terça-feira, 18 de abril de 2023

Jaqueline Machado ( O Estrangeiro, de Alberto Camus)

Hoje, mamãe morreu. Ou talvez ontem, não sei”.

A abertura de “O estrangeiro",  obra escrita pelo escritor francês Albert Camus e publicada em 1942, é uma das mais famosas da literatura. 

Esta fala inicial é proferida pelo protagonista, Mersault, que demonstra frieza e quase desdém em relação à triste noticia.

Veja bem: “Hoje mamãe morreu”. Essa frase tem um tom neutro, talvez um tanto reflexivo, mas não diz muita coisa, e já na frase seguinte: “Talvez ontem, não sei”. É revelada a indiferença do filho em relação à perda de sua mãe. Ele, estranhamente, não parecia estar bem a par sobre o instante do falecimento da idosa, que vivia num asilo.

A narrativa trata de um cara  estrangeiro de si mesmo. Já que era um ser humano sem humanidade, insensível às coisas fundamentais da vida: amor, família, estudo e trabalho. Vivia num eterno “Tanto faz”. Aliás, esta frase é uma constante no livro, quase um mantra.   

Mersault corre para resolver tudo do enterro, como faz qualquer cidadão de bem, mas durante o velório, não chora, bebe café e ainda cochila.

Logo depois, parte para casa e pensa: preciso dormir umas doze horas. No outro dia vai à praia com a namorada e ao cinema assistir um filme engraçado.

Quando Maria, sua namorada, pergunta se ele a ama, ele responde que não. Ela quer casar. Ele leva o convite em consideração, já que isso parecia ser importante para a moça, mas para ele, casar ou não, não tinha importância alguma.

Em seguida, recebe de seu chefe uma proposta de trabalho em Paris. E o que ele responde ao patrão? “Tanto faz...

A história passa por uma reviravolta, quando um de seus vizinhos bate na amante e pergunta se Mersault  pode testemunhar a seu favor, dizendo que a briga foi uma coisa banal. Ele aceita. Como recompensa, ganhou uns dias numa praia. Nessa praia, nota a presença do irmão da moça espancada, que começa a perseguir o agressor. O calor é intenso, o sol ardia em sua pele, a água parecia um mar de fogo. A ira tomou conta do seu íntimo. Irritadíssimo, puxou sua arma e atirou no homem. Um tiro bastava para matá-lo, mas ele aproximou-se do corpo e atirou mais quatro vezes.

Por nada, matou um homem, comprando uma briga que nem era dele. É processado, condenado à execução, e fica a refletir: - “Que importa ser condenado à morte? Morrer aos trinta e poucos ou aos setenta? De toda forma estamos todos condenados à morte”. E aí entra outra vez a intenção do tanto faz.

Segundo os críticos literários, esta obra foi inspirada no absurdismo que é a teoria filosófica de que a vida em geral é absurda. E sem nexo. Mas psicanaliticamente falando, nos faz refletir profundamente a insensibilidade, o que torna um ser humano incapaz de sentir, de apaixonar-se pela existência.

O sentido da vida se encontra dentro do indivíduo que sente o perfume das flores, que vê beleza nos astros e que ama amar tudo e a todos. Sem essas percepções, realmente tudo perde a cor, o valor... O sentido de tudo se faz nulo e a razão de existir se torna ausente. Ok! Até aí, eu entendo, mas o que leva de fato um ser humano ser um estrangeiro em sua própria natureza? Sinceramente, nem Freud explica. 

Fonte:
Texto enviado pelo autora.

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