sábado, 28 de maio de 2022

Contos e Lendas do Paraná - 10 (Jandaia do Sul – Londrina – Matinhos – Missal)


Cidade de Jandaia do Sul

A lenda de Jandaia


Há muitos anos vagava entre os pinheirais uma esbelta menina de olhos da cor de pinhão e seus cabelos esvoaçavam, como fios dourados em espigas de milho. Nunca se soube de onde ela veio, apenas que seu pai era um bravo cacique, que deveria habitar a imensidão da terra roxa, colher frutos silvestres e beber dos mananciais cristalinos.

Mas, ansiosa, aguardava o dia em que haveria de surgir um companheiro, que seria destro na caça e forte na guerra. Já lhe dissera Tupã, quando ela se banhara numa cascata, mirando-se nas águas: “Jandaia haverá de receber, em breve, aquele que te revelará os arcanos do amor, foste talhada para os seus braços e só a ele servirás. Tu o verás presente entre os esplendores do sol e o vigor dos arbustos”.

Em todas as manhãs, muito antes da alva, Jandaia subia no cimo da colina perscrutando os pinheiros frondosos e aguardando o romper do sol, que também viria fixar-lhe o bronze de sua pele. Numa radiosa manhã, quando Jandaia inebriava-se de luz, eis que se aproxima um cervo com uma flecha cravada, tombando a seus pés. Surge, em seguida, um caçador, jovem e forte. Ele se deslumbra, ante aquela princesa selvagem.

Jandaia acaricia o cervo, depois dirige seu olhar para o moço guerreiro e acena-lhe para que se aproxime. Ele deixa o arco e as flechas e acolhe-a nos braços. Em frêmitos a mata regozija-se. Jandaia cinge-o em seus braços; sendo observada pelo sol. Este, enciumado, aquece os lábios rubros de Jandaia, a enfeitiça e seduz, agora mais que em todas as outras manhãs. Enciumado, arrebata-a para si. Ela, então, sente que ama o sol e deve-lhe sua existência.

Tupã, tomado de uma grande ira, vendo que Jandaia pertencia ao sol e não ao guerreiro que enviara, transformou-a numa cidade. Para que todos pisassem sobre ela e cobrissem de asfalto seus braços bronzeados.

O sol, condoído, surge todos os dias, com o mesmo calor de outrora, espargindo-se sobre a cidade e, como se não bastasse, ordena ao Cruzeiro do Sul, à noite, para que a vigie. Por isso, Jandaia recebeu mais um nome. Devendo sempre chamar-se Jandaia do Sul
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Cidade de Londrina
Guairacá

Guairacá, lobo dos campos e das águas, era o cacique corajoso, aquele que defendia os guaranis e a terra com denodo e bravura, desde o baixo Iguaçu até o Paranapanema e do Tibagi ao Paranazão. Era uma região ambicionada notadamente pelos castelhanos, que já haviam dominado os rio da Prata e Paraguai. Os castelhanos sempre quiseram invadir essas terras. Mas sempre enfrentaram os bravos de Guairacá, dos cem mil arcos vencedores.

Um outro guerreiro de grande valor o sucedeu quando de sua morte e comandou os guerreiros no agitado período daquele pedaço do Brasil: Mbiaçá. Numa homenagem póstuma, ele chamou aquela região de Guairacá para que todos se lembrassem daquele que rechaçara as tentativas dos homens estranhos. Foi este fato que, por muitos e muitos anos, frente a toda a sorte de inimigos impediu que a terra e a gente fossem avassaladas pelos estrangeiros, castelhanos e portugueses, que abreviaram seu nome para Guairá, tendo sido cantado em prosa e verso:

“Andava Guairacá mui valeroso,
Astuto, sabio, artero e mui valiente
Compuzo una terrible palizada
De aguas y comidas abastada.

El fuerte fué con mana fabricado
A los lados con muchos torreones,
Estaba a todas partes resguardado
Con sus trincheras, fosas y bastiones.
Sin duda Satanás ha revelado
A Guairacá el modelo y Invenciones.”

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Cidade de Matinhos
O homem de branco


Conta-se que na região de Matinhos existiam muitos índios carijós e que havia muito ouro nas montanhas. Das histórias dos primeiros colonizadores, destaca-se a figura de um “homem de branco” que, à época, começou a fazer contato com os índios e ficou amigo deles. Os índios perceberam que o homem queria o ouro deles e tentaram logo se proteger.

Cada vez que este homem os procurava, eles se afastavam, porque constataram que o ouro estava desaparecendo. Na verdade os brancos queriam a região, o Bairro Tabuleiro, morro do Cabaraquara, onde existem, ainda, muitos sambaquis entre as matas.

Um dia o “homem de branco” começou a ficar doente, com muitas dores. Acredita-se que a causa foi envenenamento, causado pelos próprios indígenas, através de bebidas que foram oferecidas ao homem. Até hoje, alguns moradores do antigo local relatam que o “homem de branco” ainda assombra a região e a quem mora ali.
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Cidade de Missal
Indianer*


Na década de 1960 no oeste do Paraná havia muitas florestas, com muitos animais selvagens e aves de diversas espécies. Devido a tantas riquezas, iniciou-se a venda dessas terras, entre os rios Ocoí e São Vicente. Assim, vieram os pioneiros, cheios de sonhos e ânimo, pressentindo a riqueza que provinha daquele chão.

Onde hoje é a Esquina Gaúcha, antiga Placa, uma das comunidades pertencentes à cidade de Missal, os colonos abriram as primeiras clareiras, construíram as primeiras casas e galpões, transformando a mata em terras para lavoura.

Segundo a lenda, alguém silenciosamente os observava, dia e noite. Com o passar do tempo, a presença e os olhares do observador começaram a ser percebidos. Os pioneiros o tinham como um índio, que com imensa tristeza e dor os observava destruir sua linda floresta, que para ele era sua casa. No alto das árvores, em meio às folhagens, o índio estava por perto e ao perceber que alguém o pressentia, ou estava vindo a seu encontro, sumia misteriosamente. As pessoas, então, comentavam entre si, temerosas:

– Hast du auch der Indianer gesehen?**

Os pioneiros fizeram várias tentativas de descobrirem seu paradeiro; imaginava-se que ele se protegia morando dentro de alguma grande árvore oca de nome “peroba” (atualmente essa árvore é considerada símbolo de Missal). Quando anoitecia, todos ficavam esperando o aparecimento do visitante misterioso.

Os jovens quando iam à casa dos vizinhos, ou a bailes, escutavam ruídos de galhos secos quebrando-se, folhagens mexendo-se e sentiam que “algo” ou “alguém” os acompanhava em tais passeios.

O tempo passou, sem que ninguém nunca descobrisse o misterioso e discreto seguidor, as histórias se espalharam. Os pioneiros, assustados, nunca descobriram quem era e quais suas intenções. Jamais souberam se seria um Indianer. Tão misteriosamente quanto surgiu e tão silenciosamente quanto fora sua companhia foi seu desaparecimento, sem que ninguém realmente o tenha visto.
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* Indianer = Índio
**– Hast du auch der Indianer gesehen? = – Você também viu o índio?

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Fonte:
Renato Augusto Carneiro Jr (coordenador). Lendas e Contos Populares do Paraná. Curitiba : Secretaria de Estado da Cultura , 2005.

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