Os homens, infelizmente,
não concordam com a Sorte.,.
— Alguns suplicam a Vida...
Outros procuram a Morte...
Há tanta gente descrente!
E nós — felizes, querida...
…Há tanta vida na gente!
E quanta gente sem vida!
No meu sonho apaixonado,
tanta realidade eu ponho,
que penso quando acordado,
que a Realidade é um Sonho!...
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HIPÓTESES
Se eu ficasse surdo!?...
Que tristeza se eu nunca mais ouvisse!
Um doce canto... este rumor da Vida
das aves a taful tagarelice...
e a tua veludosa voz, querida,
tão cheia de ternura e de meiguice...
Que tristeza se eu nada mais ouvisse.
Se eu ficasse mudo!?...
ah que tortura se eu ficasse mudo!
Ouvir a tua voz apaixonada,
em carícias macias de veludo,
não podendo sequer dizer um nada,
para dizer-te tendo n'alma: tudo...
Ah! que tortura se eu ficasse mudo!
Se eu ficasse cego ?!...
Que desgraça se nunca mais eu visse!
Não ver o azul do céu, o azul do mar!
Não ver essa expressão toda meiguice,
que tomas logo após eu te beijar
ou escutando coisas que eu já disse...
Que desgraça se nunca mais eu visse í
Mas julgo que pior inda seria:,
que ser surdo, ser cego ou então mudo,
se acaso o teu amor perdesse um dia,
pois se eu perdesse o amor perdia tudo...
Ah! não poder te amar! oh! que tristeza!
Que vida tão atroz, minha querida!
— Falar… Ouvir-te a voz... Ver-te a beleza!
Sem ter o teu amor, — a própria vida!...
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O CORRER DO TEMPO
Há anos tão venturosos,
tão repletos de alegrias,
que ao passarem, nós julgamos
ter vivido apenas dias...
E há dias tão tormentosos,
tão cheios de desenganos,
que julgamos ter vivido
nestes dias, muitos anos!...
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VELHO TRONCO
(Á Colombina)
Aquele velho tronco derrubado,
vai renascendo, aos poucos, outra vez…
Deu sombra ao caminhante fatigado!
Teve flores e frutos! Foi copado!
Aos homens quanto Bem ele já fez!
Mas um dia de morte foi ferido,
por este mesmo alguém de instintos brutos
que viera, um dia, exausto, combalido,
após longo caminho percorrido,
— provar a sua sombra e os seus frutos...
Imita o velho tronco derrubado,
ó poeta de alma livre, caluniado,
ferido por um mal que nunca fez!
Esquece o teu algoz de instintos brutos!
Da-lhe outra vez teus versos: — os teus frutos,
e a Sombra do Perdão mais uma vez…
Fonte:
Luiz Otávio. Um coração em ternura…: poesias. RJ: Irmãos Pongetti, 1947.
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