Numa viagem de ônibus de Curitiba para Maringá, sentou-se na poltrona a meu lado um senhor de cabelos brancos. Era um professor aposentado e vinha visitar parentes que moravam num sítio perto de Itambé. No meio da conversa contou uma experiência muito interessante vivida por ele no início dos anos 1990, quando passara cerca de dois anos na Dinamarca fazendo pós-graduação.
Em Curitiba participava de um grupo de vicentinos, com os quais praticava caridade ajudando famílias carentes. Chegando à Europa, quis dar continuidade ao seu apostolado, porém logo de início percebeu um “problema”: a quem ajudar?
A Dinamarca é conhecida como “um país onde há pouca riqueza... e muito menos pobreza”. Isso mesmo: lá não há ninguém carente de alimento, agasalho, escola, assistência médica, remédio, proteção à infância, amparo à velhice etc. O estado garante tudo.
Felizmente já existem no mundo vários lugares assim, onde a sociedade se aprimorou de tal modo que os dramas resultantes da pobreza praticamente zeraram. Bons governos, boa legislação, alto nível de cultura e honestidade são algumas das razões desse progresso.
Como então, num país como esse, praticar aquilo que ele estava habituado a chamar de caridade? A quitinete onde morava em Copenhague dava frente para uma pequena praça. Da janela começou a observar um senhor idoso que toda manhã aparecia lá, sentava-se num banco e passava horas olhando os passantes.
Um dia resolveu descer e ir lá bater um papo. Não entendia ainda quase nada de dinamarquês, mas por sorte o homem era fluente em inglês. Era um engenheiro aposentado, bem-informado, bem-agasalhado, enfim uma pessoa aparentemente sem do que se queixar. Único problema: não tinha com quem conversar. Viúvo, os filhos e netos distantes, morava sozinho, comia em lanchonetes ou restaurantes, contava apenas com uma diarista que ia uma vez por semana lavar suas roupas e dar uma limpadinha no apartamento.
Meia hora depois o rapaz despediu-se do novo amigo, prometendo voltar outras vezes. Nos olhos do velhinho notou uma escancarada alegria. Era a resposta que procurava. Nem só de carência material se faz a pobreza. Nos países ricos e socialmente bem-resolvidos ninguém morre de fome, de frio ou de doença facilmente curável. Há, todavia, outros males igualmente dolorosos, entre os quais, em primeiro lugar, a solidão.
O então jovem professor acabara de descobrir de que maneira se faz caridade em países como a Dinamarca: além de papear frequentemente com o amigo da praça, passou também a visitar, sempre que possível, instituições que davam assistência a alcoólicos, depressivos, idosos solitários, refugiados etc., aos quais levava simplesmente isto: palavras de compreensão e esperança e bons ouvidos para ouvi-los com ternura e amor.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 12-5-2022)
Em Curitiba participava de um grupo de vicentinos, com os quais praticava caridade ajudando famílias carentes. Chegando à Europa, quis dar continuidade ao seu apostolado, porém logo de início percebeu um “problema”: a quem ajudar?
A Dinamarca é conhecida como “um país onde há pouca riqueza... e muito menos pobreza”. Isso mesmo: lá não há ninguém carente de alimento, agasalho, escola, assistência médica, remédio, proteção à infância, amparo à velhice etc. O estado garante tudo.
Felizmente já existem no mundo vários lugares assim, onde a sociedade se aprimorou de tal modo que os dramas resultantes da pobreza praticamente zeraram. Bons governos, boa legislação, alto nível de cultura e honestidade são algumas das razões desse progresso.
Como então, num país como esse, praticar aquilo que ele estava habituado a chamar de caridade? A quitinete onde morava em Copenhague dava frente para uma pequena praça. Da janela começou a observar um senhor idoso que toda manhã aparecia lá, sentava-se num banco e passava horas olhando os passantes.
Um dia resolveu descer e ir lá bater um papo. Não entendia ainda quase nada de dinamarquês, mas por sorte o homem era fluente em inglês. Era um engenheiro aposentado, bem-informado, bem-agasalhado, enfim uma pessoa aparentemente sem do que se queixar. Único problema: não tinha com quem conversar. Viúvo, os filhos e netos distantes, morava sozinho, comia em lanchonetes ou restaurantes, contava apenas com uma diarista que ia uma vez por semana lavar suas roupas e dar uma limpadinha no apartamento.
Meia hora depois o rapaz despediu-se do novo amigo, prometendo voltar outras vezes. Nos olhos do velhinho notou uma escancarada alegria. Era a resposta que procurava. Nem só de carência material se faz a pobreza. Nos países ricos e socialmente bem-resolvidos ninguém morre de fome, de frio ou de doença facilmente curável. Há, todavia, outros males igualmente dolorosos, entre os quais, em primeiro lugar, a solidão.
O então jovem professor acabara de descobrir de que maneira se faz caridade em países como a Dinamarca: além de papear frequentemente com o amigo da praça, passou também a visitar, sempre que possível, instituições que davam assistência a alcoólicos, depressivos, idosos solitários, refugiados etc., aos quais levava simplesmente isto: palavras de compreensão e esperança e bons ouvidos para ouvi-los com ternura e amor.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 12-5-2022)
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Texto enviado pelo autor.
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