SURREALIRISMO
Muitas vezes, ela sai... mas, sonolenta.
Espreguiça-se e, trôpega, devaneia
pela página, no fundo o que ela anseia,
é mostrar-se a quem a leia... ela é ciumenta.
Não escolhe a temática, titubeia,
entretanto deixa rastros ou... sementes
revoltadas, fatigadas, inocentes,
é veemente: apaga o fogo ou... incendeia.
Cativante, insinuante ou... grosseira,
leva o sonho e a verdade na bagagem,
seleciona o erudito ou diz bobagem...
afinal, que tal o humor ? Viva a besteira !
Não copia nem sequer parafraseia,
é avessa aos arrotos lagostinos...
ou nojentos caviares tão... cretinos
...pensa e sonha... e, assim, se delineia.
Neológica na essência, vocaliza
silenciosa como lágrima ou serpente.
Capitu ou monalísica o que sente,
grassa livre quando, lírica, desliza.
E sorri, é debochada, imagina
cada cara incorrigível que a desdenha -
e ao autor que a produz - entrega a senha
a quem a lê com a emoção mais cristalina.
A exemplo de outras tantas caminhadas
rabiscadas em qualquer mais rota agenda,
ou em folhas sujas, velhas, amassadas,
este texto é um retalho de fazenda.
Ka ! Ka ! Ka ! ... você a leu, fiquei feliz
pois, a custo, conseguiu interpretá-la,
Gratidão !!! ... é o que ela diz... a sua fala
é apenas arco-íris... do que eu fiz.
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TRANSATIVIDADE VERBAL
- Você me ama, perguntei. - Amo - seu tolo!
... mas o seu verbo, que era tão... intransitivo...
ganhou ação e complemento... o seu consolo
passou a ser um pronome... reflexivo.
Revendo as regras, expliquei que o verbo amar
é ideal, quando a ação é transitiva,
e que o pronome essencial que a completar
tem que ser "te"... de forma mais objetiva.
Ela me olhou - confesso, aquele olhar doeu -
e sussurrou: - Meu verbo é bem mais natural...
e o sujeito... meu amor... hoje sou "eu",
só sei, de cor, colocação... pronominal.
Se numa próclise, um romance se inicia,
uma mesóclise é a forma mais completa,
pois na conjugação a dois, amar-se-ia
na plenitude que a sintaxe projeta.
Tornou-se enclítica nas suas exigências,
porém me disse, num tom bem coloquial:
"O seu pronome supre bem minhas carências...
mas cada verbo que conjugo é... passional.
Juro, optei pelos meus vícios...de linguagem,
e no calor da nossa Nova Ortografia,
os pleonasmos ganharam nova roupagem
e... hiperbolamos... nossas fisiologias.
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UM SETE UM
Talvez por ingenuidade ou quando é conveniente,
Alguém pega o que é da gente sem ver a assinatura
E chora, ri, gesticula, num êxtase particular
Declama, canta, sei lá... Até chora, a criatura !
E digita o que a gente... criou, sem nos perguntar
Se podia publicar... e o pior, sem autoria !
A gente quer se matar ou matar o desgraçado
Que parece um retardado que nem escreve poesia !
Ah... brincadeira tem hora ! A adrenalina cresce,
A gente se enfurece e xinga quem publicou:
Safado, ladrão, cretino, hipócrita, um sete um !
Porque o que rouba um, na certa uns dois já roubou !
E cadê a autoria ? Que fim levou o meu nome ?
É assim ? ... o nome some e ninguém reclama nada ?
É mentira, isto é piada ! É estelionato, é rapina !
E a pessoa, cretina... Além de tudo é folgada !
Se mostra logo ofendido, na maior cara-de-pau
Corre logo pro jornal e até dá entrevista !
Que safado ! É um artista na arte do surrupio,
O sem-vergonha, vadio vai dando uma de sofista
E diz: esse texto lindo, que pena... sem autoria,
É meu... Que patifaria ! Tem dono agora o meu texto ?
O tal inventa um pretexto inaceitável, mesquinho,
E trata até com carinho o desfecho do contexto.
Ah... me larga ! Eu viro bicho !
Pensa que achei no lixo a minha inspiração ?
Se eu pego esse sacripanta
Eu corto sua garganta ! ... E arranco seu coração !
...que nada... eu sou poeta e poeta é de uma casta
Sublime... Por hoje basta... registre, amigo, sua obra
Tem gente que é como cobra sorrateira e mentirosa
Que rouba um poema ou prosa com a astúcia... de certas sogras.
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