BILAC
Ganhei de Deus este divino dom,
Assim, por Ele, venturoso escrevo
A melodia do mais belo tom;
A joia fina do almejado enlevo.
Não mais respiro se me falta o som
Da sinfonia a que ilustrar eu devo.
Minha alma aplaude por achá-lo bom
Na pauta ativa que anotar me atrevo.
Perder as notas deste raro encanto
Seria o mesmo que negar o santo
Do livro nobre que o Senhor me deu.
Hei de coroá-lo no "panteão" da história
Em honra ao mestre de soberba glória
Mostrando ao mundo que jamais morreu.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
O CANTO DA MORTE
Ao ler meu verso sentirá o raro
Desvelo às letras que feliz componho;
Sua estrutura me concede amparo
Na plenitude da canção do sonho.
E com amor o musical preparo
Ao novo encontro que em florais proponho.
E a melodia, com fervor declaro,
Na pauta livre que ao verbal exponho.
Igual cigarra de tristeza canto
E morrerei só de escrever, garanto!
Traçando a rima de um soneto triste.
O sofrimento - este pendor me traz -
A sensação que, com certeza, faz
Nascer o canto que na morte existe.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
MISTERIOSA FLOR
Na tenda minha a flor mais triste nasce,
Não murcha nunca e nunca perde a cor.
Não sei seu nome, mas se alguém contasse
Teria, com certeza, o meu louvor.
Que bom se um dia a própria flor falasse
Seu nome, assim por certo teria autor.
Nobre sigilo da orgulhosa classe
E tal segredo ela me quer impor.
Tanto mistério é de corar a face...
Mas sem desdém eu lhe propus enlace
Que recusou sem transmitir maldade.
Hoje senil na solidão, compondo,
Ouvi do céu - todo estelar clamando -
Seu nome dói, poeta, é a flor saudade.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
RESGATE
Fui sempre amigo do soneto exato
E, além de tudo, persistente fã.
As suas regras com denodo acato
Sem os favores da plateia vã.
Gravado na alma eu tenho o seu retrato
Com a pureza de uma doce irmã.
Ninguém, por isto, se me diz ingrato,
Quanto à aparência do sagrado afã.
Bilac poeta me ensinou o ofício
E a perfeição deste bendito vício
Que me consagra burilando graça.
Não ganha espaço nos jornais do povo,
Por isso agora vou tentar de novo
Gravar seu nome nos murais da praça.
= = = = = = = = = = = = = = = = = = = = = =
SUA MAJESTADE «O SONETO»
Oh! Deus, lhe peço me conceda o senso
De estilo grato e lucidez constante.
Pois eu preciso construir e penso
Na venturosa formação pujante.
Este querer não ficará suspenso
Nem me permito ser vulgar jactante.
Labuto e vivo do prazer intenso
De proteger o galardão brilhante.
Com elegância a sua letra afino,
Pois vou levá-lo ao seu real destino:
À glória casta do eternal melódio.
Foi sempre rei, jamais pediu asilo,
Belo e altaneiro, no seu nobre estilo,
Não cederá o seu lugar no pódio.
Fonte:
Cecim Calixto. Flores do meu cajado: sonetos. Curitiba: Juruá, 2015.
Cecim Calixto. Flores do meu cajado: sonetos. Curitiba: Juruá, 2015.
Nenhum comentário:
Postar um comentário