sábado, 21 de maio de 2022

Filemon Martins (Poemas Escolhidos) XV

A CARTA

(Lendo o Soneto “A Carta interrompida”, de COLOMBINA - 1882-1963)

A carta interrompi. Ninguém resiste
que tanto amor acabe desprezado.
Meu mundo colorido ficou triste,
quando escrevi: “Está tudo acabado.”

O trauma deste amor inda persiste,
— por que viver assim amargurado?
A minha mão se agita e ainda insiste
em terminar o show já começado...

Basta postar a carta já escrita,
tudo acabou, a vida é só desdita,
vou aprender viver no meu limite...

No envelope lacrado — quanto medo,
o correio há de levar o meu segredo,
mas o meu coração já não permite!
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AMOR E PAZ

Hoje, pensei na paz do teu amor
que a minha vida triste, ganharia
e lembrando que fui um sofredor,
não sinto mais o fel dessa agonia.

Não desejei ser grande nem senhor,
que o teu amor a mim já bastaria,
hoje sou mais feliz, sou servidor
e cultuo o teu ser, estrela guia.

O amor que nos uniu na caminhada
trouxe-nos paz, ventura à nossa estrada
e a água que faltava em meu deserto.

E ao recordar vitórias alcançadas,
meu desejo é sonhar nas madrugadas
sabendo que estarás aqui bem perto!
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CAPRICHO

Quis o destino, caprichoso, um dia,
que eu sofresse, na terra, grande dor.
Conspiração dos astros da poesia
que me fizeram crer no teu amor.

Ingênuo, acreditei na fantasia
que me ofertou teu lábio sedutor,
e vi morrendo, aos poucos, a alegria
quando partias como o beija-flor.

Eras a estrela vésper do meu sonho
povoavas meu céu sempre risonho
em noites de fulgor e de luar...

Mas me deixaste assim, cama vazia,
sem ter ninguém na madrugada fria,
um condenado à morte por amar.
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DESPEDIDA

É tempo de partir... Quanta amizade
a gente vai deixando para trás.
Meu coração recorda com saudade
os tempos idos que a memória traz.

Vão-se os amores, sonhos e a vaidade,
tudo passou tão rápido e fugaz,
são lembranças da própria mocidade,
são saudades dos tempos de rapaz.

A esperança que outrora me seguia
transformou-se em desgosto e nostalgia
ao recordar a mágoa que me oprime.

Chegando ao fim deste roteiro santo,
que eu possa ser a Luz que brilha tanto
que no meu verso a Inspiração sublime.
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ETERNA BUSCA

Nunca quis navegar por outros mares
que a vida, por acaso, me levou,
nem quis rezar também noutros altares,
pois tua imagem nunca me deixou.

Mas parti procurando outros pilares
para atracar do barco, o que sobrou,
porque no temporal dos meus azares
só saudade, no mundo, me restou.

E agora, já no fim desta procura,
confesso que não tive essa ventura
de esquecer, para sempre, a minha dor.

E tudo que busquei nesta jornada
se resumiu, talvez, num quase nada:
- felicidade, eu sei, só com amor.

Fonte:
Filemon Francisco Martins. Anseios do coração. São Paulo: Scortecci, 2011.
Livro enviado pelo autor.

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