Publicado originalmente em 1947, Insônia é o sexto livro de Graciliano Ramos. A obra reúne treze contos ― “Insônia”, “Um ladrão”, “O relógio do hospital”, “Paulo”, “Luciana”, “Minsk”, “A prisão de J. Carmo Gomes”, “Dois dedos”, “A testemunha”, “Ciúmes”, “Um pobre-diabo”, “Uma visita” e “Silveira Pereira” ―, nos quais temas muito caros ao autor se evidenciam, como morte, envelhecimento e injustiça social.
Insônia mostra como o ser humano reage a situações diversas, revelando suas fragilidades e angústias.
As histórias desta obra estão repletas de inquietudes existenciais que oferecem ao leitor a possibilidade de confrontar a própria realidade, acompanhado sempre do estilo que consagrou Graciliano Ramos como um dos maiores autores brasileiros, e que já é conhecido dos leitores: a economia vocabular, a secura emotiva e a precisão psicológica.
Graciliano é muito econômico na narração dos acontecimentos, preferindo descrever de maneira indireta as emoções dos seus personagens (quase sempre com problemas de relacionamento e com dificuldades para externar suas emoções) e as situações do que expor os fatos. Com isso, cada conto se torna mais uma trama de cunho psicológico do que uma explanação factual. Há pouquíssimos diálogos nas tramas (quando há, eles são monossilábicos e pouco representativos). A sensação é que cada personagem vive uma vida solitária, completamente desvinculada dos demais. Parece que estamos lendo um testemunho (a maioria das histórias é em primeira pessoa). O livro tem, assim, certo ar documental.
Talvez tenha sido exatamente essa a intenção de Graciliano Ramos: demonstrar todo o seu incômodo em relação à vida com uma narrativa opressora e angustiante. E nada mais natural do que transmitir essa sensação provocando-as no leitor. A história que abre o livro, “Insônia”, por exemplo, é um belo conto. Descrevendo, em primeira pessoa, os pensamentos de um homem que sofre para dormir à noite, acabamos sendo jogados para a cama com aquele indivíduo. Somente quando compreendemos as angústias do sujeito, passamos a entender suas ações. Todas as suas frustrações e moléstias são sentidos por nós, leitores.
Um ponto interessante da obra é a mudança de cenário. Dessa vez, Graciliano Ramos abandona o sertão para abordar a cidade. Quase todas as tramas são ambientadas na região urbana (provavelmente o Rio de Janeiro, cidade onde o escritor morava naquele momento). Assim, temos uma nova perspectiva do autor, que ficou exatamente conhecido por retratar o cenário rural e sertanejo.
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