domingo, 29 de maio de 2022

Lairton Trovão de Andrade (Enxurrada de Poemas) – 6 –

LACRIMOSA

"No meu leito, durante a noite, busquei
aquele que meu coração ama."
(Ct. 3,1)


A tu'alma é triste
Qual funéreo sino,
Que traça o destino,
Soluçando a sorte;
Ao cair da tarde,
Terríveis anseios
Oprimem teus seios
Com odor de morte.

A tu'alma é triste
Como a mãe ferida,
Que já vê perdida
Sua filha amada;
Ao cair da tarde,
Transpassada em dores,
Carente de amores,
Padece calada.

A tu'alma é triste
Tal como o violino,
Que gagueja um hino
Com falhada voz;
Ao cair da tarde,
Só restam escolhos,
Que teus tristes olhos
Avistam a sós.

A tu'alma é triste
Tal como o condor,
Que o vil caçador
Expulsou do ninho;
Ao cair da tarde,
A tu'alma cora,
Consternada chora
Por um só carinho.

A tu'alma é triste
Como o bandolim,
Que chorou por mim
Triste despedida;
Ao cair da tarde,
São os teus cabelos
Do triste salgueiro
Ramagem caída.

A tu'alma é triste
Como o som da gaita,
E com balalaica
Acentuou seu choro;
Ao cair da tarde,
Faça uma oração,
Que os anjos irão
Abençoar-te em coro.
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NO SALÃO
"...Mostra-me o teu rosto!"
(Ct. 2.14)


Neste dia negro
De febril pavor,
Meu desejo único
É te consolar.
Eu preciso muito
Aliviar tua dor
E as feridas d'alma
Com amor curar.

Vai o longo dia,
Vai mui lentamente,
Meu anseio é ver
Meu amor passar.
Um olhar apenas,
Um sorrir somente
Far-me-ão só bem,
Para me acalmar.

Sem estrela alguma
- Noite tenebrosa! -
Barulhenta festa
Naquele salão...
Eu quero o perfume
Da mais bela rosa,
Que podia estar
Entre a multidão.

Entro no recinto.
E, de quando em quando,
Atento palmilho
O extenso salão...
Meus olhos sedentos
Veem cada canto,
Mas, em cada canto,
Só há ilusão.

Não vejo mais nada...
Que posso fazer?!
Naquele local
Há imenso calor.
Eu fico frustrado,
Sem poder te ver,
Só resta-me o lenço
Pra enxugar meu suor.
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SAUDADE DE OUTRORA

"Ó tu, que habitas nos jardins,
faze-me ouvir a tua voz."
(Ct. 8.13)


Com grande saudade,
Relembro-me agora,
Qual sonho tão lindo,
Dos tempos de outrora;
Sonhando eu sabia
Que alguém me esperava,
Feliz e sorrindo...
Então, me acordava.

Ao brilho do Sol,
A aurora sumia;
Alegre eu partia,
Depois do arrebol.

Eu era feliz:
Buscava meu mundo,
Que o mundo retinha,
Bem dentro de si.

E o mundo que eu tinha
No seio do mundo,
O mundo não via
Que glória era a minha.

Ao brilho do Sol,
A aurora sumia;
Alegre eu partia,
Depois do arrebol.

Eu era feliz:
Buscava o amor
- Da alma o perfume,
Que é alma da flor.

Do mundo que eu via,
Tão perto de mim,
Nem mesmo eu sabia
O tudo que eu tinha.

Com grande saudade,
Relembro-me agora,
Qual sonho tão lindo,
Dos tempos de outrora;
Sonhando eu sentia
Que alguém me esperava,
Feliz e sorrindo...
Então, me acordava…
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Fonte:
Lairton Trovão de Andrade. Madrigais: poesias românticas. Londrina/PR: Ed. Altha Print, 2005.
Livro enviado pelo autor.

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