FOLHA SÓ
A folha caída
ficou suspensa no ar...
As outras passaram,
caíram em turbilhão...
Mas essa ficou a sonhar...
____________________________
Desejo azul
Azul suave da alma
velas pandas desfraldadas
em chamas que acendeste
nas cores de primavera
pelas vagas noites sem fim
ao trocar os nossos fluidos
para o amor não morrer
naquele vulcão de espuma
vindo das ondas do mar
e só depois descansei
mas nada ainda mudou
de tudo o que já sentimos
quando o amor acordou
em azul iluminado
por isso quero mais azul
com corpo alma e mar
______________________________________________________
MAR
nasci numa ilha
a minha terra é o mar
a brisa e o vento
tornando pandas as velas
do nosso contentamento
voltei ao meu cais
mas apenas de passagem
não demoro mais
tenho de seguir viagem
pois assim vive um arrais
foi bom navegar
trespassando horizontes
lançando as pontes
dessa linha virtual
para as terras do além
______________________________________________________
INEBRIADO
Só a tua alma me inebria
e traz a alegria
de noites soalheiras
quando cansado da folia
de tardes enluaradas
renasce o adeus às armas
nos teus beijos salgados
com amor na madrugada
___________________________
INADAPTAÇÃO
Soltei a criança que era com saudades da mãe.
Brinquei com coisas sérias e não acreditaram em mim.
Entreabri as pálpebras do pensamento e entreguei-me ao devaneio dum sonho redondo nas areias do sossego.
Era a poesia.
Os alienígenas tinham cabelos de neve suja, olhos descaídos e assimétricos e barrigas de tamboril.
Enfrentavam com força, apenas com a força que a natureza lhes dera, todos os problemas que se lhes deparavam.
Era o terror.
Inadaptado, desejei a dinâmica dum náutilo para espiralar amor fraterno ou fogo draconiano sobre todo o perímetro defensivo.
Qual deles, não saberia.
Mas chegou a época glaciar e tudo ficou por ali.
Para mostrar como foi.
___________________________
Olvido
Sou poeta e amo as flores
para esquecer os horrores
das guerras por onde andei...
Mas provoquei tantas dores,
fiz sofrer os meus amores,
se sou poeta, não sei!
______________________________
Despedida
Fui despedido da vida
ando à procura de mim
não aceito o que me derem
só quero o que é meu
ser meu é ser tão distante
que não cabe num só verso
é poema grande e belo
que vou cantar para sempre
e quando chegar a noite
mais o canto das guitarras
todos irão para o sonho
menos as claves de sol
com que escrevi para ti
esta carta singular
_________
Para sempre
Hoje vou sonhar contigo
e acordar em desgraça
pois nada pode chegar
às promessas que trocamos
d’amor eterno que dure
a nossa vida inteira
por entre lençóis e beijos
durante noites sem fim
tantricamente te amo
como podes duvidar
após essas madrugadas
em que tanto magoamos
os sentidos acordados
antes de irmos descansar
___________________________
Raio de Luz
Vieste, raio de luz
iluminar a minha alma
dar-lhe o calor derradeiro
para a última viagem
chegaste cedo amor
ficaria cá mais tempo
mas se queres partir já
espera só um momento
apenas p’ra um adeus
às flores que adorei
pois é tempo de voar
e quero ir só contigo
nesta marcha nupcial
rumo à eternidade
___________________
Letras & Palavras
Os poemas não são deuses
que eu tenha de adorar
por isso não digo nada
dou às letras liberdade
comecei a escrever
sem saber como acabava
pois as palavras caíam
como lágrimas choradas
e quase a chegar ao fim
com grande surpresa minha
elas lá se entenderam
e numa dança anarquista
as letras e as palavras
de poema se vestiram
________
Sem Peias
Quero fazer versos
sem bitola
sem ter andado na escola
a aprender poesia...
Estou-me nas tintas para a métrica
desde que o sentido obedeça
à imagem verdadeira
que quero transmitir!...
E o mesmo para a rima!
Eu sou livre e faço o que quero.
Tudo é tão claro,
tão verdade e com tanta estima...
Que é poesia
só pela liberdade tão liberta
de conter mensagem
sem escola, sem métrica e sem rima
mas sempre verdade,
verdadeira,
daquela que não se ensina!
________________________________
Boa Companhia
O diabo da Sineta.
os Quixotes do Miguel,
mais as quimeras do Jó
e as Guerras de Maria...
A mão, o barro, o pincel
em tão estreita harmonia,
nunca mais estarei só
em tão boa companhia!
_________________________
Tangar...
Amo quem ama o tango...
vou tangar até morrer
nessas pampas tão argênteas
onde os corações se perdem
e as almas voam eternas
se dançar é ser etéreo
e ter asas para voar
deixarei o cais terreno
pelo espaço sideral...
perderei peso corpóreo
serei mais leve que o ar
girarei ao som do vento
e ao marulhar do mar...
________
Tejo à Noite
São luzes antropomórficas
verticais e embuçadas
a verter sombra no Tejo
mas recebendo os reflexos
das irmãs da outra margem
em estuário se abrindo
e levando para o mar
as mágoas e alegrias
tiradas às nossas almas
navegantes como outrora
os torreões levantados
fortalezas junto ao mar
são sinais do meu passado
e prenúncio do além
dum momento para o outro
o vento alevanta o rio
e as fragatas sonolentas
acordam em sobressalto
alvorada do amor
nasceu para toda a gente
em busca do universo
e as águas então paradas
espelho da noite ao fim
revoltam-se alvoroçadas
vão a caminho da foz
e levam a nossa alma
que já era apenas uma
e toca nas duas margens
numa cantata de espuma
----------------------
Bom remédio
A solidão tem remédio
- já dizia o palestrante
quem não quiser estar só
vá fazer um piquenique
lá prò inferno de Dante
________
Delicadeza
Estou à espera da morte
sentado e muito bem
quando chegar bate à porta
delicado a convido
venha sentar-se também
__________________________
Nocturno em Setembro
Hoje a lua nasce muito mais tarde
Nesta tristeza que trago comigo
Rompe farrapos do céu sem estrelas
Prata que não tange os sinos da aldeia
Dormem os poetas da minha rua
E os cães ladram sem saber porquê
Enquanto mais além é o silêncio
Que governa o tempo e o espaço
E eu observador intemporal
Prisioneiro de minhas verdades
Deitei-me logo a adivinhar
Se mais tarde quando o sol nascer
A lua lhe vai dizer em segredo
A solidão que passou esta noite
_______
Lina Linda
Por quê?
Por que gosto de ti?
Porque és rebelde e Lina
Porque és Lina e linda
Porque és linda e és assim...
Porque teus olhos dizem o que sei
aos sonhos de noites sem fim...
Porque a tua boca consente
os carinhos que senti...
Porque a tua música dolente
juntou lábios sequiosos enfim...
Porque o mundo não vai acabar
sem a nossa apoteose ao luar...
Olhos nos olhos e coração d'amar.
Foi assim, Lina Paula,
fomos ambos prà aula
do amor
e saímos ensinados
dessa bela escola
aos ombros a sacola
e a bola aos pés....
Éramos lindas crianças
felizes enamorados
eu puxava as tuas tranças
e corríamos pelos prados
voando nas asas inquietas
da tua garota arlequim
a pintar flamas rosadas
beijando lábios de carmim...
E ao chegar ao mar,
bela Lina linda,
perguntei-te ainda
se querias embarcar...
E te fizeste às ondas
em tão doce navegar...
Eu te segui e seguirei
por montanhas e fundo do mar
até chegar à morada
do ser ausente que era
colhendo saudades à espera...
Mas a música da tua pele
deixou poesia em mim
e trinados d'andorinha
no beiral da minha alma,
linda flor do meu jardim!
E foi então...
Lina Paula, Lina linda
que no leito deste Sireu
se apagou a vela solitária,
dando lugar à canção vária...
E o amor aconteceu...
________
A folha caída
ficou suspensa no ar...
As outras passaram,
caíram em turbilhão...
Mas essa ficou a sonhar...
____________________________
Desejo azul
Azul suave da alma
velas pandas desfraldadas
em chamas que acendeste
nas cores de primavera
pelas vagas noites sem fim
ao trocar os nossos fluidos
para o amor não morrer
naquele vulcão de espuma
vindo das ondas do mar
e só depois descansei
mas nada ainda mudou
de tudo o que já sentimos
quando o amor acordou
em azul iluminado
por isso quero mais azul
com corpo alma e mar
______________________________________________________
MAR
nasci numa ilha
a minha terra é o mar
a brisa e o vento
tornando pandas as velas
do nosso contentamento
voltei ao meu cais
mas apenas de passagem
não demoro mais
tenho de seguir viagem
pois assim vive um arrais
foi bom navegar
trespassando horizontes
lançando as pontes
dessa linha virtual
para as terras do além
______________________________________________________
INEBRIADO
Só a tua alma me inebria
e traz a alegria
de noites soalheiras
quando cansado da folia
de tardes enluaradas
renasce o adeus às armas
nos teus beijos salgados
com amor na madrugada
___________________________
INADAPTAÇÃO
Soltei a criança que era com saudades da mãe.
Brinquei com coisas sérias e não acreditaram em mim.
Entreabri as pálpebras do pensamento e entreguei-me ao devaneio dum sonho redondo nas areias do sossego.
Era a poesia.
Os alienígenas tinham cabelos de neve suja, olhos descaídos e assimétricos e barrigas de tamboril.
Enfrentavam com força, apenas com a força que a natureza lhes dera, todos os problemas que se lhes deparavam.
Era o terror.
Inadaptado, desejei a dinâmica dum náutilo para espiralar amor fraterno ou fogo draconiano sobre todo o perímetro defensivo.
Qual deles, não saberia.
Mas chegou a época glaciar e tudo ficou por ali.
Para mostrar como foi.
___________________________
Olvido
Sou poeta e amo as flores
para esquecer os horrores
das guerras por onde andei...
Mas provoquei tantas dores,
fiz sofrer os meus amores,
se sou poeta, não sei!
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Despedida
Fui despedido da vida
ando à procura de mim
não aceito o que me derem
só quero o que é meu
ser meu é ser tão distante
que não cabe num só verso
é poema grande e belo
que vou cantar para sempre
e quando chegar a noite
mais o canto das guitarras
todos irão para o sonho
menos as claves de sol
com que escrevi para ti
esta carta singular
_________
Para sempre
Hoje vou sonhar contigo
e acordar em desgraça
pois nada pode chegar
às promessas que trocamos
d’amor eterno que dure
a nossa vida inteira
por entre lençóis e beijos
durante noites sem fim
tantricamente te amo
como podes duvidar
após essas madrugadas
em que tanto magoamos
os sentidos acordados
antes de irmos descansar
___________________________
Raio de Luz
Vieste, raio de luz
iluminar a minha alma
dar-lhe o calor derradeiro
para a última viagem
chegaste cedo amor
ficaria cá mais tempo
mas se queres partir já
espera só um momento
apenas p’ra um adeus
às flores que adorei
pois é tempo de voar
e quero ir só contigo
nesta marcha nupcial
rumo à eternidade
___________________
Letras & Palavras
Os poemas não são deuses
que eu tenha de adorar
por isso não digo nada
dou às letras liberdade
comecei a escrever
sem saber como acabava
pois as palavras caíam
como lágrimas choradas
e quase a chegar ao fim
com grande surpresa minha
elas lá se entenderam
e numa dança anarquista
as letras e as palavras
de poema se vestiram
________
Sem Peias
Quero fazer versos
sem bitola
sem ter andado na escola
a aprender poesia...
Estou-me nas tintas para a métrica
desde que o sentido obedeça
à imagem verdadeira
que quero transmitir!...
E o mesmo para a rima!
Eu sou livre e faço o que quero.
Tudo é tão claro,
tão verdade e com tanta estima...
Que é poesia
só pela liberdade tão liberta
de conter mensagem
sem escola, sem métrica e sem rima
mas sempre verdade,
verdadeira,
daquela que não se ensina!
________________________________
Boa Companhia
O diabo da Sineta.
os Quixotes do Miguel,
mais as quimeras do Jó
e as Guerras de Maria...
A mão, o barro, o pincel
em tão estreita harmonia,
nunca mais estarei só
em tão boa companhia!
_________________________
Tangar...
Amo quem ama o tango...
vou tangar até morrer
nessas pampas tão argênteas
onde os corações se perdem
e as almas voam eternas
se dançar é ser etéreo
e ter asas para voar
deixarei o cais terreno
pelo espaço sideral...
perderei peso corpóreo
serei mais leve que o ar
girarei ao som do vento
e ao marulhar do mar...
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Tejo à Noite
São luzes antropomórficas
verticais e embuçadas
a verter sombra no Tejo
mas recebendo os reflexos
das irmãs da outra margem
em estuário se abrindo
e levando para o mar
as mágoas e alegrias
tiradas às nossas almas
navegantes como outrora
os torreões levantados
fortalezas junto ao mar
são sinais do meu passado
e prenúncio do além
dum momento para o outro
o vento alevanta o rio
e as fragatas sonolentas
acordam em sobressalto
alvorada do amor
nasceu para toda a gente
em busca do universo
e as águas então paradas
espelho da noite ao fim
revoltam-se alvoroçadas
vão a caminho da foz
e levam a nossa alma
que já era apenas uma
e toca nas duas margens
numa cantata de espuma
----------------------
Bom remédio
A solidão tem remédio
- já dizia o palestrante
quem não quiser estar só
vá fazer um piquenique
lá prò inferno de Dante
________
Delicadeza
Estou à espera da morte
sentado e muito bem
quando chegar bate à porta
delicado a convido
venha sentar-se também
__________________________
Nocturno em Setembro
Hoje a lua nasce muito mais tarde
Nesta tristeza que trago comigo
Rompe farrapos do céu sem estrelas
Prata que não tange os sinos da aldeia
Dormem os poetas da minha rua
E os cães ladram sem saber porquê
Enquanto mais além é o silêncio
Que governa o tempo e o espaço
E eu observador intemporal
Prisioneiro de minhas verdades
Deitei-me logo a adivinhar
Se mais tarde quando o sol nascer
A lua lhe vai dizer em segredo
A solidão que passou esta noite
_______
Lina Linda
Por quê?
Por que gosto de ti?
Porque és rebelde e Lina
Porque és Lina e linda
Porque és linda e és assim...
Porque teus olhos dizem o que sei
aos sonhos de noites sem fim...
Porque a tua boca consente
os carinhos que senti...
Porque a tua música dolente
juntou lábios sequiosos enfim...
Porque o mundo não vai acabar
sem a nossa apoteose ao luar...
Olhos nos olhos e coração d'amar.
Foi assim, Lina Paula,
fomos ambos prà aula
do amor
e saímos ensinados
dessa bela escola
aos ombros a sacola
e a bola aos pés....
Éramos lindas crianças
felizes enamorados
eu puxava as tuas tranças
e corríamos pelos prados
voando nas asas inquietas
da tua garota arlequim
a pintar flamas rosadas
beijando lábios de carmim...
E ao chegar ao mar,
bela Lina linda,
perguntei-te ainda
se querias embarcar...
E te fizeste às ondas
em tão doce navegar...
Eu te segui e seguirei
por montanhas e fundo do mar
até chegar à morada
do ser ausente que era
colhendo saudades à espera...
Mas a música da tua pele
deixou poesia em mim
e trinados d'andorinha
no beiral da minha alma,
linda flor do meu jardim!
E foi então...
Lina Paula, Lina linda
que no leito deste Sireu
se apagou a vela solitária,
dando lugar à canção vária...
E o amor aconteceu...
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