sexta-feira, 15 de março de 2024

Comemoração do Centenário de Carolina Ramos


Prestes a completar 100 anos, no dia 19 de março, a poetisa santista Carolina Ramos foi eternizada com o plantio de uma árvore no jardim da Pinacoteca Benedicto Calixto.

Com mais de 20 livros publicados e pelo menos 5 mil trovas. Carolina presidiu o Instituto Histórico e Geográfico de Santos, a União Brasileira de Trovadores e marcou a Academia Santista de Letras e outras instituições nas quais atuou.

Carolina diz ter sido surpreendida com a homenagem: "Foi uma coisa muito significativa para mim". A iniciativa partiu da presidente da Associação de Amigos da Pinacoteca, Cristina Guedes, com o apoio do presidente da Fundação Pinacoteca Benedicto Calixto e diretor-presidente da TV Tribuna, Roberto Clemente Santini.

"Ficamos imaginando o que poderia ser feito até chegarmos nessa proposta de plantar uma pitangueira, que representa a conexão espiritual, a força da natureza, e atrai pássaros. Então, eu acho que o jardim da Pinacoteca vai ser sempre assim, fonte de alimento e de energia para homenagear esse patrimônio da Cidade de Santos e essa pessoa tão gentil e tão delicada que é a Carolina", diz Cristina.

Santini recitou uma trova em homenagem à Carolina: 

"Quem não sabe e quem não sente 
que, às vezes, nos custa caro, 
a saudade de ser gente, 
quando ser gente é raro."

Outra homenagem que a escritora recebeu partiu do presidente da União Brasileira dos Trovadores - Seção de Santos, Antonio Coiavite, que compôs uma trova especialmente para a ocasião:

"Por ser comum, solitária,
franzina igual a menina,
que ela seja centenária
tal qual dona Carolina."

O escritor santista Flávio Viegas Amoreira também esteve na homenagem e contou que Carolina Ramos tem grande importância na literatura nacional. "Carolina é de uma tradição de escritores brasileiros que cantam Santos."

CENTENÁRIO
Carolina Ramos reflete que os 100 anos são acompanhados de cansaço e realizações. "Eu acho que eu cumpri minha vida. Se não foi brilhante, foi uma vida trabalhosa, que teve seus altos e baixos."

Para Carolina, o grande segredo para completar 100 anos é acreditar na vida e vivê-la como deve ser: "Em uma estrada, de mãos dadas com Deus". 

E um centenário é o motivo de comemoração para toda a família. Uma das filhas. Márcia Ramos, de 66 anos, estimulou a arte da mãe, que começou a se dedicar à poesia enquanto cuidava dela. "Eu achei muito simbólico, porque a árvore é uma coisa que eterniza, e a obra da minha mãe também irá ficar", diz. 

A bisneta Ângela Ramos, de 17 anos, cresceu ouvindo poesias e histórias contadas por Carolina Ramos. "Eu acho que as outras gerações devem conhecê-la. Uma pessoa incrível.”
Fonte: Ravena Soares, para o Jornal Santista.

ALGUMAS TROVAS PREMIADAS DE CAROLINA

A brisa... o mar... as cigarras...
as aves... quanta beleza
nas sinfonias bizarras
da orquestra da natureza!
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Ante as portas do sucesso
lembra, se as queres transpor,
quatro chaves dão-te acesso:
- Paz, Trabalho...Ação e Amor!
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A pior crise que existe,
é a injustiça a céu aberto!
- Nem a verdade resiste
quando o errado vira certo!!!
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Como dói, ver tanta gente,
em dias negros, medonhos,
beber o fel do presente,
sem mais direito a ter sonhos!
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Com ternura, quem não sente,
nas horas quietas dos sós,
como o passado é presente,
na lembrança de uma voz?!…
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De esperanças carregada,
velejou por tantos portos;
hoje retorna a jangada,
trazendo meus sonhos mortos.
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De não saber esperar,
que ninguém jamais te culpe,
sê paciente, igual ao mar,
que aos poucos a rocha esculpe.
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Era o mar incalmo e escuro,
quando eu, sem temer fracassos,
ao buscar porto seguro,
fui ancorar nos teus braços!
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Meus netos - lindo jardim
que em primaveras me envolve!
- são pedacinhos de mim
que a natureza devolve!
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Nos dilemas desta vida,
e nos conflitos das almas,
quando a razão é vencida,
o coração bate palmas!
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O porto pulsa, fecundo,
nas chegadas e partidas,
nutrindo artérias do mundo,
dando vida a tantas vidas!
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O vencedor não evita
que atrás da sua vitória,
a inveja, sombra maldita,
se projete à luz da glória!
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Penas?! - quem as quereria?
Quisera eu uma, se fora
a que teve em mãos, um dia,
Isabel, a Redentora!
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Sempre, a cada passo à frente,
cuida bem dos teus intuitos,
que de um passo do presente,
depende o amanhã de muitos!
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Sempre acolho de mãos postas
e humilde tento aceitar
o silêncio das respostas
que a vida não sabe dar.
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Se pensas que tens razão,
calça as sandálias do réu
- talvez concedas perdão
a quem negavas o céu!…
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Vai, meu veleiro de sonho...
vai buscar teu porto certo,
que esta vida é um mar tristonho,
mas, o mar é imenso e aberto!…
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Veleiro... em águas incertas,
leve e branco, à luz do luar,
és cisne de asas abertas,
como tentando voar!
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BIOGRAFIA DE CAROLINA RAMOS

Carolina nasceu em Santos/SP a 19 de março de 1924. Filha única de Francisco G. Ramos e Alzira Hervelha Ramos.

Do primeiro casamento, três filhos, Mariza, Márcia e Marcos, quatro netos e cinco bisnetos. Desde cedo atraída pelas letras, seus amigos mais chegados eram os livros. Essa preferência aproximou-a das artes e literatura. Estudou no Colégio São José, de Santos, do Jardim da Infância à Escola Normal, que lhe deu o Diploma de Professora e Secretariado.. Completou seus estudos formando-se em música e enfermagem.

Fez o curso completo de Música, nove anos de piano e matérias concomitantes, Teoria Musical, Harmonia, Pedagogia, História da Música etc.

Vários cursos de Literatura, de Folclore, Línguas e um pequeno Curso de Enfermagem, para compensar a sua frustração de não ter podido seguir Medicina, por não haver faculdade de Medicina (na época) em Santos.

Aprendeu muito com os livros de Lobato. Desde respeitar a natureza, conversar com as bonecas, subir em árvores e amar a vida do campo, através do Sítio do Picapau Amarelo, assim como sobre Gramática, Aritmética, Geografia, História, Astronomia, Folclore etc. Depois de Lobato, e de toda a literatura clássica infantil universal, a partir dos Contos da Carochinha, de fadas, de príncipes e princesas etc, leu na adolescência, tudo o que lhe caia nas mãos, desde toda a obra de Machado de Assis, José de Alencar, e outros escritores nacionais, poesia de Bilac, poetas clássicos e românticos, Victor Hugo, Euclides da Cunha, quase toda obra de Cronin, Rilke, etc.

Atraída pelas artes em geral. Desde pequenina, desenhando tudo o que via, até retratos de artistas de cinema, famosos. Vivia moldando bichinhos de barro, e sempre cercada de música. No ginásio, costumava fazer algumas quadrinhas de pé quebrado. Fez seu primeiro poema quando a filha, Márcia, nasceu, “Se eu soubesse esquecer”. 

Sua primeira aparição pública, que marcou o início da carreira poética, aconteceu em 1961. A Comissão Municipal de Cultura lançara um Concurso de Poesias, tendo como tema, SANTOS. compôs o poema “Gosto de ti, minha terra”, 3º lugar no referido Concurso 

Começou a publicar versos num Suplemento de Arte, do Jornal local, A Tribuna. Ainda em 61, concorri a um Concurso de Trovas do Centro Português de Santos. Tema: A Amizade entre Brasil e Portugal, mais um terceiro lugar. Na premiação, conheceu o poeta Orlando Brito (falecido) que lhe falou do Movimento Trovadoresco que alvorecia, induzindo-a a participar. Em 1964, alcançou seu primeiro prêmio de relevância na Trova, em Petrópolis.

Possui vários prêmios, no Brasil e alguns no Exterior, de Contos, Poesias, Trovas e Crônicas. 

Por seu poema, Paz, foi agraciada com Diploma e Medalha de Mérito Internacional, em Nocera - Salerno, Itália. 

Luiz Otávio e Carolina conheceram-se em 1964 e uma viagem trovadoresca a Natal, RN, em 1969, fez com que acontecesse entre os dois um verdadeiro encontro de  almas. Em 1973, já bastante doente, Luiz Otávio transferiu-se para Santos unindo sua vida a de Carolina, já divorciada. Quatro anos de amarga felicidade arrebatada pela morte, afinal. Tinha filhos para criar e sua mãe já estava bastante idosa. 

Conheceu Cláudio de Cápua e com ele chegou o companheirismo, o apoio e o ombro amigo que, depois de muito repúdio, acabou por ser aceito pela sua carência de afeto e necessidade de proteção . E foram quarenta anos de um casamento (civil e religioso) sem uma rusga sequer, até o falecimento dele.

Trovadora, contista, poeta, santista ilustre, foi Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Santos por oito anos (2001 a 2007) e é a atual Presidente da União Brasileira de Trovadores – Seção de Santos.

Carolina pertence a diversas entidades culturais, como Academia Santista de Letras, Academia Feminina de Letras, Academia Cristã de Letras de São Paulo, Centro de Expansão Cultural, Confraria Brasileira de Letras. Sócia Honorária da Casa do Poeta Lampião de Gás de São Paulo, Sócia correspondente da Academia Paulista de História, da Ordem Nacional dos Bandeirantes de São Paulo e de várias outras Academias de Letras e entidades culturais do Brasil.

Foi agraciada com diversas medalhas de mérito cultural, entre as quais a de "Magnífica Trovadora", em 1973, em Nova Friburgo-RJ, e em Santos, com a “Medalha do Sesquicentenário de Santos”, outorgada pela Prefeitura Municipal; “Medalha dos Andradas”, pelo IHG de Santos e “Medalha Brás Cubas”, outorgada pela Câmara de Santos, em 2006”.

Também recebeu diversos títulos, homenagens e prêmios em Portugal e Angola. Um dos mais importantes foi o Prêmio Rui Ribeiro Couto, da União Brasileira de Escritores de São Paulo.

Em 2021 foi agraciada com o título de "Princesa da Trova" 
 
Em 2023, vencedora do Hino Oficial da Academia Cristã de Letras de São Paulo.

Livros publicados:

“Sempre” – (Poesias) – 1964
“Cantigas Feitas de Sonho” – (Trovas) 1966
“Espanha”- (Poema épico) – 1968 – 2ª ed. 1992
“Rui Ribeiro Couto” – (Biografia) 1989
“Interlúdio” – (Contos) -1993
“Paulo Setúbal – Uma Vida Uma Obra”) 1994 ( biog. parceria c/Cláudio de Cápua)
“Júlia Lopes de Almeida” – (Biografia)1997
“Evocação” (40 anos/Assoc. Ex-Alunas do C. S. José /Santos) (parc. Edith Prata Real)
“Feliz Natal!” – (Contos Natalinos) - 1998  2ª ed. 2015
“Príncipe da Trova” – (Biografia) - 1999
“Saga de uma Vida” – (Biografia) - 2002
“Um Amigo Especial” – (Aventura Infanto-Juvenil) - 2003
“Liberdade... Sonho de Todos!” – (Prosa – Poesia – Trova) - 2010
“Destino” -  (Poesias) 2011
“A Trova – Raízes e Florescimento – UBT” – (Antologia/ UBT) – 2013
”Canta...Sabiá!”  (Folclore do Brasil) - 2021
"Histórias que a Bisa conta" (livro infanto-juvenil) - 2022
”Bichos... Bichinhos... e Bichanos...” (livro infantil) – 2023
 
Nas palavras de Carolina em entrevista concedida ao blog literário de José Feldman: 
A obra do escritor não tem fronteiras. Não há limites que cerceiem a sua criação, e, muito menos, cronológicos. Mas o escritor não é imune às influências do meio e da época em que vive. Seus escritos bebem a água da inspiração, na fonte que corre perto de seus pés. A voz do escritor incorpora a voz do seu tempo e, automaticamente, através do que escreve, passa a interagir, de acordo, ou não, com a vida que rola à sua volta, e até mesmo contra suas próprias convicções, segundo as exigências da personagem criada. Note-se, que há, sempre, escritores e poetas envolvidos nas grandes causas que o cercam e que acabam por marcar suas existências. É por isso, que podemos afirmar que poetas e escritores, em qualquer tempo ou lugar, são quase sempre ativistas sociais e arautos dos grandes acontecimentos que marcam o seu tempo.”

2 comentários:

Solange disse...

Linda homenagem!!
Parabéns, Carolina Ramos, Dama da Trova! Muitas bênçãos e alegrias para você! 🌹🪻🌻

Jota Feldman disse...

Solange Colombara,
Obrigado pelo seu comentário. Uma pessoa com tal força e tão querida merece com certeza o melhor que a vida pode oferecer.