Minha avó dizia: "– Ninguém morre de amor..."
As avós sabem de tudo, sábias conselheiras! Mas nesse momento, discordo, pois estou sim, morrendo de amor...
Volto no tempo... Aquele inverno parecia mais gelado que os anteriores. As imagens tornam-se nítidas em minha mente...
A frente da lareira, meus eternos companheiros, o bule de café quentinho, para aquecer meu coração cansado e infeliz e meu diário, leal amigo e confidente de todas as horas.
Quantas e quantas noites fiquei ali, vendo o fogo tremulando, choramingando e às vezes, até ouvindo seu sussurrar, seus lamentos...
Da varanda olhava o mar agitado. A noite ele ficava mais nervoso, contrastando com a serenidade da lua, iluminando aquela água que muitas vezes me chamava a adentrar em seus mais profundos perigos.
O vento frio e cortante fazia com que eu voltasse ao meu refúgio, sem coragem para enfrentar a vida, quiçá o mar...
E meu diário me ouvia todas as noites...
Tantas cartas escrevi…
Cartas de amor ao meu amor, suplicando que voltasse, explicando que o mundo seria tão lindo, que a vida voltaria a fazer sentido, se ele estivesse ao meu lado,
Havia também os momentos de revolta... E eu escrevia toda minha inquietante amargura, demonstrando meu orgulho, meu amor próprio... Mas eu o perdoaria... Bastaria ele voltar, para meu jardim florescer e toda tristeza acabar.
E o ritual se repetia todas as noites...
Escrevia, lia, relia, todas aquelas cartas que não saíam do meu diário, todo aquele sentimento, aquela mistura de emoções, desejos, anseios, todo aquele vazio...
Uma tarde, resolvi caminhar na areia. Necessitava daquele vento em meu cabelo, daquele cheirinho de maresia em minha pele.
Absorta em meus pensamentos, de repente tomei um sobressalto, pois pressenti a presença de alguém ao meu lado. Mas o susto logo passou, pois o senhor que ali estava tinha um semblante tranquilo e um olhar protetor.
“Boa tarde, minha jovem! O quê uma garota bonita faz nessa praia, em pleno inverno?"
E seu sorriso foi algo tão cativante, tão acolhedor... que qualquer receio ou temor deixou de existir.
"- Estou passando uma temporada na vila."
E ficamos ali, conversando até o sol se por. Todas as tardes nos encontrávamos na mesma hora na praia e conversávamos por horas.
O Sr. Guido era um ex-diplomata, havia perdido sua amada esposa, Isadora, vítima de um mal incurável.
Em um mês estávamos muito amigos. Durante nossos encontros caminhávamos e conversávamos sobre vários assuntos, principalmente sobre nossas vidas. Ele me dizia como foi feliz com sua amada Isadora e eu lhe dizia o quanto sofria por ter sido traída pelo meu grande e único amor.
Em um desses nossos encontros, o convidei para um chá e tivemos uma noite agradabilíssima. O Sr. Guido chegou com flores e um livro que até hoje fica na cabeceira de minha cama. Um livro de poesias que ele havia feito para sua esposa.
Naquela noite entendi o quanto a vida é maravilhosa e saí daquele labirinto em que me encontrava, escrevendo a derradeira
Carta de Despedida
Se você soubesse
Quantos rabiscos,
Desabafos e lamentações...
Se você soubesse
Como as noites
São escuras sem você,
Sem seu corpo,
Sem sua respiração junto à minha...
Se você soubesse
O que sinto,
Se você soubesse
A enorme lembrança que restou...
Se você soubesse
O vazio que em mim ficou.
Se você soubesse...
Não deixaria tudo acabar.
Nunca entreguei nenhuma das cartas de amor que escrevi. Nunca mais o vi, sequer ouvi falar que rumo sua vida tomou.
Ainda tenho meu diário, onde guardo lembranças e lindas recordações. Ainda fico todas as noites na varanda, sentindo o frescor de um novo dia, sempre pronta a novas oportunidades e possibilidades.
O fogo da lareira ainda me aquece...
E sim, minha avó estava correta: Ninguém morre de amor.
As avós sabem de tudo, sábias conselheiras! Mas nesse momento, discordo, pois estou sim, morrendo de amor...
Volto no tempo... Aquele inverno parecia mais gelado que os anteriores. As imagens tornam-se nítidas em minha mente...
A frente da lareira, meus eternos companheiros, o bule de café quentinho, para aquecer meu coração cansado e infeliz e meu diário, leal amigo e confidente de todas as horas.
Quantas e quantas noites fiquei ali, vendo o fogo tremulando, choramingando e às vezes, até ouvindo seu sussurrar, seus lamentos...
Da varanda olhava o mar agitado. A noite ele ficava mais nervoso, contrastando com a serenidade da lua, iluminando aquela água que muitas vezes me chamava a adentrar em seus mais profundos perigos.
O vento frio e cortante fazia com que eu voltasse ao meu refúgio, sem coragem para enfrentar a vida, quiçá o mar...
E meu diário me ouvia todas as noites...
Tantas cartas escrevi…
Cartas de amor ao meu amor, suplicando que voltasse, explicando que o mundo seria tão lindo, que a vida voltaria a fazer sentido, se ele estivesse ao meu lado,
Havia também os momentos de revolta... E eu escrevia toda minha inquietante amargura, demonstrando meu orgulho, meu amor próprio... Mas eu o perdoaria... Bastaria ele voltar, para meu jardim florescer e toda tristeza acabar.
E o ritual se repetia todas as noites...
Escrevia, lia, relia, todas aquelas cartas que não saíam do meu diário, todo aquele sentimento, aquela mistura de emoções, desejos, anseios, todo aquele vazio...
Uma tarde, resolvi caminhar na areia. Necessitava daquele vento em meu cabelo, daquele cheirinho de maresia em minha pele.
Absorta em meus pensamentos, de repente tomei um sobressalto, pois pressenti a presença de alguém ao meu lado. Mas o susto logo passou, pois o senhor que ali estava tinha um semblante tranquilo e um olhar protetor.
“Boa tarde, minha jovem! O quê uma garota bonita faz nessa praia, em pleno inverno?"
E seu sorriso foi algo tão cativante, tão acolhedor... que qualquer receio ou temor deixou de existir.
"- Estou passando uma temporada na vila."
E ficamos ali, conversando até o sol se por. Todas as tardes nos encontrávamos na mesma hora na praia e conversávamos por horas.
O Sr. Guido era um ex-diplomata, havia perdido sua amada esposa, Isadora, vítima de um mal incurável.
Em um mês estávamos muito amigos. Durante nossos encontros caminhávamos e conversávamos sobre vários assuntos, principalmente sobre nossas vidas. Ele me dizia como foi feliz com sua amada Isadora e eu lhe dizia o quanto sofria por ter sido traída pelo meu grande e único amor.
Em um desses nossos encontros, o convidei para um chá e tivemos uma noite agradabilíssima. O Sr. Guido chegou com flores e um livro que até hoje fica na cabeceira de minha cama. Um livro de poesias que ele havia feito para sua esposa.
Naquela noite entendi o quanto a vida é maravilhosa e saí daquele labirinto em que me encontrava, escrevendo a derradeira
Carta de Despedida
Se você soubesse
Quantos rabiscos,
Desabafos e lamentações...
Se você soubesse
Como as noites
São escuras sem você,
Sem seu corpo,
Sem sua respiração junto à minha...
Se você soubesse
O que sinto,
Se você soubesse
A enorme lembrança que restou...
Se você soubesse
O vazio que em mim ficou.
Se você soubesse...
Não deixaria tudo acabar.
Nunca entreguei nenhuma das cartas de amor que escrevi. Nunca mais o vi, sequer ouvi falar que rumo sua vida tomou.
Ainda tenho meu diário, onde guardo lembranças e lindas recordações. Ainda fico todas as noites na varanda, sentindo o frescor de um novo dia, sempre pronta a novas oportunidades e possibilidades.
O fogo da lareira ainda me aquece...
E sim, minha avó estava correta: Ninguém morre de amor.
Fonte:
Solange Colombara. Dançando com as palavras. SP: Futurama, 2018.
Livro enviado pela autora.
Solange Colombara. Dançando com as palavras. SP: Futurama, 2018.
Livro enviado pela autora.
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