Existiu, na Zona da Mata, a uns 10 quilômetros da "Vila de Butucanhanha", Minas Gerais, uma mina de ouro.
Há muitos e muitos anos, nas proximidades da mina, a pitar seu cigarro de fumo de rolo, enrolado em palha, Juca Monteiro descansava, debaixo da sombra amiga de uma mangueira, carregada de frutos. De repente, surgiu, em meio a um redemoinho de vento, como se fosse por um toque de mágica, a figura de um guri negro. Sem roupas, trazia na cabeça um gorro vermelho, e, na boca, um cachimbo.
O garoto, com voz muito convincente, foi logo dizendo: - Oi, amigo, não tenha medo, meu nome é Saci, e tenho poderes mágicos. Se me deres de comer, de beber, e de dormir, poderei te dar, em troca, muita sorte!
Cativo e temeroso, dos poderes sobrenaturais do negrinho, o humilde garimpeiro, prometeu tudo fazer pelo moleque.
A verdade é que, por causa do Saci, ou pelo que fosse, o garimpeiro começou a ter muita sorte na coleta do precioso metal. Foi enriquecendo, rapidamente, fato que passou a causar inveja, aos companheiros de trabalho.
Foi-se o tempo, e a mulher do Juca Monteiro, que sempre tivera boa saúde, adoeceu.
Logo depois, o garimpeiro perdia a esposa, o pai e o único filho. Juca, embora estivesse materialmente bem, moral e espiritualmente, estava muito mal.
Foi quando, seus invejosos companheiros de trabalho, calculadamente, sugeriram que ele procurasse a curandeira, da vila, Nhá Zita.
- Caro Juca, você perdeu filho, mulher e pai. Agora, está só. E, a culpa de todas estas desgraças, cabe a esse negrinho, que lhe apareceu, de forma tão misteriosa. Você tem que matá-lo! disse-lhe a tal curandeira.
O garimpeiro, muito confuso, acabou pedindo ajuda aos companheiros.
Foram eles, mais o Juca, armados de faca e foice, à procura do moleque, e o encontraram, muito sossegado, sob a sombra, de uma goiabeira, a pitar seu cachimbo de barro.
Atacado de surpresa, foi ele atingido, por um golpe de foice, tendo a perna decepada, à altura da virilha. Contudo, por incrível que pareça, saiu o negrinho, saltitante, em louca disparada, numa perna só.
Ante o acontecido, todos ficaram apavorados, fugindo para suas casas. Restou, sozinho, o garimpeiro.
Já bem distante, e sem perigo, o moleque parou, gritando para o Juca.
- É assim, seu Juca, que paga com o mal, todo o bem que lhe fiz?! Por ter acreditado na mentira, e ter me agredido, me causando grande dano, vai perder tudo o que tem. Mas, como sei que foi enganado, por Nhá Zita, e seus companheiros, só por inveja do seu sucesso no trabalho, tem direito a uma nova chance.
- Foram eles que envenenaram, aos poucos, sua família, dizendo ser eu o culpado. Você, ingenuamente, acreditou!
E é por isso, que lhe darei mais uma oportunidade. Só mais uma. Você poderá ser, novamente, rico e feliz, se for à procura de minha perna decepada. Caso a encontre, atravesse a fronteira, em direção à Bahia, e enterre minha perna a sete palmos de profundidade, em solo baiano.
Juca Monteiro, saiu em busca da perna do negrinho, cortada pelo golpe de foice. Não tardou em encontrá-la, cumprindo o que prometera ao moleque.
Em terras baianas, enterrou a perna. E para seu espanto, viu jorrar, daquele exato lugar, um líquido grosso, oleoso e escuro.
Desse dia em diante, Juca Monteiro, ficou rico, muito rico! Único dono, de um grande poço de petróleo! E o Saci, moleque encantado das lendas brasileiras, continuou a fazer inúmeras diabruras e brincadeiras, com seu barrete vermelho e cachimbo de barro, numa perna só…
Fonte:
Cláudio de Cápua. Era uma vez… (coletânea de contos). Comptexto: outubro 1989.
Cláudio de Cápua. Era uma vez… (coletânea de contos). Comptexto: outubro 1989.
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