O MARCONDES estava levando uma de suas vacas para cruzar com o touro da fazenda vizinha, num espaço conhecido como “cobrição” (1), quando seu capataz chegou correndo, saltou da camionete esbaforido com a notícia:
— O que foi, Arquimedes: Por que toda essa pressa? Vamos, homem, cante a pedra. Parece estar com o pai na forca!
Arquimedes, ainda sem se refazer do susto, mandou a bomba:
— Sua mãe, patrão. Dona Catarina está passando mal. Sua esposa já chamou o médico e pediu para que eu viesse lhe chamar com urgência. Caso de vida ou morte...
Acompanhando o Marcondes, Elisa e Pérola, as duas jovens filhas de seu advogado, que morava perto, numa gleba confinante à sua. Ambas estavam em sua propriedade à espera de Valquíria, a enteada, que saíra cedo e fora até o povoado pagar as contas e fazer as compras mensais para o rancho.
O imprevisto surgido deixou o fazendeiro aparvalhado, de calças curtas e deveras preocupado. Perplexo e sem ação, diante daquele fato inesperado, ficou sem saber, de pronto, que atitude tomar. Elisa, a mais velha das meninas, vendo o estado desesperador de seu Marcondes, se prontificou:
— Pode deixar seu Marcondes. Somos dondocas do vilarejo, mas o papai, como é do seu conhecimento, também tem um sítio enorme com pasto imenso onde cria vacas e cavalos de raça, igual ao senhor.
Se abriu num sorriso contagiante e completou:
— Apesar de vivermos mais no conforto das facilidades, sabemos como agir e lidar com essas coisas.
Pérola interrompeu a irmã e completou:
— Verdade, seu Marcondes. Deixa que eu e Elisa levamos a sua vaca até onde o touro se encontra. Por favor. Vá cuidar de sua mãe e deixe esse encargo por nossa conta. Tiraremos de letra.
Espavorido e receoso com o fato de que as duas donzelas não dessem conta do recado, mil coisas vieram martelar à cabeça da criatura. Todavia, com seu homem de confiança no encalço e à sua espera, para leva-lo até à progenitora carecendo de ajuda, decidiu que naquele momento o mais acertado seria partir em amparo de sua consanguínea, uma senhorinha em idade bastante avançada:
— OK, meninas. A vaca é toda de vocês duas.
Três horas depois, terminada a árdua tarefa de ter prestado toda a assistência à sua genitora o fazendeiro regressou. Estava mais calmo e tranquilo. Deixara dona Catarina fora de perigo. A anciã fez uma batelada de exames no hospital e regressou ao lar. Sem mais delongas, Marcondes se dirigiu para o estábulo visando averiguar se as pequenas haviam cumprido, à risca, a tarefa que se propuseram levar à termo.
Ao chegar na estação de monta (2), ao lado de um galpão e de uma abegoaria (3) onde o touro num pequeno cercado se achava à espera de sua vaca, para a procriação, o agourento do desastre se mostrou encaroçado e bombástico. Topou com as moças todas sujas de lama, os cabelos alvoroçados, sem falar que estavam quase nuas, em vista dos vestidos em farrapos. Assim que o capataz parou a camionete, Marcondes saltou ao encontro das pequenas, tremendo pior que vara verde:
— Meu Deus, Elisa. O que aconteceu? Pérola, acaso o Jovino investiu contra vocês?
Elisa ao tempo em que respondia, se pôs em pé procurando se albergar dos olhos esbugalhados do fazendeiro e do capataz, totalmente colados em suas partes intimas, a bem da verdade, recatos expostos às visitações escancaradas das salientes figuras que, de repente pareciam frenteadas com um deslumbre magnânimo jamais visto e apreciado em suas vidas:
— Seu Marcondes — indagou Elisa: — Quem é Jovino?
— Jovino é o nome dele. — respondeu o fazendeiro apontando o indicador em direção ao touro. Me expliquem o que aconteceu enquanto estive ausente?
Pérola também seminua, veio em socorro da irmã e completou a explicação:
— Seu Marcondes, foi a sua vaca...
O fazendeiro e o capataz boquiabertaram (4), pasmos e abismados, completamente estatelados:
— O que houve com Mimosa? Ela é tão mansa. Espiem o semblante da coitada ... parece cansada e Jovino... o Jovino se mostra desanimado... macambúzio!... (5).
Elisa e Pérola tentaram rir, mas o choro vergonhoso não permitiu:
— Sua vaca tem nome? — Indagou Elisa se pondo também emparelhada à irmã:
— Sim, minhas lindas. O nome dela é Mimosa. Assim como o touro que vocês estão vendo. O nome do garanhão é Jovino. Vamos, garotas, o que aconteceu? Quero a verdade. Sou todo ouvidos.
Elisa sem deixar de se debulhar em lágrimas explicou como pode:
— O senhor falou para que nós trouxessemos a sua vaca, digo a Mimosa, e que a colocássemos em posição de ela se entregar acasalando com o touro... digo, fazendo sexo com o Jovino...
— Sim, e daí? Vocês não fizeram isso?
Pérola à imitação da irmã, ao se por fora da lama suja, o fez de forma açodada:
— Nós pelejamos de tudo quanto foi jeito, seu Marcondes. O problema é que a desgranhenta da sua vaca, quero dizer, da Mimosa, não quis, de maneira nenhuma, ficar deitada de costas no chão.
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Notas de rodapé:
1 Cobrição – Qualquer cópula (coito) entre animais quadrúpedes.
2 Estação de monta – No sentido citado no texto, local onde se levam as fêmeas (vacas) para as exposições aos touros (machos).
3 Abegoaria – Local onde se guarda os instrumentos de uso diário de uma propriedade ou fazenda.
4 Boquiabertaram – Ficaram perplexos e abismados. De queixo caído.
5 Macambúzio – Pessoa triste, melancólica ou mal-humorada.
Fonte:
Texto e notas de rodapé enviados pelo autor.
Texto e notas de rodapé enviados pelo autor.
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