quarta-feira, 13 de outubro de 2021

Auta de Souza (Poemas Escolhidos) – 5

NA LUZ PERENE


Não te rendas aos golpes da amargura,
Nem conserves a mágoa no teu ninho;
A dor que atinge extremos de tortura
É refúgio real no torvelinho.

Colhe as flores da estrada com brandura,
E planta novos sonhos de carinho;
Socorre a inquietação que te procura,
E eis que a paz te enobrece no caminho.

Se te escasseia o amor à própria vida,
Descerás para a sombra, instante a instante,
Ao tributo fatal da morte infrene.

Mas se buscas sorrir e dar guarida
Ao cansado viajor de passo errante,
Renascerás, feliz, na Luz Perene!…
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OFERENDA

Nina irmã, devotada mensageira
Dos celeiros de amor da eterna aurora,
Deus te abençoe a luz que resplendora
Nos caminhos da vida verdadeira.

Vai, minha irmã, por este mundo afora,
Cura a lepra do mal e da cegueira,
Que as tuas mãos de santa e de enfermeira
Mitiguem toda a angústia de quem chora.

Nesta noite de paz e de esperanças,
Guarda no teu escrínio de lembranças
Nossas preces de dúlcida saudade...
Recebe, nas celestes primaveras,
Nossas rosas votivas de outras eras,
Nossos lírios de amor da eternidade!
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ORAÇÃO DE HOJE

Hoje, Senhor, resplende novo dia,
Que deveres e júbilos condensa,
Nova esperança luminosa e imensa
Renascendo da noite espessa e fria...

Dá-me trabalho por excelso guia,
Ensina-me a servir sem recompensa
E a fazer do amargor de cada ofensa
Uma prece de amor e de alegria.

Que eu Te veja na dor com que me elevas
Por flamejante sol, rompendo as trevas,
Ante a beleza do celeste abrigo!

E que eu possa seguir na caravana
Dos que procuram na bondade humana
A glória oculta de viver contigo.
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PÁGINA DE FÉ

Alma cansada e triste, alma sincera,
Se a dor por noite em lágrimas te alcança,
Acende em prece o lume da esperança,
Onde o grilhão da mágoa te encarcera!

Ante a sombra que assalta, esfera a esfera,
Se surge a ofensa por sinistra lança,
Na tormenta do mal que investe e avança,
Perdoa, silencia, ajuda, espera!...

Esquecida na cela da amargura,
Não te revoltes contra a senda escura.
Ergue-te e serve, embora torturada...

Luta, chora, padece, mas confia,
Das trevas nasce a bênção de outro dia
Nas promessas de nova madrugada!…
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PENSA

Antes de maldizer a própria sorte,
Pensa nos tristes de alma consumida,
Que vagueiam nas lágrimas da vida,
Sem migalhas de amor que os reconforte.

Que a retaguarda escura nos exorte!
Contemplemos a noite indefinida
Dos que seguem sem pão e sem guarida,
Entre a dor e a aflição, a treva e a morte!...

Pensa e traze ao que choram no caminho
A fatia de luz do teu caminho,
Pelas mãos da bondade, terna e boa...

E encontrarás no pranto da amargura
A fonte cristalina que te apura
E a presença do céu que te abençoa.

Fonte:
Francisco Cândido Xavier. Auta de Souza. Ebook obtido na Biblioteca Espírita.

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