domingo, 24 de outubro de 2021

Jessé Nascimento (O Lorde)

Aparentava entre 70 e 75 anos. Ou pouco mais. Alto, charmoso, rosto sem rugas, cabelos brancos, com uma calvície já avançando pela testa. Elegantemente vestido num sóbrio e bem talhado terno.

Andar majestoso, ereto, mais parecendo um lorde, ia abrindo caminho e provocando admirações. Todos o acompanhavam com o olhar ou voltavam-se para trás a fim de observá-lo melhor.

Quando o vi mais de perto, atravessava o sinal de uma das ruas do Centro do Rio de Janeiro. Dos carros e ônibus parados, cabeças moviam-se em sua direção. Não me lembrava de seu rosto como o de alguém conhecido ou famoso. Político? Artista? Não, não. Não o conhecia. Talvez ninguém o conhecesse. Mas ele despertava o interesse de quantos o viam.

Imponente, esguio, chegou ao outro lado da calçada e continuou sua majestosa caminhada por esquinas e ruas, até perder-se por entre prédios e quarteirões. Acompanhei-o com o olhar até não conseguir mais avistá-lo. E só então reiniciei o meu trajeto.

A tarde, meio ensombrecida por algumas nuvens, tinha escondidos o sol e o azul celeste. Mas não havia sequer ameaça iminente de chuva. Uma leve brisa suavizava o mormaço e  amarfanhava com suavidade os meus cabelos.

Aquele senhor, alvo de tantas atenções, provocara uma inusitada cena naquela tarde carioca: impoluto e elegante e, por certo distraidamente, caminhava com o guarda-chuva aberto.

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