Sem a palavra, simplesmente silêncio.
Há, no pavio, uma chama renitente
Que queima, aos poucos... a explosão, que é iminente,
E espalha ardentes emoções no ar sombrio.
Sou um ser frágil... tenho asas, bico... garras,
Sublimo o céu em cada sonho que me dou,
Se me açoitam, sou barco, solto as amarras
E assim, no vento... ou nas correntes... amo... e vou.
Minha palavra é projétil, ave e flor...
Com ela amo, fantasio... dinamito,
Meu coração é a pulsação do meu amor.
Bendito o homem que liberta a emoção
Aprisionada, mas que voa, com seu grito,
Mas adormece dentro do seu coração.
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LÍRICO ARTEFATO
Não sigo a frota, quando a rota é sem destino.
Que poliglota fala a linguagem do mar?
... sei velejar com a inocência de um menino:
Faço um barquinho... e deixo o vento me levar.
A ingenuidade foi meu ponto de partida
Busquei amar sem questionar a alma alheia,
Fui enganado... ou me enganei, pois minha vida,
É mais que o canto sedutor de uma sereia.
Há, na candura, essa espécie de contato
Que sempre foge da frieza de um retrato
E mostra um rosto que sorri à revelia
Da poesia que se torna um artefato,
No exato instante em que o dragão foge o rato
E a explosão do amor detona a fantasia.
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METADE
Se puderes me guardar no teu olhar,
Já me basta, porque, no teu coração,
De repente não irás me libertar
Pois voar não se acostuma com prisão.
Passarinho, eu nasci para voar
E cantar para alegrar a solidão.
Quando sonho, não escolho o que sonhar,
Meu amor convive bem com a emoção.
Se puderes me levar, deixa a metade
Para mim... gosto de ver, em liberdade,
Pelo menos um pedaço de quem sou...
A outra parte, que a protejas com carinho,
Porque, quando eu estiver bem mais sozinho,
Saberei me completar com o que restou.
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PARÁFRASE SURREALISTA DE UM SONETO
Olhando as formas de um soneto antigo,
Feito bem antes do descobrimento,
Um sonetista em desenvolvimento
Buscou, atento ao texto, um novo abrigo...
... vernacular... e em vão, quis disfarçar,
Com singular astúcia, o conteúdo,
Mudou os verbos, nomes, quase tudo,
Na intenção febril de o copiar.
Mas no final do último terceto,
O cidadão selou o seu soneto
Numa paráfrase tão surreal,
Que não contendo suas emoções,
Gritou: - Leitores! Roubei de Camões,
Este soneto feito em Portugal!
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UM POETA NÃO É SÓ SUBSTANTIVO
Sempre alguém diz que sou poeta até no nome...
...mas um poeta não é só substantivo...
o que se inventa, normalmente um dia some
e é assim: reinventando, eu sobrevivo.
Sou só mais um igual a tantos que diluem
nas suas dores, os seus sonhos e anseios,
seres que aprendem a criar versos que fluem,
polinizando a flor dos próprios devaneios.
Não modelei esse poeta que há em mim...
nasci assim, com esse dom especial
de abençoar, na solidão do meu jardim,
cada botão de cada flor original.
Não me sentei numa cadeira e copiei
o que pregava um ilustre professor,
mas diluí em cada olhar o que criei,
quando encontrei no meu olhar, meu próprio amor.
Meus mestres são sempre o melhor que alguém me dê,
sem me cobrar... o amor requer fraternidade...
e Deus repassa, a qualquer cristão que Nele que crê,
esse poder que existe dentro da humildade.
Deus misturou, em cada cor que eu desenhei,
o arco-íris da melhor abstração;
autodidata, cada linha que tracei,
foi um pedaço do meu próprio coração.
Sou, sim, poeta sem registro em cartório,
meu repertório não carece de um carimbo;
a inspiração é muito mais que algo simplório;
se alguém me bate, é com meus versos que me vingo.
Poetas choram poesias, quando o riso
que eles têm fazem da página, o caminho,
da sua lágrima melhor, tão sem aviso,
deixando um rastro moldado pelo carinho.
Não sou poeta só no nome, o meu olhar
capta a vida que respira ao meu redor
e é só o amor reaprender o que é sonhar,
que faço o mundo parecer muito melhor
Fonte:
Luiz Poeta. Nuvens de Versos. Campo Mourão/PR: Ed. J.Feldman, 2020.
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