sexta-feira, 27 de maio de 2022

Professor Garcia (Reflexões em Trovas) 7

A cruz, qual velho estandarte,
lembra a ausência que se explica,
na solidão de quem parte,
na tristeza de quem fica!!!
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Ao lado da antiga cama,
no olhar triste da parede,
um torno velho reclama
a ausência de tua rede!
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Entre os que não sabem ler,
há cego sem ter razão;
Falta-lhe a luz do saber
mas não a luz da visão!
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Essa criança tão pobre,
tem tanto encanto e magia,
que um anjo, quando a descobre,
vem beijá-la todo dia!
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Esses bens com os quais me iludo,
tudo aos teus pés eu deponho;
não me serve ter de tudo,
se não te tenho em meu sonho!
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Eu, a viola, uma rede,
e ao lado, a candeia acesa,
mostra a sombra na parede
da solidão sobre a mesa!
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Há na primeira centelha
da luz do sol da manhã,
dois lábios de cor vermelha
na boca morna da chã!
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Meu corpo, o tempo derrota;
mói tudo quanto eu transponho...
Mas morre e não muda a rota
da poeira do meu sonho!
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Na ausência do teu ciúme,
morre a angústia e nasce a flor!
e esse enredo se resume
em nova história de amor!
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Não há deserto que impeça
os passos de um beduíno
que, aos poucos, rompe sem pressa,
a poeira do destino!
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No abraço, o amor é tão lindo,
mas no adeus, que desencanto!...
Começa sempre sorrindo,
mas sempre termina em pranto!
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No fogão velho, um mormaço
atiça o fogo apagado,
e aquece as preces que eu faço
sobre as cinzas do passado!
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No rancho, em meio à pobreza,
crianças pedindo pão;
faltava pão sobre a mesa,
sobrava amor pelo chão!
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Nos pratos dessa balança,
há impurezas e impuros;
como se ter confiança
em tribunais tão perjuros?...
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Nossas mãos, guardam segredos,
e esses segredos, tão sós,
são presos aos nossos dedos,
por laços cheios de nós!
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O "adeus" para mim, descreve,
algo, que jamais se alcança!…
Se alguém me diz "até breve",
não diz "adeus" à esperança!
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O sol em seu caminhar,
à tarde, em seus rituais,
apaga as luzes no mar
e acende os faróis do cais!
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Ouço o mar, sem queixa alguma
e, em noites de lua cheia,
seus versos feitos de espuma
bordam poemas na areia!
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Ó, velho mar, teus cantares,
dão-me estranhas sensações,
de ouvir vozes de outros mares
nos meus mares de ilusões!
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Quem sonha e quem crê no amor,
pela espera, o amor alcança;
pois, vivem na mesma flor:
O sonho, a crença e a esperança!
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Se a lágrima, é dor pulsando,
que dói na alma, quando cai,
ela dói muito mais, quando
faz finca pé mas não vai!
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Se em tua cruz há três cravos,
três candelabros de luz,
meus braços são dois escravos
dos cravos de tua cruz!
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Se há desilusões, fracassos,
és culpada desta dor!…
Foste buscar noutros braços
pobres migalhas de amor!
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Se o meu verso não te alcança,
ama os poetas passarinhos,
que o verso deles balança
os poetas que estão nos ninhos!
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Se uma lágrima deságua,
molhando os véus do meu rosto,
é um pingo das gotas d’água
que há nos olhos de um sol posto!
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Sozinho e arrastando a cruz,
sem ter a luz da visão…
O pobre cego, sem luz,
busca a Luz na escuridão!...
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Teus olhos à noite, ao vê-los,
eu tento manter a calma,
como se ouvisse os apelos
da alma da noite, em minha alma!
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Vim te pedir ajoelhado,
mãos postas diante do altar,
perdão por cada pecado
que eu não soube perdoar!
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Vi, nas velhas cicatrizes
do tempo da mocidade...
Meus pés presos às raízes,
e as mãos, às mãos da saudade!

Fonte:
Professor Garcia. Versos para refletir. Natal/RN: Trairy, 2021.
Livro enviado pelo trovador.

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