domingo, 24 de outubro de 2021

Jaqueline Machado (Aruanda entre nós) 5 – Omolu-Obaluaê


Meu Omolu é um cientista...
Ele reside no além,
vai de conquista em conquista,
sempre fabricando o bem... 

Num certo palácio, de um reino distante... em um tempo longínquo, houve uma grande festa, programada pelo Criador do mundo, o rei Oxalá. Para a ocasião, ele havia preparado uma mensagem em forma de revelação. Muitos Orixás foram convidados para abrilhantar a nobre celebração. Mas Omolu ficou de fora da lista de convidados, espiando o evento entre as frestas das portas e das janelas do palácio. Ele tinha varíola, e a sua pele era coberta de feridas. Sua aparência, para muitos, causava repugnância. Sabendo disso, ele vivia a se esquivar de todos. No entanto, por dentro, Omolu não era diferente dos outros Orixás, e por isso, a sua vontade de participar da festa era imensa.

Ogum, era guia de guarda e, em certa altura da celebração, se ausentou para fazer a sua rotineira ronda em torno da mansão. Durante o trajeto, flagra Omolu a espiar a alegre movimentação interna. Compadecido com a angústia do amigo, Ogum o cobre dos pés à cabeça com vestes de palha, e o convida a entrar. Mesmo assim, ninguém o convida para dançar.

Observando o dilema do convidado de Ogum, Iansã, também conhecida como Oyá, senhora dos raios e dos sete ventos, que na ocasião vestia um lindo vestido acobreado, o convida para dançar. O seu bailar toma a forma de vento. E essa ventania abençoada, descobre Omolu que, repentinamente, vê suas feridas se transformarem em pipocas que se espalham pelo chão. Enquanto isso, ele se transforma no belo e jovem Obaluaê – sua versão interior e sorri. Iansã sorri ainda mais e os dois tornam a dançar alegremente.

- Bela e querida, obrigado! – diz ele encantado com o nobre gesto de Oyá.

- Um Orixá como você não pode ficar excluído – Você é o Deus que possui a chave da libertação das moléstias entre os mortais. Além do mais, cuida muito bem dos cemitérios e dos mortos.

- Ó, nobre e valiosa amiga, como sinal de minha gratidão, a partir de hoje, lhe concederei poder sobre os mortos. Com seu encanto, os dominará, conduzindo -os aos seus destinos.

- Quanta honra – diz ela pausando a dança por um momento – Mas saiba que não fiz nada demais, todos precisam aprender a valorizar a essência das coisas, é no interior dos corações que reside a verdadeira beleza. A aparência é vã e momentânea, mas o que se tem por dentro, se for bom, vive para sempre.

Ogum, aplaude a cena e, em sinal de respeito e compreensão à grande mensagem da noite, os demais convidados também aplaudem. E reverenciam os amigos que não param de festejar.

Iansã, com seus imensos olhos azuis parece flutuar de felicidade. Nanã, mãe de Obaluaê, chora cristalinas lágrimas de emoção. E o erê Pipoquinha não parava de bagunçar, atirando as pipocas nos convidados da festa. Por fim, ao entenderem a mensagem, em que a maioria pensava se tratar de outro assunto, todos entoaram o hino do reino de Oxalá:

Refletiu a luz divina com todo seu esplendor.
Vem do reino de Oxalá, onde há paz e amor.
Luz que refletiu na terra, luz que refletiu no mar.
Luz que veio de Aruanda para tudo iluminar.
Umbanda é paz e amor, um mundo cheio de luz.
É a força que nos dá vida, e a grandeza nos conduz.
Avante filhos de fé, como a nossa lei não há...
Levando ao mundo inteiro a Bandeira de Oxalá.


Fonte:
Texto enviado pela autora.

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