Era uma festa a compra de galinhas. Minha mãe, de antemão, já sabia o dia e o local da venda.
As galinhas vinham do Sertão de Cima. Galinhas caipiras: carijós, pévas, índias, de pescoço-pelado, pretas. Havia quem gostasse de galo, também tinha. Muitas vezes traziam algum pato, leitão ou cabrito.
O transporte era feito em grandes balaios de taquara sobre o lombo dos cavalos, um em cada flanco à guisa de cangalhas. Os sertanejos vinham em comboio e o barulho juntado à conversa dos condutores (ele riam muito) logo denunciava sua aproximação.
Minha mãe me apressava:
- Vamos filho, senão quando chegarmos as galinhas melhores já não estarão mais lá!
No local da venda as donas de casa iam se reunindo. Quando os vendedores chegavam: “- Bão dia, meu povo, se aprocheguem”, o toma lá, dá cá começava.
Os precos eram regateados e o produto sempre enaltecido:
- Está muito caro, seu Silvino.
- Num tá, dona. Dá trabaio jogá mio tudo dia e adispois corrê atrais prá pegá.
- Quero uma galinha bem gorda, vou ali no balaio do Gumercindo.
- Ihhhh! Dona, as dele ta tudo cum peste.
E ria muito pelo chiste. A camaradagem era grande entre todos.
Minha mãe tinha um jeito peculiar de avaliar e escolher o produto, pegando a galinha pelas pernas, de cabeça para baixo, descia e levantava várias vezes. Nunca entendi o porquê.
Traziam também saborosos ovos caipiras bem frescos e embalados um a um em palha de milho; mandioca; batata-doce; mandioca-salsa; milho-verde (quando era época); amendoim; feijão; rapadura, etc. Era uma verdadeira feira ambulante.
Bons tempos nos quais os alimentos eram criados e cultivados naturalmente sem hormônios nem agrotóxicos.
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Texto enviado pelo autor.
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