D. Evinha ainda parecia nervosa. Um milagre não terem morrido. Aquele maluco devia estar preso, bem preso. Para nunca mais quase matar pessoas indefesas. Nereida chorava de vez em quando, embora não tivesse nenhum ferimento. Apenas uma pancada no joelho.
Preocupado com as consequências do pequeno acidente, Silvano se lamentava: quisera apenas ajudar a velhinha. Coitada, sob aquele sol do meio-dia, esperando ônibus! Mara, porém, duvidava ter sido esse o motivo da atitude do marido. Não teria parado o carro por causa da mocinha?
Revoltada, Mara contou detalhes do acidente à amiga Maria Serpa. Uma freada brusca e quase matou a velhinha e sua neta. A outra quis saber se Silvano conhecia as duas mulheres. Nem uma nem outra. Viu a mocinha à beira da calçada e parou o carro. Depois arranjou a desculpa da misericórdia pela velhinha exposta ao sol a pino. Um miserável! Vivia atrás de mulheres. Não respeitava ninguém.
Mal se deitaram, Maria Serpa puxou conversa com o marido. Se já sabia do acidente causado por Silvano. Sim, coisa sem importância. A anciã nem sofrera nada. Porém havia a mocinha. E o tarado talvez até estivesse pegando ela. Não, Silvano não seria capaz disso, jurava Coutinho. Era, sim. Disso e de muito mais. Capaz de estuprar a própria filha.
À hora do recreio, Nereida encontrou Ione. Quase morrera no dia passado. Um doido num carro. Ofereceu-lhe carona e por pouco não bateu noutro carro. Não, não o conhecia. Se estivesse sozinha, não teria entrado no carro. Apenas conversaram. Não, não fez nenhum convite. Nem tocou em suas pernas. Coitada da vozinha. Muito assustada. Talvez descuido dele. Parece chamar-se Silvano. A polícia queria prendê-lo.
Silvano contou tudo a Coutinho. Um descuido. A velhinha falava sem parar, a garota ria. Não, não conhecia nenhuma delas. Podia ter sido grave o acidente. E se a velhinha tivesse morrido? Nem pensar nisso. Quisera apenas praticar uma boa ação. Mara gostava de dizer tolices. Então não se preocupasse mais com aquilo. Não, de jeito nenhum. Tinha a consciência tranquila.
E mudaram de assunto.
Fonte:
Enviado pelo escritor.
Nilto Maciel. Pescoço de Girafa na Poeira. Brasília/DF: Secretaria de Cultura do Distrito Federal/Bárbara Bela Editora Gráfica, 1999.
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