quinta-feira, 12 de maio de 2022

A. A. de Assis (Maringá Gota a Gota) O Xodó do Dr. Hermann

Faz já não sei quantos anos. Passando em frente ao escritório da Companhia Melhoramentos (esquina da Duque de Caxias com a Joubert de Carvalho), resolvi entrar para dar um abraço no amigo Luiz Bolotta. Por acaso lá estava, em uma de suas frequentes visitas à cidade, o Dr. Hermann Moraes Barros, diretor-superintendente da colonizadora. Ao me ver, ele me puxou pelo braço e convidou para um cafezinho em sua sala.

Já o havia entrevistado algumas vezes, desde as primeiras décadas de Maringá, daí haver entre nós um bom grau de intimidade e cordialidade, mas naquele dia ele começou a conversa dizendo logo de cara que estava bravo comigo. Tinha lido na revista “Aqui” um texto em que eu fazia referências simpáticas aos dois primeiros prefeitos do município, Inocente Villanova Júnior e Américo Dias Ferraz, cujo relacionamento com a Companhia não fora nada ameno. Fácil, portanto, entender por que o Dr. Hermann não podia nem ouvir o nome deles.

Feito o desabafo, dei um tempinho até ele abrandar o humor, depois brinquei: “O senhor fala como um sogro com ciúme da filha que nos primeiros casamentos lhe deu dois genros rebeldes, com os quais o senhor manteve longos e apimentados entreveros”.

A provocação serviu para descontrair. Ele deu uma risadinha meio com jeito de deixa-pra-lá, me ofereceu outro cafezinho e mudou de assunto, passando a recordar algumas de suas muitas histórias de desbravador. Antes, porém, confirmou que Maringá era para ele como se de fato fosse uma linda filha, à qual amava de paixão.

Hoje ainda fico pensando quão doloroso terá sido para o Dr. Hermann, e para todo o pessoal ligado à CMNP, ver a cidade que eles criaram, e da qual cuidaram com tanto carinho nos primeiros anos, passar de repente às mãos de novos cuidadores.

Dr. Hermann me contou que na primeira vez em que sobrevoou a região a área onde Maringá seria construída era ainda uma enorme floresta virgem. Da janela do avião ele contemplava a paisagem e adivinhava o que haveria de ver no mesmo local alguns anos após.

Deve ter sido mesmo uma aventura fantástica. A abertura da mata; o traçado das ruas, praças e avenidas; a chegada das famílias pioneiras; a construção das primeiras casas...

Em 1942 o lançamento da pedra fundamental. Em 1947 a inauguração oficial de Maringá como distrito de Mandaguari. Em 1952, a posse do primeiro prefeito. A partir daí a Companhia Melhoramentos deixava de ser a responsável pela jovem urbe. A “noiva”, agora emancipada, saía do colo dos “pais” para confiar-se aos braços do primeiro “marido”.

Dr. Hermann ajudou a fundar uma penca de cidades, todavia jamais escondeu o xodó especial que sentia por Maringá. Algo tão forte que ele até deixou em testamento um comovente pedido: queria que, quando morresse, suas cinzas fossem trazidas num avião e lançadas sobre as nossas ruas. E assim se fez.
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(Crônica publicada no Jornal do Povo – Maringá – 5-5-2022)

Fonte:
Texto enviado pelo autor.

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