terça-feira, 19 de outubro de 2021

Prof. Garcia (Caderno de Trovas) 2

Com meu cinzel afiado,
e o martelo do desgosto,
esculpi, amargurado,
a solidão do meu rosto!
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Da sorte, nunca lamente.
Ame a vida com seus ais,
que a sorte de muita gente
cresce em falsos pedestais!
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Dizem que a justiça é cega.
Não creio, é falsa premissa;
cega, àquele que se apega,
aos infiéis da justiça!
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Em meio às indiferenças,
dar bons exemplos preciso,
jogando fora as ofensas
dentro da fonte do riso!
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Em silêncio, a tua rede,
com saudade, chora tanto,
que, do armador da parede,
respingam gotas de pranto!
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Enquanto, tu buscas rindo,
a paz do azul desse mar...
Eu busco esse abismo infindo
do verde do teu olhar!
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Eu amo as gotas serenas
do orvalho que beija a flor,
porque sei que são apenas
serenas gotas de amor!
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Eu ouço em tuas demoras,
vozes de outros rituais...
Na ressonância das horas
do martelar dos meus ais!
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Meu sertão não tem floresta,
é pobre o pó deste chão...
Mas esta paz que me empresta
me faz amar meu sertão!
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Não reclamo ante os escolhos,
nas trevas, mantenho a calma...
Quem tirou-me a luz dos olhos,
pôs luz e brilho em minha alma!
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Nesse casebre sem dono.
tive uma infância tão boa;
mãe, foi rainha sem trono,
papai, um rei sem coroa!
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No amor, há tanta afeição,
na família, há tanto bem...
Que os filhos dos filhos, são
netos, e filhos também!
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No mosteiro abandonado,
na solidão da clausura,
o silêncio é tão calado
que à solidão se mistura!
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Nos momentos mais tristonhos,
das ilusões mal sonhadas...
Sou tropeiro dos meus sonhos
tangidos nas madrugadas!
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Nosso amor teve a mistura
na dose certa, e depois...
Fomos viver, na ternura,
do eterno amor de nós dois!
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O mundo inteiro se arrasta,
sofre, lamenta e padece;
mas a crise não se afasta,
e em todo canto ela cresce.
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Pobreza dói mas não mata,
não faz vergonha a ninguém;
pobre, é quem tem ouro e prata,
mas quer ter mais do que tem!
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Por cicatrizes, marcado,
teu rosto guarda a virtude,
de um riso, lindo, poupado,
do tempo da juventude!
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Por longa que seja a espera,
calma, que tudo se alcança!
Enquanto houver primavera
não morre a flor da esperança!
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Quando acenaste, à distância,
vi, no teu gesto tristonho,
que um sonho de nossa infância
foi simplesmente, outro sonho!
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Se a avareza te angustia,
e a humildade te seduz...
Neste Natal que te guia,
tu serás luz de outra Luz!
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Sê feliz na caminhada,
esquece o bem que te fiz...
Nem sempre o fim de uma estrada
é o fim de quem foi feliz!
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Sei que a velhice me alcança;
e, entre uns sins e outros senões...
Enquanto houver esperança
vou cultivando ilusões!
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Toda Trova é linda flor,
flor que perfuma e inebria,
se a Trova é rosa de amor,
sou canteiro de poesia!

Fontes:
Francisco Garcia de Araújo. Cantigas do meu cantar. Natal/RN: CJA Edições, 2017.
Professor Garcia. Poemas do meu cantar. Natal/RN: Trairy, 2020.
Livros enviados pelo trovador.

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