quarta-feira, 4 de maio de 2022

Lairton Trovão de Andrade (Enxurrada da Poemas) – 5

ASPIRAÇÃO


“Ah, beija-me com os beijos
da tua boca." (Ct. 1.2)


Estes lindos olhos teus,
Azuis como o azul do mar,
Poderiam ser só meus...
- Como é bom poder te amar!

Nesta face de menina
Estou sempre a contemplar-te;
Como à sedosa bonina
Bem quisera acariciar-te!

Estes seios convulsivos,
Cheios de amor sem-par,
Estão sempre efusivos...
- Quem me dera te abraçar!

Estes lábios - rubra cor,
Continuamente a exalar
Anseios de um grande amor...
- Que delícia te beijar!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

ESTRELA DO MEU CÉU
"Tu és bela, tu és formosa.” (Ct. 4.1)

No céu da minha vida,
Há uma rara estrela;
Na imensa nebulosa
Deslumbra-me em vê-la.

Do mundo nada almejo,
Se a tenho sempre bela;
É luz do meu caminho
A minha alva estrela.

No abismo não te escondas,
- Adoro a minha estrela!
Perdido eu estaria,
Se não pudesse tê-la.

Sozinho, minha estrela,
O que podia eu ser?
- Seria escuridão
De eterno padecer.

Com vida de dez séculos,
Meu sonho nela eu pus;
A cada dia mais
Verei a sua luz.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

RAINHA DO ABISMO
"Eis que o meu amado vem aí, saltando sobre
os montes, pulando sobre as colinas."
(Ct. 2.8)


Solitária orquídea do rochedo altivo,
Que o penhasco alegras com teu magnetismo;
Tens a pedra tosca, por trono cativo,
Onde vives presa, rainha do abismo.

Muito maravilhas o penhasco feio,
Do surgir da aurora até ao entardecer;
Mas teu coração está de angústia cheio
Por não ter aquele que desejas ter.

Que vale o sorrir da brisa em teu semblante,
Que se faz presente pra te acariciar?
Sem meigos carinhos deste amor distante,
Tudo isso só pode te fazer penar.

O que mais fazer para te libertar?
Escalar montanha, além do abismo o horror?
Arriscarei tudo - quero te buscar!
Dar-te-ei uma vida repleta de amor.

Arriscarei tudo - vencerei o dragão!
Galgarei a escarpa - direção do norte;
Lutarei co'o vento - vencerei o tufão...
Vou salvar o amor - líbertar-te-ei da morte!
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =

SAUDADE
"Dize-me, ó tu, que meu coração ama,
onde apascentas o teu rebanho?"
(Ct. 1.7)


A minh’alma está cheia de dor,
Dor perene de acerba saudade,
De saudade do mais puro amor...
Estou triste qual triste albatroz,
Não preciso escutar nada mais,
Pois ouvir eu nem posso a sua voz.

Este vento assobia lá fora...
Lentamente meu dia passou...
Vem a noite calada, agora,
Sufocar minha vida tristonha
Com o meu pensamento angustiado
- Pesadelo acordado que sonha.

Nem as cordas sonoras da lira
Inspirar melodias puderam;
Só lamento pungente se ouvira
De uma vida que vive o temor,
E, distante da face querida,
A saudade tem sulcos de dor.

Que saudade do seu rosto lindo,
Desses olhos que olharam pra mim;
Eu a vejo formosa, sorrindo,
- Primavera corando-se em flor...
Que saudade da face excitada,
Fascinando-me em taça de amor.

Quero vê-la de novo bem linda,
Com seus braços repletos de vida;
No meu lar seja sempre bem-vinda,
Casa cheia de dócil encanto;
Contagiado será seu viver,
Expulsando, co'amor, o meu pranto.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =  

TUAS MÃOS
"Tua mão esquerda está sob minha cabeça,
e tua direita abraça-me." (Ct.8.3)


Ó suaves mãos, mãos afeiçoadas,
De puros gestos, carinhosas;
Ó níveas mãos, mãos abençoadas,
Que coisa as fez assim formosas?

Macia palma, aveludada,
O dorso - cheio de expressão...
O que será tem de encantada
A placidez da tua mão?

E brandamente com ternura,
Amigas mãos, quentes, me vêm;
Não é paixão, não é loucura,
Mas as tuas mãos - o que elas têm?

Volvem pra mim alegremente,
Como se, então, me dessem um beijo;
E no tanger mais complacente,
Com grande afeto eu sempre as vejo.

Mesmo de frágil compleição,
Fazem-me forte qual gigante;
Quanta magia em cada mão!
Por elas só, vou sempre avante.

Na branca palma da tua mão,
Soletro as sílabas da vida;
Eu vejo um "M" com paixão
- Centro do amor é a letra lida.

Fonte:
Lairton Trovão de Andrade. Madrigais: poesias românticas. Londrina/PR: Ed. Altha Print, 2005.
Livro enviado pelo autor.

Nenhum comentário: