sexta-feira, 15 de outubro de 2021

António José Barradas Barroso (Poemas Escolhidos) 1

AINDA MAIS

(À minha mulher Olívia)
 
Busquei, querido amor, lá nesses céus,
A luz que me dá vida, que me guia,
Busquei a sua origem, dia a dia,
Até que a encontrei nos olhos teus.
 
Ergui, bem alto, a voz, orei a Deus
E pedi-Lhe, repleto de alegria,
Que as emoções que, junto a ti, sentia,
Fossem, para sempre, os sonhos meus.
 
E se o amor me diz que a busca é finda,
Meu coração desperta em mil natais
Cada um brilhando em cor tão linda,
 
Que os nossos segredos serão iguais:
- Tu dizes que me queres mais ainda!
- Eu juro que te quero ainda mais!
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AMORES DE VERÃO
 
Tardes de estio do meu Alentejo
Com moças belas, na rua, passando,
Vagos olhares, rubor de desejo,
E no meu coração as ia guardando.
 
E iam, e vinham, se tinham ensejo,
E eu, mudo e quedo, amava-as, olhando
O ar furtivo que me atirava um beijo
Perdido nas pedras que iam pisando.
 
E na tarde morna, cálida, amena,
Nasciam amores cheios de pena
P’los que morriam no mesmo momento,
 
Ao ver as moças passando, maldosas,
Co’o lenço escondendo as faces de rosas
E risos enchendo o meu pensamento.
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INTEMPÉRIE
 
Fui à janela fechada,
Não vi noite nem vi dia,
Não vi tarde, não vi nada,
Olhei pra fora, chovia.
 
Andava na rua, molhado,
Vendo a janela vazia,
Senti-me desamparado,
Olhei pra dentro, chovia.
 
Nem o guarda chuva aberto,
Da tormenta, protegia,
Quis ir longe, fiquei perto,
Olhei pro lado, chovia.
 
Vendo o céu tão pardacento,
Perguntei o que haveria,
Nem me respondeu o vento,
Olhei pra cima, chovia.
 
Fiquei parado, na rua,
Sem me importar se queria
Ter o sol ou ter a lua,
Olhei pra baixo, chovia.
 
Ilusões e sonhos meus
Já não me dão alegria,
Sejam nobres ou plebeus,
Por todo o lado chovia.
 
Terminou tanto aguaceiro
Que culminou, por inteiro,
No sol quente que chegou.
 
Agora, veio a acalmia,
Olhei tudo, não chovia,
E a minha alma já secou.
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NOITE DE SOLIDÃO
 
O luar já desceu, na noite escura,
mas nada me faz companhia.
Acabou-se a luz do dia,
e o silêncio é uma constante.
Só vislumbro a moldura
onde o teu retrato está colocado,
tateio a cama, a meu lado,
e nada sinto, nada,
nem o teu beijo de ternura,
nem uma carícia de amante
ou a tua palavra enamorada.
Escuto, lá fora, o vento
assobiar, como um lamento,
e a escuridão que me rodeia
prende-me nos laços
da enorme saudade
de que minha alma está cheia.
Falta-me o calor dos teus abraços
que me fazia pulsar o coração,
com profunda ansiedade,
com a meiguice e a candura
de cada beijo, em cada batida.
E a manhã me devolverá a vida
quando teus lábios, com ternura,
findarem a longa noite de solidão!...
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TE AMO ETERNAMENTE
 
 Andei perdido por vales e montes
seguindo sempre a direção dos ventos,
tentando vislumbrar os horizontes,
procurando a razão dos pensamentos.
 
O amor passou, por mim, tão de fugida,
como estrela cadente em céu escuro,
que não pude, ou não quis dar-lhe guarida,
e não lhe abri as portas do meu muro.
 
Embrenhei-me em trabalhos, sem um fim,
cansei meu corpo fraco, sem pensar
e quando, finalmente, olhei pra mim,
só pude ver deserto sem palmar.
 
Um dia, te encontrei e, com doçura,
senti meu peito arfar no mesmo instante,
como se iniciasse uma aventura
com o coração sendo dominante.
 
E então, o amor surgiu com força tal,
se evadiu da prisão, rompeu corrente,
gritou, ao mundo inteiro, num sinal:
- Amor, meu amor, te amo, eternamente!
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António José Barradas Barroso, nome literário: Tiago, nasceu em Vila Viçosa, berço natal de Florbela Espanca, em 1934. Ingressou no Instituto Militar dos Pupilos do Exército, onde permaneceu 7 anos em regime de internato, tendo transitado para a Academia Militar (antiga Escola do Exército) para frequentar o curso de Administração Militar. Hoje, Coronel do Exército, reformado.

A inclinação para a poesia foi-lhe incutida pelo seu antigo professor de português, de quem guarda saudosa recordação. A sua vida profissional, com constantes deslocações, não lhe permitiu debruçar-se sobre a poesia, com maior disponibilidade, como gostaria. Assim, só quando regressou de Moçambique, em 1974, dedicou-se de alma e coração, com mais tempo e atenção, sobre um tema de que tanto gosta, mas despreocupadamente, guardando tudo o que ia escrevendo nos mais diversos suportes, desde grandes folhas de jornais a pequenos bilhetes de autocarro.

Em 2007, começou a enviar alguns poemas para concursos e jogos florais, tendo, durante cinco anos, obtido cerca de 140 prêmios, desde vencedores até menções honrosas, em Portugal, Brasil, Itália e República Dominicana.  Possui poemas em centenas de cirandas e antologias.

Membro correspondente da Academia Cachoeirense de Letras, em Cachoeiro do Itapemirim; Academia Rio-Grandina de Letras em Rio Grande e sócio do Clube dos Poetas Livres, em Florianópolis, todos no Brasil. Membro da AVSPE – Academia Virtual Sala de Poetas e Escritores; “Confrades da Poesia” – Amora / Portugal; também associado do Clube da Simpatia, em Olhão.

Reside em Parede/Portugal.
 
Publicações:
“Memórias do tempo que passa”, “Devaneios de Outono” e “Último fôlego”.


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