sábado, 1 de abril de 2023

Lóla Prata (Aborto)

Vera, uma católica, engravidou do sexto filho. Gravidez indesejada, visto que representaria mais despesa na família encalacrada por dívidas, com o marido desempregado, casal morando em casa dos pais. Veio a tentação de abortar, como solução do problema. Conflitos de consciência vieram, fortes e desconcertantes, abafados pela ideia fixa, tudo em surdina, para não atormentar mais o quadro terrível em que se achava o lar. E a tentação foi levada à prática: começou com lavagens vaginais, continuou com a ingestão de chás, pulos de alturas cada vez mais altas, compressas quentes, etc. A paz fugira de seu coração. O tempo passando, e a gravidez se denunciando nos enjoos e azias. Pouco dormia, emagrecia, tinha olheiras e tristeza. Nem percebia mais os outros filhos, também pequenos.

Uma noite, cansadíssima, estava na cama e rezou, imaginem, para que Deus a fizesse perder naturalmente, a criança. Dormiu quando a exaustão chegou ao auge. E sonhou... 

No sonho, seu pai lhe cochichava um conselho:

- Minha filha, pare com isso, senão, quando eu morrer, sairão três caixões de casa: o meu, o seu e o do bebê.

Ao despertar, lembrava-se perfeitamente do conselho e foi ao encontro do pai que estava na cozinha: – Papai, o senhor anda bem de saúde?

- Tinindo... tudo sob controle. E você, Vera, emagrecendo, triste? Alegre-se...

- Vou me alegrar... a partir de agora. Estou esperando outro filho...

- Parabéns! Será bem-vindo!

Vera voltou aos sacramentos; alojou a esperança novamente, em seu coração.

Alguns dias após o acontecido, o pai é vítima de enfarte fulminante. Choque duro para a família que, sofrendo muito, vê o corpo saindo da casa num caixão. A grávida lembrou-se do sonho e ponderou:

- Será que seriam três caixões?

Nunca saberemos!

Fonte:
Maria de Lourdes Prata Garcia (Lóla Prata). Provai e vede como o Senhor é bom! Bragança Paulista: ABR, 2009. Ebook enviado pela autora.

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