terça-feira, 3 de maio de 2022

Contos e Lendas do Mundo (Inglaterra: Molly Whuppie e o Gigante)

Era uma vez um casal, que tinham muitos filhos, mas não conseguiam comprar carne para todos, então pegaram as três crianças menores, que eram todas meninas, e as abandonaram na floresta.

As meninas caminharam, caminharam e não conseguiram ver casa alguma. A noite surgiu e ficaram com fome. Viram uma luz e seguiram naquela direção até encontrar uma casa. Bateram à porta, e uma mulher abriu e perguntou:

– O que desejam?

As crianças responderam:

– Por favor, deixe-nos entrar e comer alguma coisa.

A mulher disse:

– Não posso fazer isso, já que meu marido é um gigante e mataria vocês se as encontrasse quando chegasse em casa.

Elas imploraram ainda mais:

– Deixe-nos descansar um pouco, – disseram – e partiremos antes que ele chegue.

Então a mulher as acolheu, as meninas sentaram-se diante do fogo e ela lhes deu leite e pão, mas mal haviam começado a comer quando ouviram uma forte batida na porta e uma voz terrível, dizendo:

– Fe-fi-fo-fum. Sinto cheiro de sangue humano. Quem está com você, mulher?

– Três criancinhas com frio e com fome, – disse a esposa – e logo irão embora. Você não tocará nelas, homem.

O gigante nada disse, comeu um lauto jantar e ordenou que as crianças passassem a noite ali. Acontece que o gigante tinha três meninas, e elas iriam dormir na cama com as três estranhas.

A caçula das três meninas abandonadas se chamava Molly Whuppie e era muito inteligente. Percebeu, antes de irem para a cama, que o gigante colocara cordas de palha em volta do pescoço dela e do pescoço das suas irmãs, e ao redor do pescoço de suas filhas passara correntes de ouro.

Molly tomou cuidado para não adormecer e esperou até ter certeza de que todos dormiam profundamente. Então, rastejou para fora da cama e tirou as cordas de palha do pescoço dela e de suas irmãs, tirou as correntes de ouro do pescoço das filhas do gigante. Então passou as cordas de palha no pescoço das meninas do gigante e as correntes de ouro no seu próprio pescoço e nos das irmãs e voltou a se deitar.

No meio da noite, o gigante se levantou, armado com uma enorme clava, e foi tatear os pescoços em que pusera as cordas de palha. Estava escuro. Arrancou as próprias filhas da cama e deu com a clava nelas até morrerem. Depois voltou a se deitar, pensando que dera conta do recado muito bem.

Molly refletiu que era hora de sair dali com as irmãs, então as acordou e disse que ficassem quietas e saíssem da casa de fininho. Todas saíram sãs e salvas e correram, correram sem parar até o amanhecer, quando avistaram uma mansão.

Acontece que era o castelo de um rei. Molly entrou e contou sua história para o rei, que disse:

– Molly, você é uma garota esperta e se deu bem. Vou lhe pedir para voltar à casa do gigante e roubar a espada dele, que fica pendurada na cabeceira da cama. Darei sua irmã mais velha em casamento para o meu filho mais velho se você fizer isso.

Molly prometeu que tentaria roubar a espada.

Voltou, deu um jeito de se esgueirar para dentro da casa do gigante e se escondeu debaixo da cama. O gigante voltou para casa, comeu seu lauto jantar e foi dormir. Molly esperou até que ele roncasse, saiu do esconderijo debaixo da cama, estendeu o braço por cima do gigante e retirou a espada; mas, quando passava a espada por cima da cama, fez um barulhinho, e o gigante acordou e pulou.

Molly saiu da casa correndo e levando a espada. E correu, correu, até chegar à Ponte de um Fio de Cabelo. Molly passou, mas o gigante não, e ele gritou:

– Infeliz Molly Whuppie! Nunca mais volte aqui.

E ela gritou também:

– Mais duas vezes, monstro, irei para a Espanha.

Então Molly levou a espada para o rei, e sua irmã mais velha se casou com o filho mais velho dele.

Então o rei disse:

– Você se saiu bem, Molly, mas poderia se sair ainda melhor roubando a bolsa que fica embaixo do travesseiro do gigante, e então eu casaria sua segunda irmã com meu segundo filho.

Molly disse que tentaria.

Então rumou para a casa do gigante, esgueirou-se para dentro e se escondeu debaixo da cama, esperando até que o gigante tivesse terminado seu jantar e roncasse, ferrado no sono. Ela deixou seu esconderijo, enfiou a mão embaixo do travesseiro e tirou a bolsa, mas, na hora em que estava saindo do quarto, o gigante acordou e correu atrás dela. E Molly correu, correu, até chegarem os dois à Ponte de um Fio de Cabelo, e ela passou, mas o gigante não, e disse ele:

– Infeliz Molly Whuppie! Nunca mais volte.

– Mais uma vez, monstro, irei para a Espanha.

Então Molly levou a bolsa para o rei, e sua segunda irmã se casou com o segundo filho dele.

Depois disso, o rei disse a Molly:

– Molly, você é uma garota esperta, e caso se esforce ainda mais e roube o anel que o gigante usa, darei você em casamento para meu filho caçula.

Molly prometeu tentar. Então lá foi de volta para a casa do gigante e se escondeu debaixo da cama. Logo o gigante retornou e, depois de comer um lauto jantar, foi para sua cama e em pouco tempo já estava roncando alto.

Molly deixou seu esconderijo pé ante pé, procurou por cima da cama e, com muita coragem, segurou a mão do gigante. Daí puxou, puxou, até que conseguiu tirar o anel do dedo; porém mal o havia tirado quando o gigante se levantou, agarrou-a pela mão e disse:

– Agora a peguei, Molly Whuppie. Se eu tivesse feito tanto mal a você quanto você fez para mim, o que faria comigo?

Molly respondeu:

– Eu o enfiaria em um saco e colocaria dentro o gato, o cachorro, uma agulha, linha e tesoura. Depois colocaria o saco sobre o muro e iria para a floresta; escolheria o pedaço de pau mais grosso que encontrasse, voltaria, tiraria o saco de cima do muro e lhe daria pauladas até que morresse.

– Molly – disse o gigante –, vou fazer exatamente isso com você.

Então ele pegou um saco, colocou Molly lá dentro junto com o gato, o cachorro, uma agulha, linha e tesoura, colocou-o sobre o muro e foi para a floresta escolher um pedaço de pau.

Molly gritou dentro do saco:

– Oh, se você pudesse ver o que estou vendo!

– Oh – disse a mulher do gigante –, o que está vendo, Molly?

Porém Molly não respondeu, apenas continuou a dizer:

– Oh, se você pudesse ver o que estou vendo!

A mulher do gigante implorou que Molly a deixasse ver o que a garota via. Então Molly pegou a tesoura e fez um buraco no saco; levou consigo a agulha e a linha e pulou para baixo, ajudando a mulher do gigante a entrar no saco, e então costurou o buraco.

Já em cima do muro, a mulher do gigante nada viu e começou a pedir para descer de novo e sair dali, mas Molly não deu ouvidos e se escondeu atrás da porta. O gigante voltou para casa com um enorme tronco de árvore na mão, içou o saco para baixo e começou a bater nele com toda a força.

Sua mulher gritou:

– Sou eu, homem!

Mas o cachorro latia e o gato miava dentro do saco, e ele não reconheceu a voz da esposa.

Então Molly saiu de trás da porta, e o gigante a viu e correu atrás dela. Ele correu, e ela correu, até chegarem à Ponte do Fio de Cabelo, e Molly passou por ela, mas ele não conseguiu e berrou:

– Infeliz Molly Whuppie! Nunca mais volte aqui.

– Nunca mais, monstro – ela respondeu –, nunca mais voltarei para a Espanha.

Então Molly levou o anel para o rei e se casou com o filho mais moço dele, e nunca mais viu o gigante.
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Molly Whuppie é um conto de fadas inglês ambientado na Escócia. Uma versão Highland, Maol a Chliobain , foi coletada por John Francis Campbell. Como há uma relação entre os dois contos e uma variante irlandesa, "Smallhead", concluiu-se que o conto era de origem celta.

Fonte:
Contos e Lendas do Mundo. 2007.

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