terça-feira, 3 de maio de 2022

Filemon Martins (Poemas Escolhidos) XIV

A DESCONHECIDA


Ela chegou, sorriu. Não disse nada
e foi entrando sem pedir licença.
Depois, falou em tom de uma sentença;
"Eu vou fazer daqui minha morada."

Que conversa maluca e atrapalhada,
não vou brigar nem quero desavença
e mostrando tristeza e indiferença,
eu saí pela porta escancarada.

Depois, voltei e vi por uma fresta,
o clima que reinava era de festa,
muita música e alegria de verdade.

Um dia, ela partiu sentenciando:
contigo estive e andavas poetando,
— não soubeste que sou tua metade.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

LEMBRANDO O LAVRADOR

Eu me levanto cedo e abro a janela
para ver o romper da madrugada,
a Natureza em festa se revela
numa canção de amor bem orquestrada.

O Universo, de luz, parece tela
por um pintor supremo, executada,
tornando-se elegante passarela
onde faz coro a alegre passarada.

O sol desponta, quero uma caneta,
mas a enxada é que vem para a retreta
e quer dançar comigo no roçado...

A enxada tine e estronda pelo eito,
vou capinar a terra do meu jeito
só amanhã, que agora estou cansado!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

MEU AMOR

Quando surge, no céu, a luz da lua
espalhando seus raios pelo chão,
eu me transponho para aquela rua
onde te dei amor, meu coração.

Desde então, minha vida te cultua
no prazer de viver esta emoção,
e espero que a rotina não destrua
nosso ninho de amor, nossa paixão.

À noite, o céu de estrelas se ilumina,
um convite à ternura que domina
e cresce o sentimento entre nós dois...

E no leito de amor, onde deslizo,
sinto o prazer que vem do paraíso,
por que, então, adiar para depois?
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

MEUS PESARES

Faz tanto tempo, eu me recordo agora
do amor sonhado quando jovem era,
mas que partiu levando a luz da aurora
deixando sem amor minha tapera.

Chorei e muito quando foste embora
ao constatar que a vida não espera,
e tive medo, um medo que apavora
quando se perde o amor na primavera.

Quanto tempo passou. Hoje cansado,
a lembrança avivou o meu passado,
já não procuro mais outra ilusão...

Restou somente esta saudade louca
dos beijos que deixei em tua boca,
e esta mágoa de amor no coração!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

PERSISTÊNCIA

Sou persistente como o garimpeiro
que busca a joia rara e deslumbrante,
cavando a terra, construindo aceito,
para encontrar, altivo, o diamante.

Sou incansável pelo tempo inteiro,
busco a palavra e o brilho fascinante
do verso ardente, puro e verdadeiro
que brilha como o sol, inebriante.

Ninguém me deterá neste garimpo,
irei, se for preciso até o Olimpo
buscar minha divina inspiração.

E nestes versos pobres, mas floridos
meus sonhos ficarão mais coloridos,
oriundos do Amor, do coração!

Fonte:
Filemon Francisco Martins. Anseios do coração. São Paulo: Scortecci, 2011.
Livro enviado pelo autor.

Nenhum comentário: