sábado, 14 de setembro de 2024

Vereda da Poesia = 110 =


Trova de 
ALICE ALVES NUNES
Rio de Janeiro/RJ (1896 – ????)

Que toda pedra que rola
não cria limo, é verdade.
Toda alma que a dor imola
perde o limo da maldade.
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Sextilha de
JOSÉ LUCAS DE BARROS
Serra Negra do Norte/RN, 1934 – 2015, Natal/RN

Quando menino, eu queria
Ser homem, com rapidez,
Porém, contabilizando
Tudo que o tempo me fez,
Hoje morro de vontade
De ser menino outra vez!
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Trova de
LUCÍLIA A. T. DECARLI
Bandeirantes/PR

Apesar do sofrimento
ser o algoz daquele adeus,
lembrar de um feliz momento
traz alento aos dias meus.
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Soneto de
SÉRGIO BERNARDO
Rio de Janeiro/RJ

Surdez urbana

Os grilos cantam… Vibram no ar ruídos,
atrapalhando-os nesta hora absurda.
Apenas eu, talvez, lhes dê ouvidos…
Os grilos cantam, mas a tarde é surda.

O rush é um monstro abrindo as negras asas
na rua que enlouquece de repente.
Seus gritos vão entrando pelas casas.
(E os grilos cantam nos jardins da frente.)

Tem fim mais uma cotidiana luta,
com sons vibrando em enervante alarde.
Pessoas se atropelam…Não se escuta

Que os grilos cantam no cair da tarde…
Já fui do bando de homens intranquilos…
Troquei buzinas pela voz dos grilos.
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Trova de
FERNANDO PESSOA
Lisboa/Portugal (1888 – 1935)

A rosa que se não colhe,
nem por isso tem mais vida.
Ninguém há que te não olhe,
que te não queira colhida.
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Poema de
SEBASTIÃO FERREIRA MACEDO
Londrina/PR

Teatro

Corpo e cara, cara e corpo à sua frente
evoluindo, ora lenta, ora freneticamente
as mãos, o aceno, um traço
o corpo, o equilíbrio, o espaço
os pés, o palco, o chão
a plateia, os aplausos, o coração
como um garçom sem rosto
com uma taça, um prazer, um gosto
é a paixão, é a peça, é a cena
é a oficina, o tablado, é a arena
é a expressão, é a voz, é o gesto
é a emoção, é a energia, é o manifesto
cara e corpo, no toque, no sentido, na ação
no momento experimentado
no sugar da satisfação
é o fato, espancado, derramado, espremido
é o ato, lavrado, suado, servido
para ser mais exato, a porção exaurida
eis o TEATRO, uma criação
uma forma intensa de vida
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Trova Popular

Os males que me circundam
são como as ondas do mar:
atrás de uma vêm outras,    
sem nunca poder cessar.
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Poema de
MARIA LUA
Nova Friburgo/RJ

Vestígios

De longos caminhos andados
trago vestígios na alma…

Cicatrizes de ternuras perdidas
nos aflitos desamores …
Marcas de lágrimas contidas
em noites de ausências…
Rugas de desejos congelados
nos rituais absurdos…
Sombras de saudades doídas
em luares de silêncios…
Rastros de sonhos partidos
em esquinas de desencontros…
Pegadas de naufrágios loucos
nos mares do coração…

De longos caminhos andados
trago vestígios na alma…
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Trova de
LUIZ DAMO
Caxias do Sul/ RS

Pode até ser que não tenha
um adeus confortador,
nem ferida que não venha
carregada de uma dor.
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Poema de
NADIR GIOVANELLI
São José dos Campos/SP

Ser Poeta

Ser poeta é gostar da poesia.
É observar, apreciar a natureza.
Encantar-se, ouvir seu ruído com euforia,
um suave encontro de rara beleza.
O poeta sentindo a vida, a música, a melodia,
consegue com as palavras brincar...
Canta em versos, deixa livre
o que se sente ou pensa, para questionar!...
Desabafa sua dor sem medo de errar.
A dor dói, mas a dor do outro, ninguém 
nem mesmo o poeta, pode expressar.
Quero me alimentar, beber da poesia,
de sonhos, de fantasias, semear flores do bem. 
Antes de tudo agradecer meu viver! 
Orar como Anjo, pois a oração é poesia, 
de súplica ou de gratidão, um círculo de alegria.
Quero me sentir leve, livre para me inspirar...
Ser poeta é viver para amar!
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Trova Humorística de
THEREZINHA DIEGUEZ BRISOLLA
São Paulo/SP

Um banhista, ante os apelos,
tenta salvar o Manduca
agarrando os seus cabelos.
Só que ele usava peruca!
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Poema de
DARLY O. BARROS
São Francisco do Sul/SC, 1941 - 2021, São Paulo/SP

Inexplicavelmente

Se, no mundo físico
as células do meu corpo
são a expressão concreta
viva e pulsante
da matéria fluida, etérea
de que são feitos os sonhos;
se o incorpóreo
ganha corpo em mim
aglutina-se
funde-se;
se, numa simbiótica autofagia
nós dois nos suprimos
simultaneamente
devorando-nos
alimentando-nos
um do outro;
se não somos partes de um inteiro
mas o todo
um cerne
um núcleo
uno
inexplicavelmente indissolúvel
eximir-me como de suspeição
ao falar de sonhos?...
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Trova de 
AMILTON MACIEL MONTEIRO
São José dos Campos/SP

Velho trem me faz lembrar
os meus tempos de menino,
em que eu me punha a cismar
qual seria o meu destino...
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Poema de
RUBENS CAVALCANTI DA SILVA
Santo André/SP

Vamos!

Vamos repartir o pão
O chão, o céu

Vamos dividir o amor
A dor, o destino

Vamos cortar em vários pedaços
A tolerância, a esperança, o esplendor
E jogá-los ao povo que chora
Neste planeta

Vamos todos nos juntar
E depois de almoçar
Acabar com as guerras
Com as feras e com a feiura
Do preconceito.

Vamos?
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Trova de
NABOR FERNANDES PINHEIRO
Valença/RJ

Aquele que desejar
viver na paz do Senhor,
deve cumprir e aceitar
as normas do bom humor.
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Soneto de
ARLINDO TADEU HAGEN
Juiz de Fora/MG

Sonho cordial

Tenho na vida um sonho fraternal
que espero, em ânsias, vê-lo florescer
antes que Deus decrete o Seu final
na história pessoal do meu viver.

Sonho um mundo mais justo, mais leal,
onde a cordialidade possa ser
uma espécie de língua universal
na qual os homens possam se entender.

Que, independente às cores das bandeiras,
idiomas, línguas, crenças e fronteiras,
todos os homens possam dar-se as mãos.

Que prevaleçam sobre a Humanidade
os preceitos saudáveis da amizade,
e o mundo seja um mundo só de irmãos! 
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Trova Humorística de
NEWTON MEYER
Pouso Alegre/MG , 1936 – 2006

"Não sou empregado avulso"!
Adão pede a Deus arrego.
 "Sem essa de TÊJE EXPULSO,
e o seguro desemprego?"
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Soneto de 
ALBA HELENA CORRÊA
Niterói/RJ

Semeadura do bem

Imita o agricultor em tua vida;
verás o quanto é nobre semear.
Repara – sempre a terra agradecida,
com flores, frutos, vai recompensar.
.
O ser humano que na sua lida
espalha o bem sem disso se ufanar,
terá colheita farta, garantida,
e, lá, no céu, terá o seu lugar.
.
Sejamos, pois, fraternos lavradores;
sem esperar por glórias ou louvores,
plantemos, na existência, o bem-querer.
.
Qual árvores deixemos sombra amiga;
talvez o nosso esforço alguém bendiga
ao estender as mãos para colher!
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Trova de
A. A. DE ASSIS
Maringá/PR

Da mãe à filha querida: 
– Obrigada, meu bebê... 
Fui eu quem lhe dei a vida, 
mas minha vida é você!
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Pantum de
MIFORI
(Maria Inez Fontes Rico)
São José dos Campos/SP

Roda Viva

A suave brisa levando
o aroma da primavera...
Entre as folhagens soprando,
seu coração se acelera.

O aroma da Primavera,
as árvores farfalhando,
seu coração se acelera,
seus olhos claros brilhando!

As árvores farfalhando
folhas e flores incríveis,
seus olhos claros brilhando,
tão vivos e irresistíveis.

Folhas e flores incríveis
novos quadros vão formando,
tão vivos e irresistíveis
A suave brisa levando...
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Trova da Princesa dos Trovadores 
CAROLINA RAMOS
Santos/SP

Quem se agarra a uma quimera,
quem persegue uma utopia,
age como se soubera
que sem sonhos... morreria!
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Hino de São Bento/MA

São Bento meu doce berço de amor
São Bento minha vida te darei
No meu peito estarás onde for
Longe de ti saudades moverei

Tuas aves povoam minha alma
A esperança é o teu verde a tua luz
Tua terra é teu pão que me alimenta
O teu campo com flores me seduz

O saber é o ouro do teu povo
E a glória o futuro da cidade
Construíste com trabalho tua honra
Ilumina-te o sol da "Liberdade".
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Trova de 
JOSÉ MOREIRA MONTEIRO
Nova Friburgo/RJ

O meu cabelo grisalho 
que a marca do tempo fez
foram anos de trabalho
perseverança e honradez.
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Soneto de 
HÉRON PATRÍCIO
Ouro Fino/MG, 1931 – 2018, Pouso Alegre/MG

Colheita

É no riscar do solo, no trabalho
que torna o chão estéril em fecundo;
é na escolha do bom e melhor talho
que o arado irá ferir, de leve ou fundo…

É, do nascer do sol que seca o orvalho
até depois que o dia, moribundo,
busca da noite o fúnebre agasalho,
que o lavrador não pára, um só segundo…

E é, juntando esperanças às sementes,
com chuva certa e sol – sempre presentes -,
que a recompensa vem, mais que perfeita,

pois o plantio, para Deus, é prece
que tem resposta pronta… quando a messe
transborda no celeiro, na colheita!…
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Trova de
ARI SANTOS DE CAMPOS
Balneário Camboriú/SC

Vou partir mais uma vez:
não parei, desde menino,
dessa vida sou freguês,
mala e cuia é meu destino.
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Fábula em Versos de
JEAN DE LA FONTAINE
Château-Thierry/França, 1621 – 1695, Paris/França

O tesouro e os dois homens

Um pobretão, enfim, um desgraçado,
Que a miséria mais negra padecia,
Achando a vida um fardo bem pesado,
Quis pôr um termo à existência um dia.

Compra um metro de corda, arranja um prego,
E sem mais reflexão, sem mais conselho,
Quer realizar o seu desejo cego
Numa parede dum casebre velho.

Oscila enfim o prego; e às marteladas
Esboroa-se todo o pardieiro,
E do buraco feito com as pancadas
Saem rios e rios de dinheiro!

«Oh, céus! — exclama bem contente, enfim —
Sou rico!... Sou feliz!... Quero viver!
Ao diabo o suicídio, hoje para mim
Tudo são festas, hinos e prazer!...

Mas chega horas depois o avarento,
Que vinha contemplar o seu tesouro;
E encontra, em vez dos seus punhados de ouro,
O muro aberto onde atravessa o vento.

E enforca-se por fim o desgraçado
À corda que do muro vê pender!…
É pois bem certo o popular ditado:
Guardado está o bocado
Para quem o há de comer.

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