A SÍNTESE DA VIDA
Nascer, sofrer, morrer, - eis a vida em resumo!
O mais é sonho vão e esperança falida,
ilusão que se esvai, como se esvai o fumo,
como as juras de amor de uma mulher perdida!
O que importa é viver, mantendo a alma a prumo,
nos dias de ascensão, na fase de descida.
Nascer, sofrer, morrer, - eis da existência o rumo,
e a síntese fatal da misérias da vida!
Feliz é quem, no afã de galgar o Infinito,
liberto Prometeu do Cáucaso maldito,
busca apoio na fé e abrigo na Esperança.
E feliz também é quem nada mais espera,
mas que, no apego ao Bem, insiste e persevera
em sempre desejar o que nunca se alcança!
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A VIDA
A vida é qual deserto imensurável,
onde o Simum* veloz dos desenganos
faz da ilusão mais forte e mais durável
imensas dunas de infernais enganos.
É um cálido areal indecifrável
onde sofremos dias, meses, anos...
Lustros de dor por dia desfrutável,
horas de fé por séculos profanos.
Vida! Extertor de lágrima a sorrir!
Recordação de alguém reverberando
na alma do sonho que não quer partir.
Ânsia enorme de amor no amor surgindo.
Terna saudade que nasceu chorando
de uma esperança que morreu sorrindo!
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Simum = vento muito quente que sopra do centro da África em direção ao norte.
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O MUNDO E EU
Fui sempre triste assim! Mas não por mim, por tudo
qe de triste e de mau no mundo tenho visto.
Nos meus dramas pessoais quase sempre sou mudo,
mas vendo a alheia dor, calado não resisto!
Tal como um cavaleiro andante, sem o escudo,
de Quixote e de Sancho eu sou talvez um misto.
Da humana incompreensão suporto o golpe agudo,
e por amor ao Bem sou soldado de Cristo!
Detesto a prepotência e abomino a injustiça!
E embora crente em deus, mas faltoso na missa,
meu pobre coração, a fé defende...
Entre as mágoas que sofro e o alheio sacrifício,
se calo a minha dor, aumento o meu suplício,
se falo do que sinto, o mundo não me entende!
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SER OU NÃO SER
Fui sempre triste assim! Mas não por mim, por tudo
qe de triste e de mau no mundo tenho visto.
Nos meus dramas pessoais quase sempre sou mudo,
mas vendo a alheia dor, calado não resisto!
Tal como um cavaleiro andante, sem o escudo,
de Quixote e de Sancho eu sou talvez um misto.
Da humana incompreensão suporto o golpe agudo,
e por amor ao Bem sou soldado de Cristo!
Detesto a prepotência e abomino a injustiça!
E embora crente em deus, mas faltoso na missa,
meu pobre coração, a fé defende...
Entre as mágoas que sofro e o alheio sacrifício,
se calo a minha dor, aumento o meu suplício,
se falo do que sinto, o mundo não me entende!
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SER OU NÃO SER
(To be or not to be. That is the question! - Hamlet - Shakespeare)
Talvez que além da Vida e além da Morte,
lá nos confins remotos do Infinito,
se encontre solução para o conflito
entre o Ser ou não Ser da humana sorte!
Deuses de barro, esfinges de granito,
pirâmides e torres de alto porte,
preces de Paz, rugidos de Mavorte*,
templos pagãos e túmulos do Egito,
Do Ser e do não Ser eis o dilema!
O controverso e milenar problema
que desafia os crentes e os ateus...
O insondável mistério da existência,
e a mesquinhez da humana inteligência,
em gemidos de dor - clamam por Deus!
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* Mavorte = Marte, deus romano da Guerra.
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SHANGRI-LÁ
Eu tentei construir meu castelo de sonhos
na eterna Shangri-Lá que remoça e conforte,
num reino de esplendor,
onde jamais a dor,
como o corvo de Poe batesse à minha porta!
Eu tentei construir meu castelo dourado
junto de um lago azul, de ondas ternas e mansas,
com cisnes de alvas plumas,
brancos como as espumas,
e a imaculada cor da alma das crianças!
Eu tentei construir o meu lar de poeta
num recanto feliz de uma terra florida,
num país de delícias,
de sonhos e carícias,
onde não morre o amor, eterno como a vida!
Eu tentei construir o meu ninho de artista,
lá bem perto do Céu, na Shangri-Lá bendita,
onde somente há sonhos,
alegres e risonhos
como o rosto feliz de uma mulher bonita!
Eu tentei construir meu palácio encantado,
numa encosta ideal do País das Quimeras,
onde jamais se morre,
e a vida corre
no mágico esplendor de vinte primaveras!
Tudo, porém, foi em vão! Um sonho, querida,
que a alma me fez sangrar, cheia de desenganos.
Sonho louco de quem,
por muito querer bem
ousa sonhar além dos limites humanos!
Foi um sonho fugaz de errante beduíno,
que a contemplar no Céu a luz da lua cheia,
triste como um dervixe,
entre o fumo do haxixe
vai erguendo no ar seus castelos de areia.
Eu tentei construir meu castelo de sonhos
na eterna Shangri-Lá que remoça e conforte,
num reino de esplendor,
onde jamais a dor,
como o corvo de Poe batesse à minha porta!
Eu tentei construir meu castelo dourado
junto de um lago azul, de ondas ternas e mansas,
com cisnes de alvas plumas,
brancos como as espumas,
e a imaculada cor da alma das crianças!
Eu tentei construir o meu lar de poeta
num recanto feliz de uma terra florida,
num país de delícias,
de sonhos e carícias,
onde não morre o amor, eterno como a vida!
Eu tentei construir o meu ninho de artista,
lá bem perto do Céu, na Shangri-Lá bendita,
onde somente há sonhos,
alegres e risonhos
como o rosto feliz de uma mulher bonita!
Eu tentei construir meu palácio encantado,
numa encosta ideal do País das Quimeras,
onde jamais se morre,
e a vida corre
no mágico esplendor de vinte primaveras!
Tudo, porém, foi em vão! Um sonho, querida,
que a alma me fez sangrar, cheia de desenganos.
Sonho louco de quem,
por muito querer bem
ousa sonhar além dos limites humanos!
Foi um sonho fugaz de errante beduíno,
que a contemplar no Céu a luz da lua cheia,
triste como um dervixe,
entre o fumo do haxixe
vai erguendo no ar seus castelos de areia.
Fontes:
Athos Fernandes. Ofir. 1977.
Athos Fernandes. Shangri-La Poesias. 1979.
Athos Fernandes. Ofir. 1977.
Athos Fernandes. Shangri-La Poesias. 1979.
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