segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Pedro Aparecido de Paulo (Pétalas de Versos) 1


ANFITRIÃ SEM TETO


Que fazes tu, menina moça
na esquina da amargura,
belo corpo cinturado
uma elegante postura,
em todos lanças um olhar
de entusiasmo e ternura.

Gente que passa depressa,
nem nota a sua presença,
porém nem todos tem pressa,
percebem a sua existência.
Seu pensamento intercala
dividindo a consciência.

Deslumbra a sua magia,
tem no olhar a conquista,
malabarista da vida,
meio vulgar, meio artista,
um sonho um tanto estranho
de ser capa de revista.

A ignorância de uns,
de outros o mau olhado,
aqueles que a criticam
com olhares renegados,
ao fim de sua jornada
rende graças ao conquistado.
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MEU PAI, NA MEMÓRIA

Meu pai, que fatalidade!
É com imensa saudade
que me lembro de você,
há hora em que imagino
se existe o tal destino
tão difícil de entender!

Pai! Um dia do mês de julho,
você, com alegria e orgulho,
viu-me chegar a este mundo.
Bem sei que fui bem vindo,
foi um momento tão lindo
de um sentimento profundo.

Pai! Iniciei a vida...
Com sua mão estendida
guiou-me no bom caminho.
Caí, você me levantou,
os meus erros você perdoou,
nunca me deixou sozinho!

Pai! Sabe aquele dia
que, com imensa alegria
você via-me nascer?
Justamente, neste dia
com imensa tristeza e agonia,
eu via você morrer.
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O HOJE DO MEU AMANHÃ

Vendo você do outro lado,
num quadro imenso pintado
pelas mãos do Criador,
vejo o céu todo estrelado,
fico pasmo deslumbrado,
contemplo com muito amor...

Divagando pela vida
vejo a pessoa querida,
na nuvem branca que passa,
vejo você… pai querido,
que por você fui nascido,
quem tem você não fracassa..

Vejo a luz do seu olhar,
que parece se orvalhar
no sereno matinal.
Hoje eu vi você partindo,
mas com o semblante sorrindo,
a um passeio triunfal...
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SORTE OU DESTINO

Não sei se existe o destino,
mas há coisas engraçadas,
é muito bom ser honesto,
não fazer coisas erradas...

Faço juízo da vida,
tentando entendê-la a fundo,
mas parecem brincadeiras
o que acontece no mundo...

Quando meu pai se casou,
foi uma festa bonita
e recebeu como a esposa
a minha mãe Benedita...

Hoje meu pai está velho,
parece que a vida é escrita,
três mulheres cuidam dele
por sorte três Beneditas...
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TEMPO DE CRIANÇA

Pai! Esta cadeira será sempre sua,
e a vida continua,
e o barco vai rodando,
nem veleiro pouco vento
nem motor roncando lento
mas você vai continuando...

Pai! O tempo nos ensina,
nesta vida de rotina
a seguir a vida afora,
estanca como riacho,
por cima ou as vezes por baixo,
estoura e vai-se embora...

Pai! De forma até engraçada
a lembrança eternizada
fica gravada na mente,
o tempo lindo da infância
vai ficando na distância
corroendo dentro da gente.

Pai! Lembro-me da capelinha,
pequena bem simplesinha
e um sininho a tocar.
A fé era tão imensa
Deus Pai quanta recompensa
íamos todos rezar...

Pai! Você com sua vontade
nos ensinou a verdade
neste mundo turbulento.
Quando criança esta vida
é tranquila e colorida
mas é só neste momento...

Pai! Eu ia a escolinha,
modesta, bem pequenina,
aprender o be-a-bá,
pensando um dia quem sabe
irmos morar na cidade
e a faculdade cursar...

Pai! Pensava eu ser um doutor
a curar a imensa dor
de alguém que estivesse sofrendo,
mas nem você eu curei,
sua dor não aliviei,
e eu vi você morrendo...

Pai! Desculpe meu fracasso,
pois tudo fiz, nada faço,
que se perco a esperança
não posso retroceder
tenho que tentar viver
como nos bons tempos de criança…

Fonte:
Pedro Aparecido de Paulo. Pedras e pétalas. Maringá/PR: Ed. do Autor, 1995
Livro enviado pelo poeta.

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