A PRINCESA E O MENTIROSO
Enganou-me dizendo que tinha
Fazendas
Lavouras que administrava ele mesmo
Mas
Tudo que tinha
Era
Um gato
Em que calçava botas para não dar a entender que
Sua consciência era escrava
E cá estou eu
Dormindo com o
Nunca havido
Marquês de Carabás.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
E O RATO ROEU A ROUPA...
Todos viram a roupa
E o rei viu a roupa
(jamais tão bela as tivera antes)
Saiu orgulhoso com seu corpo
Curado de há tanto não ter ilusão
Só uma criança não viu
Dessas viciadas em televisão.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
O PATINHO FEIO
No primeiro quá-quá
Que disse
Já havia sido interrompido:
– É quém-quém, é quém-quém!
E foi informado que seu ovo
Nasceu quadrado
Quebrou do lado errado
E incomodava por ter quina
Todos os bichos do curral, da sala, do quintal
Eram-lhe muito diferentes
E tentou ser cada um deles, sem sucesso.
Soluçava...
Um dia sonhou com um cisne
Grannnnnnnnnnnnnnnnnnnde
Que sem nenhum soluço lhe dizia:
– Vai procurar a sua turma!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
O SAPO E A PRINCESA
O sapinho Croac-Croac
Aparece na janela
Toda noite a mesma coisa
Faz serenata pra ela
Malabares, se contorce
Na esperança de um beijo
Ela nada, vira e dorme
Fica adiando o desejo
O sapinho Croac-Croac
Sofre, finge realeza
Nem sabe que ela é sapa
Disfarçada de princesa.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
OS ARTISTAS
Os artistas são aqueles que veem
Chifre em cabeça de cavalo:
São deles os unicórnios.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
PARA A ENTEADA
O espelho, espelho meu
Dizia que qualquer uma
Era mais bela do que eu
E eu acreditei anos a fio
Nesse presente
Que a Madrasta me deu.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
PERSONAGENS
No Grande Hospício
Eu penso que eu sou eu
Tu pensas que tu és tu
Ela pensa que ela é ela
E ele pensa que ele é ele
Nós pensamos que nós somos nós
Vós pensais que vós sois vós
E eles pensam que eu sou louca.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
SOB OS DOSSÉIS
Toda noite morríamos mais um pouco
Fingindo que
Nosso cavalo era o unicórnio encantado:
Pangaré estava manco e deveria ser sacrificado.
Toda noite morríamos mais um pouco
Fingindo que
O beijo dele me despertava:
Eu era movida para o tédio e o nojo.
Toda noite morríamos mais um pouco
Fingindo que
Nosso castelo era por toda a eternidade encantado:
Eram rachaduras que formavam nosso teto.
Mas toda noite morríamos, toda noite insistíamos
Mais um pouco:
Porque não fomos
Felizes para sempre.
Enganou-me dizendo que tinha
Fazendas
Lavouras que administrava ele mesmo
Mas
Tudo que tinha
Era
Um gato
Em que calçava botas para não dar a entender que
Sua consciência era escrava
E cá estou eu
Dormindo com o
Nunca havido
Marquês de Carabás.
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E O RATO ROEU A ROUPA...
Todos viram a roupa
E o rei viu a roupa
(jamais tão bela as tivera antes)
Saiu orgulhoso com seu corpo
Curado de há tanto não ter ilusão
Só uma criança não viu
Dessas viciadas em televisão.
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O PATINHO FEIO
No primeiro quá-quá
Que disse
Já havia sido interrompido:
– É quém-quém, é quém-quém!
E foi informado que seu ovo
Nasceu quadrado
Quebrou do lado errado
E incomodava por ter quina
Todos os bichos do curral, da sala, do quintal
Eram-lhe muito diferentes
E tentou ser cada um deles, sem sucesso.
Soluçava...
Um dia sonhou com um cisne
Grannnnnnnnnnnnnnnnnnnde
Que sem nenhum soluço lhe dizia:
– Vai procurar a sua turma!
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O SAPO E A PRINCESA
O sapinho Croac-Croac
Aparece na janela
Toda noite a mesma coisa
Faz serenata pra ela
Malabares, se contorce
Na esperança de um beijo
Ela nada, vira e dorme
Fica adiando o desejo
O sapinho Croac-Croac
Sofre, finge realeza
Nem sabe que ela é sapa
Disfarçada de princesa.
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OS ARTISTAS
Os artistas são aqueles que veem
Chifre em cabeça de cavalo:
São deles os unicórnios.
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PARA A ENTEADA
O espelho, espelho meu
Dizia que qualquer uma
Era mais bela do que eu
E eu acreditei anos a fio
Nesse presente
Que a Madrasta me deu.
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PERSONAGENS
No Grande Hospício
Eu penso que eu sou eu
Tu pensas que tu és tu
Ela pensa que ela é ela
E ele pensa que ele é ele
Nós pensamos que nós somos nós
Vós pensais que vós sois vós
E eles pensam que eu sou louca.
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SOB OS DOSSÉIS
Toda noite morríamos mais um pouco
Fingindo que
Nosso cavalo era o unicórnio encantado:
Pangaré estava manco e deveria ser sacrificado.
Toda noite morríamos mais um pouco
Fingindo que
O beijo dele me despertava:
Eu era movida para o tédio e o nojo.
Toda noite morríamos mais um pouco
Fingindo que
Nosso castelo era por toda a eternidade encantado:
Eram rachaduras que formavam nosso teto.
Mas toda noite morríamos, toda noite insistíamos
Mais um pouco:
Porque não fomos
Felizes para sempre.
Fonte:
Adriane Garcia. Fábulas para adulto perder o sono. Curitiba, PR : Secretaria de Estado da Cultura : Biblioteca Pública do Paraná, 2013.
Adriane Garcia. Fábulas para adulto perder o sono. Curitiba, PR : Secretaria de Estado da Cultura : Biblioteca Pública do Paraná, 2013.
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