Há muito tempo, vivia um pobre homem cujo nome verdadeiro foi esquecido. Era velho e pequenino, e tinha o rosto enrugado; por isso, os amigos o chamavam de Sr. Vinagre.
Sua mulher também era velha e pequenina, e moravam os dois numa cabana, velha e pequenina, nos fundos de um pequeno lote, há muito abandonado.
Um dia, enquanto varria a cabana, a Sra. Vinagre usou tanta força que a porta, velha e pequenina, desabou. Ela ficou assustada. Saiu correndo da casa e gritou:
- John! John! A casa está desabando. Vamos ficar sem um teto para nos proteger.
O Sr. Vinagre aproximou-se da casa e olhou para a porta. Em seguida, disse:
- Não se preocupe, querida. Vista seu abrigo e vamos partir em busca da sorte.
A Sra. Vinagre colocou então um chapéu, e o Sr. Vinagre pôs a porta sobre a cabeça, e eles partiram.
Caminharam sem parar o dia inteiro. À noitinha, chegaram a uma floresta escura, de árvores muito altas.
- Este lugar dá um bom abrigo - disse o Sr. Vinagre.
Pôs-se a subir numa árvore, e lá improvisou uma cama, encaixando a porta sobre os galhos. A Sra. Vinagre subiu em seguida, e deitaram-se os dois.
- É melhor ficarmos sobre a casa do que ela sobre nós - disse ele. Mas a mulher já dormia profundamente, e não o escutou.
Escureceu rapidamente, e o Sr. Vinagre também caiu no sono. À meia-noite, ele foi acordado por um barulho lá embaixo. Ergueu-se, e ficou prestando atenção.
– Aqui, Jack, aqui estão cinco moedas para você – disse um deles – aqui, Bob, três moedas para você.
O Sr. Vinagre olhou para baixo. Viu três homens sentados ao chão. Havia uma lamparina acesa perto deles.
- Ladrões! - gritou assustado, e pulou para um galho mais alto.
Ao pular, desencaixou dos galhos a porta, que caiu no chão com estardalhaço, e a Sra. Vinagre foi junto.
Os ladrões tomaram tamanho susto que saíram correndo atabalhoadamente, e desapareceram na floresta escura.
- Machucou-se, querida? - perguntou o Sr. Vinagre.
A mulher respondeu: - Eu, não! Mas quem haveria de dizer que a porta iria desabar no meio da noite? E temos aqui uma bela lamparina acesa, a iluminar nosso recanto.
O Sr. Vinagre desceu da árvore. Pegou a lamparina e fitou-a. Mas o que seriam aquelas coisinhas brilhantes espalhadas pelo chão?
- Moedas de ouro! Moedas de ouro! - gritou. Pegou uma delas e olhou-as contra a luz.
- Encontramos nossa sorte! Encontramos nossa sorte! - gritou a Sra. Vinagre. E começou a pular de alegria.
Puseram-se a juntar o ouro. Haviam cinquenta moedas; eram todas brilhantes, amarelas e bem redondinhas.
- Que sorte a nossa! - disse o Sr. Vinagre.
- Que sorte a nossa! - disse a Sra. Vinagre.
Os dois sentaram-se ao chão e ficaram olhando para o ouro até o amanhecer.
A Sra. Vinagre disse, então: - Bem, vamos fazer o seguinte: vá até a cidade e compre uma vaca. Vou tirar o leite para fazer manteiga, e nada mais nos faltará.
- É uma boa ideia - disse o Sr. Vinagre.
E logo partiu, ficando a mulher a esperá-lo à beira da estrada.
O Sr. Vinagre passeou pela rua da cidade, à procura do que comprar. Depois de algum tempo, chegou um fazendeiro com uma vaca gorda e bonita.
- Ah, se essa vaca fosse minha - disse o Sr. Vinagre -, eu seria o homem mais feliz do mundo.
- É uma vaca muito boa - disse o fazendeiro.
- Bem - disse o Sr. Vinagre -, dou-lhe estas cinquenta moedas de ouro por ela.
O fazendeiro sorriu e estendeu a mão para receber o dinheiro.
- Pode ficar com ela - disse ele. - Gosto de agradar aos amigos.
O Sr. Vinagre tomou do cabresto e saiu com ela, passeando para cima e para baixo na rua.
- Sou o homem mais sortudo do mundo, pois veja só como todos olham para mim e minha vaca.
Porém, no fim da rua havia um homem tocando gaita de foles. Ele parou para ouvi-lo. Doce melodia!
- Ora, é a música mais bela que já ouvi - disse o Sr. Vinagre. - E veja só como as crianças aproximam-se dele, e jogam-lhe moedinhas! Se essa gaita fosse minha, eu seria o homem mais feliz do mundo.
- Pois vendo-a, então - disse o gaiteiro.
- Vende, mesmo? Mas não tenho dinheiro; dou-lhe, portanto, esta vaca em troca.
- Pode ficar com a gaita - disse o gaiteiro. - Gosto de agradar aos amigos.
O Sr. Vinagre pegou a gaita de foles, e o gaiteiro foi-se embora levando a vaca consigo.
- Vamos ouvir um pouco de música - disse o Sr. Vinagre. Todavia, por mais que tentasse, não conseguia tocar. Todo som que produzia não passava de ruídos dissonantes.
As crianças, em vez de atirar-lhe moedinhas, riam-se dele. Fazia frio e, enquanto tentava tocar o instrumento, seus dedos enregelavam-se. Ficou pensando que seria melhor ter ficado com a vaca.
Mal partira de volta para casa, passou por ele um homem com luvas nas mãos.
- Ah, se essas lindas luvas fossem minhas - disse ele -, eu seria o homem mais feliz do mundo.
- Quanto pretende pagar por elas? - perguntou-lhe o homem.
- Não tenho dinheiro, mas dou-lhe esta gaita de foles - respondeu o Sr. Vinagre.
- Bem - disse o homem -, pode ficar com elas, pois gosto de agradar aos amigos.
O Sr. Vinagre entregou o instrumento e colocou as luvas nas mãos enregeladas.
- Que sorte a minha! - ia dizendo a caminho de casa.
Logo suas mãos estavam aquecidas, mas a estrada era ruim e a caminhada, difícil. Estava muito cansado, quando chegou ao sopé de uma colina íngreme.
- Como conseguirei chegar lá em cima? - disse ele.
Naquele momento, surgiu um homem descendo a colina em sua direção. Trazia na mão um cajado, que o ajudava a descer.
- Meu amigo - disse o Sr. Vinagre -, se eu tivesse esse cajado para me ajudar a subir a colina, seria o homem mais feliz do mundo.
- Quanto pretende pagar por ele? - perguntou o homem.
- Não tenho dinheiro, mas dou-lhe este par de luvas bem quentes - disse o Sr. Vinagre.
- Bem - disse o homem -, pode ficar com ele, pois gosto de agradar aos amigos.
As mãos do Sr. Vinagre estavam bastante aquecidas. Entregou, então, as luvas para o homem, e pegou o cajado para ajudar na caminhada.
- Que sorte a minha! - dizia ele, enquanto esforçava-se para concluir a subida.
No topo da colina, parou para descansar. Mas enquanto pensava na sorte que tivera durante o dia inteiro, ouviu alguém gritar seu nome. Levantou o olhar e avistou apenas um papagaio verde, pousado num galho de árvore.
- Sr. Vinagre! Sr. Vinagre! - dizia o pássaro.
- Pois não? - indagou o Sr. Vinagre.
- Que estupidez! Que estupidez! - respondeu o pássaro. - O senhor partiu em busca da sorte, e a encontrou. Depois trocou-a por uma vaca, e esta por uma gaita de foles, e a gaita por um par de luvas, e as luvas por um cajado que poderia ter apanhado em qualquer canto da estrada. Ha! ha! ha! ha! ha! Que estupidez! Que estupidez!
O Sr. Vinagre ficou muito zangado com isso. Atirou o cajado contra o papagaio com toda a força. Mas o pássaro repetia apenas "Que estupidez! Que estupidez!", e o cajado foi parar no alto da árvore, onde o homem não o alcançaria.
O Sr. Vinagre prosseguiu lentamente, pois tinha muito no que pensar. A mulher o esperava à beira da estrada e, ao avistá-lo, foi logo gritando:
- Onde está a vaca? Onde está a vaca?
- Bem, não sei direito onde ela está - disse o Sr. Vinagre; e contou-lhe toda a história.
Conta-se que ela lhe disse coisas que o agradaram bem menos do as que lhe dissera o papagaio, mas isso fica entre o Sr. e a Sra. Vinagre, e não interessa a mais ninguém.
- Não estamos em situação pior do que estávamos ontem - disse o Sr. Vinagre. - Vamos voltar para casa e cuidar da nossa velha cabaninha.
Colocou outra vez a porta sobre a cabeça, e partiu. E a Sra. Vinagre o acompanhou.
Sua mulher também era velha e pequenina, e moravam os dois numa cabana, velha e pequenina, nos fundos de um pequeno lote, há muito abandonado.
Um dia, enquanto varria a cabana, a Sra. Vinagre usou tanta força que a porta, velha e pequenina, desabou. Ela ficou assustada. Saiu correndo da casa e gritou:
- John! John! A casa está desabando. Vamos ficar sem um teto para nos proteger.
O Sr. Vinagre aproximou-se da casa e olhou para a porta. Em seguida, disse:
- Não se preocupe, querida. Vista seu abrigo e vamos partir em busca da sorte.
A Sra. Vinagre colocou então um chapéu, e o Sr. Vinagre pôs a porta sobre a cabeça, e eles partiram.
Caminharam sem parar o dia inteiro. À noitinha, chegaram a uma floresta escura, de árvores muito altas.
- Este lugar dá um bom abrigo - disse o Sr. Vinagre.
Pôs-se a subir numa árvore, e lá improvisou uma cama, encaixando a porta sobre os galhos. A Sra. Vinagre subiu em seguida, e deitaram-se os dois.
- É melhor ficarmos sobre a casa do que ela sobre nós - disse ele. Mas a mulher já dormia profundamente, e não o escutou.
Escureceu rapidamente, e o Sr. Vinagre também caiu no sono. À meia-noite, ele foi acordado por um barulho lá embaixo. Ergueu-se, e ficou prestando atenção.
– Aqui, Jack, aqui estão cinco moedas para você – disse um deles – aqui, Bob, três moedas para você.
O Sr. Vinagre olhou para baixo. Viu três homens sentados ao chão. Havia uma lamparina acesa perto deles.
- Ladrões! - gritou assustado, e pulou para um galho mais alto.
Ao pular, desencaixou dos galhos a porta, que caiu no chão com estardalhaço, e a Sra. Vinagre foi junto.
Os ladrões tomaram tamanho susto que saíram correndo atabalhoadamente, e desapareceram na floresta escura.
- Machucou-se, querida? - perguntou o Sr. Vinagre.
A mulher respondeu: - Eu, não! Mas quem haveria de dizer que a porta iria desabar no meio da noite? E temos aqui uma bela lamparina acesa, a iluminar nosso recanto.
O Sr. Vinagre desceu da árvore. Pegou a lamparina e fitou-a. Mas o que seriam aquelas coisinhas brilhantes espalhadas pelo chão?
- Moedas de ouro! Moedas de ouro! - gritou. Pegou uma delas e olhou-as contra a luz.
- Encontramos nossa sorte! Encontramos nossa sorte! - gritou a Sra. Vinagre. E começou a pular de alegria.
Puseram-se a juntar o ouro. Haviam cinquenta moedas; eram todas brilhantes, amarelas e bem redondinhas.
- Que sorte a nossa! - disse o Sr. Vinagre.
- Que sorte a nossa! - disse a Sra. Vinagre.
Os dois sentaram-se ao chão e ficaram olhando para o ouro até o amanhecer.
A Sra. Vinagre disse, então: - Bem, vamos fazer o seguinte: vá até a cidade e compre uma vaca. Vou tirar o leite para fazer manteiga, e nada mais nos faltará.
- É uma boa ideia - disse o Sr. Vinagre.
E logo partiu, ficando a mulher a esperá-lo à beira da estrada.
O Sr. Vinagre passeou pela rua da cidade, à procura do que comprar. Depois de algum tempo, chegou um fazendeiro com uma vaca gorda e bonita.
- Ah, se essa vaca fosse minha - disse o Sr. Vinagre -, eu seria o homem mais feliz do mundo.
- É uma vaca muito boa - disse o fazendeiro.
- Bem - disse o Sr. Vinagre -, dou-lhe estas cinquenta moedas de ouro por ela.
O fazendeiro sorriu e estendeu a mão para receber o dinheiro.
- Pode ficar com ela - disse ele. - Gosto de agradar aos amigos.
O Sr. Vinagre tomou do cabresto e saiu com ela, passeando para cima e para baixo na rua.
- Sou o homem mais sortudo do mundo, pois veja só como todos olham para mim e minha vaca.
Porém, no fim da rua havia um homem tocando gaita de foles. Ele parou para ouvi-lo. Doce melodia!
- Ora, é a música mais bela que já ouvi - disse o Sr. Vinagre. - E veja só como as crianças aproximam-se dele, e jogam-lhe moedinhas! Se essa gaita fosse minha, eu seria o homem mais feliz do mundo.
- Pois vendo-a, então - disse o gaiteiro.
- Vende, mesmo? Mas não tenho dinheiro; dou-lhe, portanto, esta vaca em troca.
- Pode ficar com a gaita - disse o gaiteiro. - Gosto de agradar aos amigos.
O Sr. Vinagre pegou a gaita de foles, e o gaiteiro foi-se embora levando a vaca consigo.
- Vamos ouvir um pouco de música - disse o Sr. Vinagre. Todavia, por mais que tentasse, não conseguia tocar. Todo som que produzia não passava de ruídos dissonantes.
As crianças, em vez de atirar-lhe moedinhas, riam-se dele. Fazia frio e, enquanto tentava tocar o instrumento, seus dedos enregelavam-se. Ficou pensando que seria melhor ter ficado com a vaca.
Mal partira de volta para casa, passou por ele um homem com luvas nas mãos.
- Ah, se essas lindas luvas fossem minhas - disse ele -, eu seria o homem mais feliz do mundo.
- Quanto pretende pagar por elas? - perguntou-lhe o homem.
- Não tenho dinheiro, mas dou-lhe esta gaita de foles - respondeu o Sr. Vinagre.
- Bem - disse o homem -, pode ficar com elas, pois gosto de agradar aos amigos.
O Sr. Vinagre entregou o instrumento e colocou as luvas nas mãos enregeladas.
- Que sorte a minha! - ia dizendo a caminho de casa.
Logo suas mãos estavam aquecidas, mas a estrada era ruim e a caminhada, difícil. Estava muito cansado, quando chegou ao sopé de uma colina íngreme.
- Como conseguirei chegar lá em cima? - disse ele.
Naquele momento, surgiu um homem descendo a colina em sua direção. Trazia na mão um cajado, que o ajudava a descer.
- Meu amigo - disse o Sr. Vinagre -, se eu tivesse esse cajado para me ajudar a subir a colina, seria o homem mais feliz do mundo.
- Quanto pretende pagar por ele? - perguntou o homem.
- Não tenho dinheiro, mas dou-lhe este par de luvas bem quentes - disse o Sr. Vinagre.
- Bem - disse o homem -, pode ficar com ele, pois gosto de agradar aos amigos.
As mãos do Sr. Vinagre estavam bastante aquecidas. Entregou, então, as luvas para o homem, e pegou o cajado para ajudar na caminhada.
- Que sorte a minha! - dizia ele, enquanto esforçava-se para concluir a subida.
No topo da colina, parou para descansar. Mas enquanto pensava na sorte que tivera durante o dia inteiro, ouviu alguém gritar seu nome. Levantou o olhar e avistou apenas um papagaio verde, pousado num galho de árvore.
- Sr. Vinagre! Sr. Vinagre! - dizia o pássaro.
- Pois não? - indagou o Sr. Vinagre.
- Que estupidez! Que estupidez! - respondeu o pássaro. - O senhor partiu em busca da sorte, e a encontrou. Depois trocou-a por uma vaca, e esta por uma gaita de foles, e a gaita por um par de luvas, e as luvas por um cajado que poderia ter apanhado em qualquer canto da estrada. Ha! ha! ha! ha! ha! Que estupidez! Que estupidez!
O Sr. Vinagre ficou muito zangado com isso. Atirou o cajado contra o papagaio com toda a força. Mas o pássaro repetia apenas "Que estupidez! Que estupidez!", e o cajado foi parar no alto da árvore, onde o homem não o alcançaria.
O Sr. Vinagre prosseguiu lentamente, pois tinha muito no que pensar. A mulher o esperava à beira da estrada e, ao avistá-lo, foi logo gritando:
- Onde está a vaca? Onde está a vaca?
- Bem, não sei direito onde ela está - disse o Sr. Vinagre; e contou-lhe toda a história.
Conta-se que ela lhe disse coisas que o agradaram bem menos do as que lhe dissera o papagaio, mas isso fica entre o Sr. e a Sra. Vinagre, e não interessa a mais ninguém.
- Não estamos em situação pior do que estávamos ontem - disse o Sr. Vinagre. - Vamos voltar para casa e cuidar da nossa velha cabaninha.
Colocou outra vez a porta sobre a cabeça, e partiu. E a Sra. Vinagre o acompanhou.
Fonte:
Adaptação do conto por James Baldwin, em William J. Bennett.
Adaptação do conto por James Baldwin, em William J. Bennett.
O livro das virtudes : uma antologia. RJ: Nova Fronteira, 1995.
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