augusto dos Anjos
Cruz do Espírito Santo/PB, 1884 – 1914, Leopoldina/MG

GLOSA:
Quando à noite, o infinito se levanta
e surge em seus abraços com as estrelas,
eu sinto, dentro em mim, algo que canta,
que canta, então, feliz por poder vê-las!

Segue minha alma, assim, pura alegria,
à luz do luar, pelos caminhos quedos.
Vai respirando a Lua, que é poesia
e realizando os seus desejos ledos!

Essa beleza fascinante, encanta
e nesse doce sonho-encantamento,
minha tátil intensidade é tanta
que eu aspiro, a verdade do momento!

Faço da Lua, então, a minha amante,
repartindo com ela, meus segredos,
e, tão contente, fico neste instante,
que eu sinto a alma do cosmos nos meus dedos!
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Trova da Princesa dos Trovadores 
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Vai-se um dia... Vai-se um mês...
E eu te imploro, sem revolta,
se não regressas de vez,
esta noite, ao menos, volta!
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Hino de Rio Tinto/PB

De um córrego surgiu seu grande nome
Sobre as águas vermelhas a correr
Do engenho com início de ventura
Diz a história de um povo a crescer
Hoje estás de fronte erguida para o alto
Desfrutando seus sonhos desejados
Com orgulho bradamos em prece
Rio Tinto és o símbolo do nordeste.

Salve ó terra de um povo desejoso
Ao trabalho unidos a lutar
Levantando com impulso da coragem
Hoje vemos sua bandeira desfraldar. (Bis)

Hoje a árvore que te fez com grande impulso
Hoje és branco tal qual a sua flor
Homenagem sinceras desejamos
A quem teve seu início e te criou
Rio Tinto hoje vives na história
Reina sempre no céu o seu fulgor
Prende a brisa a segura luz da aurora
Rio Tinto és a fonte do amor.
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Trova de 
JOSÉ CORREIA FRANCISCO 
Ponta Grossa/PR

Dos tempos do nunca mais,
resta comigo a saudade
das lembranças imortais
dos tempos da mocidade.
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Soneto de 
CECIM CALIXTO
Pinhalão/PR (1926 – 2008) Tomazina/PR

Colheita da fé

É pouca chuva! E o sol sem dó castiga
a terra arada que semente espera.
A luta insana não lhe traz fadiga
e nem fenece a singular quimera.
.
A vocação não lhe sugere briga
e nem o ódio o coração verbera.
Chuva madrinha há de lhe dar a espiga
que no paiol o dissabor supera.
.
Vai à capela e de emoção se agita
e ao Lavrador que lá no céu habita
em pranto implora tudo a nova empreita.
.
E a chuva cai… tão silenciosa veio…
para alegria do celeiro cheio
e à gratidão pela integral colheita.
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Trova de
NILTON MANOEL DE ANDRADE TEIXEIRA
Ribeirão Preto/SP, 1945 – 2024

Tu que zombas da Saudade
que me faz tanto sofrer,
pagarás tua maldade:
de saudade hás de morrer...
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

O carreteiro atolado

Por caminho apaulado,
Mui barrento e mal gradado,
O seu carro conduzia,
Que trazia
De erva e feno carregado,
Inexperto carreteiro:
Por incúria o desgraçado
Num grandíssimo atoleiro
Enterrar deixou seu gado:
Era longe o povoado,
E não vinha caminheiro
Que o ajudasse e lhe acudisse:
De aflição desesperado,
Se maldisse!
E exclamou todo inflamado:
«Vem, ó Hércules sagrado,
Acudir-me pressuroso;
Pois que já sobre o costado
Sustentaste o céu formoso,
O teu braço vigoroso
Se me acode,
Este carro tirar pode
Do atoleiro.»
Deste modo se carpia
O carreiro,
Quando ouviu uma voz forte,
Que não longe lhe dizia
Desta sorte:
«Se quiseres que te valha,
Mandrião, lida, trabalha,
Examina donde vem
Esse estorvo que te encalha,
Ou detém:
Salta acima desse carro,
E tirando-lhe um fueiro,
De redor lhe arreda o barro;
Bota pedras no atoleiro,
Calça as rodas, e depois
Põe-te à frente, e pica os bois.»

Tudo fez o carreteiro
Que lhe tinham ensinado;
E ficou muito pasmado,
Quando viu surdir avante
O seu carro do lameiro:

«É milagre, exclamou logo,
Ouviu Hércules prestante
O meu rogo,
E evitou-me o precipício!»

Acabando
De falar apenas ia,
Outra voz, em tom mais brando,
Lhe dizia:
«Confiar na Providência
Para obter o que intentamos
Sem que os meios lhe ponhamos,
É demência.
Nada obtém quem não procura;
Que foi sempre a diligência
Mãe da sólida ventura.

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