domingo, 3 de outubro de 2021

Olivaldo Júnior (Prosa sobre o vento)

É, ainda é agosto...

Estamos no mês de agosto. E, desde o tempo em que eu era um grão de gente, um filhotinho, escuto que o mês de agosto é o mês dos ventos. Não por acaso, é neste mês em que soltamos pipa, para ver se ela consegue o que ainda não conseguimos: voar com as nossas próprias asas. Saiba que é isso o que eu mais queria ter, um par de asas. Sei que estão em falta hoje em dia. Acho que gente não foi feita para voar. Mas que eu queria, ah, eu queria!

Comecei a fazer hidroginástica há dois meses. Sabia que a sensação que se experimenta é comparada à que sentiríamos se pudéssemos voar? O corpo fica leve e, dizem, até oitenta por cento mais leve, embaixo d’água. É muito bom! Não sei nadar, nem voar. Faltam-me as asas! Soube que o pobre Ícaro fez as dele com cera, mas elas não aguentam o sol, que está cada vez mais quente sobre a Terra. A Terra... Dizem que viemos do pó.

O pó da vida é o vento que traz. Dizem que é lá das estrelas o pó que nós somos. Você acredita nisso? Eu acredito. Acredito em tudo. Talvez, por isso, não possa me tornar pesquisador, nem cientista, nem mesmo um empírico de nome. Acredito nas possibilidades do vento, na (in)certeza das dunas, no segredo das órbitas gravitacionais de um saco plástico que, ao sabor do vento, vai de lá para cá, na rua ausente. Lembra-se de Beleza Americana?

Santa Bárbara e Iansã, com os ventos do norte e da África, valham-me na rota dos que voltam pela mesma estrada em que vieram! Dizem que viemos do pó. Acho que gente não foi feita para voar. Mas o vento me despenteia os cabelos, já curtinhos, meio finos, e me fazem sentir o que as folhas pequeninas desse fim de inverno sentem quando são levadas para longe das árvores mães. Árvores que balançam ao vento. Vento que me leva aos sete céus.

Os céus me fazem caminhar como as formigas, que não sofrem com o vento, porque são minúsculas partículas de vida. Vida que é o vento em fúria, como diria o Super-Homem, “para o alto e avante!”. Falando nisso, é do alto que vem o vento, o ar que nos leva adiante, avante. Avanço é mais que pôr um pé depois do outro. Nem sempre é assim que acontece, haja vista que o vento da vida nos empurra sem nenhuma piedade. É, ainda é agosto...

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Texto enviado pelo autor

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