segunda-feira, 9 de julho de 2012

Adônes Alves Pereira / MG (Poemas Escolhidos)


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NOSSOS QUATORZE VERSOS

 Repara, meu amor, que estes quatorze versos
 traduzem, em sua modéstia e singeleza,
 toda a estória dos lindos sonhos (tão diversos!)
 que alicerçaram nossas vidas - com certeza.

 Outrora, entre nós, de tudo houve: idas e vindas...
 brigas... distanciamentos... reaproximações...
 As Leis do Amor - conciliadoras e bem-vindas -
 pra sempre harmonizaram nossos corações.

 Lendo estes versos, que são teus (ou de nós dois),
 verás um enamorado coração beijando
 esse teu bondoso coração... E, depois,

 se os releres bem mais alto (e estando tu a sós
 em tua alcova), imaginarás me escutando
 falar do nosso amor co´a tua própria voz!…

MEU SÍTIO MARUPIARA

 Amigo, amo um lugar mais lindo deste mundo:
 lugar sagrado... e de um rico céu profundo,
 onde a lua-cheia, com seu brilho bem risonho,
 vem me ´´ditando´´ cada verso que componho. 

 Ali o arvoredo é mais belo... e os passarinhos
 têm muito mais cuidado ao construir seus ninhos
 nos balouçantes galhos, repletos de flores,
 exaltando a vida... multiplicando amores!...

 No amplo pomar há frutos, aves, hortaliças...
 no varandão, mi´a vida é a dos ´´marajás´´...
 nele dou asas ao meu estro... e às preguiças!

 Amigo, esse céu terreno existe!... Tomara
 que tu me venhas visitar... E, então, verás,
 na bela Ituiutaba, o meu ´´MARUPIARA´´!

SOU SERESTEIRO!...

 Num célebre soneto de Camões,
 Jacó serviu Labão, por sete anos,
 alentando a maior das pretensões
 de ter Raquel - como era de seus planos!

 Também faria tudo que eu pudesse
 pra ter-te, um dia, como esposa minha...
 Serviria a teu pai, se ele quisesse,
 até fazer de ti uma rainha...

 Mas ele não me quer... e tu me odeias...
 (então, a ele não mais vou servir!)
 Fico eu aqui, co´as minhas luas-cheias

 e o meu violão - amigo e companheiro
 que sabe as minhas horas distrair.
 Jacó frustrado?!... não, sou SERESTEIRO!…

CLANDESTINO AMOR

 Devemos ocultar, meu bem, sem mais tardança
 (não somente do mundo, mas de todo o mundo),
 o nosso clandestino amor ´´sem aliança´´,
 que a humana hipocrisia diz ser ´´vagabundo´´.

 Seria até bom se pudéssemos, um dia,
 mostrar a todos esse amor, sem qualquer medo...
 Se pudéssemos externar nossa alegria,
 inda que um invejoso nos mostrasse o dedo.

 Porém, que fique tudo mesmo como está...
 vamos deixar que pensem: - É só amizade!...
 Deus sabe muito bem o que depois virá.

 Não posso te exaltar aos olhos do universo...
 mas como é difícil conter minha vontade
 de pôr teu nome neste derradeiro verso!…

ADEUS, ILUSÕES...

 Ouve esta bela canção que eu compus pra ti...
 partiu do meu coração - sempre mui contente,
 vibrante e gazeteiro, como um bem-te-vi,
 por entender que o teu amor é meu somente!

 Outras canções farei afora pela vida
 (pois não me faltarás com tua inspiração).
 O estro meu de ti depende, ó querida,
 e o meu cantar é mudo sem tua afeição!

 Inda que mude a vida os teus negros cabelos
 em luar de prata de belíssimos novelos...
 ...ainda assim hei de compor tuas canções!

 Mas, quando eu partir lá pro além, sem muitas flores,
 na minha campa tu verás - se lá tu fores -
 a derradeira delas - ´´Adeus, Ilusões´´!

SONHAR É BOM, MAS...

 Quando, ao largo, tu passas... assim tão airosa...
 e toda a rapaziada te olha, cobiçosa,
 fico a considerar: ´´tadinhas´´ dessas flores,
 que, preteridas, não me inspiram mais amores!

 Vou eu, também, atrás de ti, em pensamento,
 apreciando-te as formas de rara beleza...
 Para meus olhos é o maior deslumbramento
 e glória poder ver tão grande boniteza!

 Tal qual um visionário, sonho-te na cama...
 na cama... so nós dois... em plena intimidade,
 naquele ´´laissez-faire´´ mui próprio de quem ama!

 Que sonho lindo me inspirou tua passagem!
 Vamos sonhar - é bom - nos traz felicidade!
 (Té que a razão nos diga: - Deixa de bobagem!...)

SÃO TEUS ESTES MEUS VERSOS...

 São teus estes meus versos, minha doce amada!
 Traduzem eles toda a ânsia de um amor
 profundo e belo, como as curvas desta estrada 
 que vimos percorrendo, em sonho cismador...

 São teus estes meus versos, pois te dizem eles
 de toda esta ventura de que desfrutamos
 em nosso doce idílio e, muito mais, naqueles
 momentos de intimidade em que nos amamos!

 São teus estes versos... e em cada verso meu
 encontrarás teu puro e meigo coração
 de JULIETA, bem colado ao de ROMEU!

 São teus estes meus versos... lê-os...e relê-os...
 Mesmo estando a sós, não sentirás solidão:
 contigo estarão, sempre , estes versinhos meus!…

O CORAÇÃO TEM RAZÕES...

 Nunca ela me disse por que me abandonou...
 Por mais que eu perguntasse, ela não dizia...
 Falava: - Meu bem, entre nós tudo acabou!...
 (deixando-me angustiado... e de alma tão vazia!

 Terminou aí toda a nossa intimidade,
 que deu lugar a um formalismo cruciante:
 ´´Como vai?... tudo na maior tranquilidade?´´
 E a vida, indiferente, foi seguindo adiante!

 Mas o tempo... Ah, hoje (até que enfim) nos falamos.
 Grande remorso observei em seu olhar...
 e compreendi, então, o quanto nos amamos:

 ela, chorando muito, me pediu perdão...
 Apaixonadamente (e também a chorar)
 perdoei tudo... e lhe entreguei meu coração!...

Fonte:
Bernardo Trancoso. Sonetos 

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