quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Aloisio Alves da Costa (20 Novembro 1935 – 24 Fevereiro 2010)



Aloísio Alves da Costa, o "Velho Marujo" como gostava de ser chamado faleceu na data de hoje, 24 de fevereiro de 2010.

Aloísio nasceu a 20 novembro de 1935 em Umari/CE, filho de Vicente Alves da Costa e Vicência Alves Aranha. Ex militar da Marinha brasileira. Residiu bom tempo em Nova Friburgo, onde iniciou suas atividades poéticas obteve o honroso título de "Magnífico Trovador". Publicou "Cantigas um sonhador" e "Cantigas de três”.
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Trovas que Deixam Saudades

Quem não aprende em menino,
tem que aprender na velhice,
que ter pai pobre é destino,
mas sogro pobre é burrice!...

Minha irmã conta as topadas,
que já deu pelos caminhos,
pelas pedras arrancadas...
- E eu conto, pelos sobrinhos!...

Sambando quase pelada,
no 'No bloco do vai sem medo",
Paulete foi mais cantada
que o refrão do samba enredo..

Quando a noiva viu a cama
que a esperava pra dormir,
mandou sustar o proclama
e desistiu do faquir!...

Na farmácia, ao ver o busto
da balconista, hesitante,
em vez de xarope, o Augusto
pediu mesmo foi calmante!...

O que faz eu ter ciúme
da Rosinha - diz o Freire:
- É que a Rosa tem perfume
mas não é flor que se cheire...

Sendo orador de alta escala,
é tão profundo e erudito,
que a gente, quando ele fala,
só entende o... "tenho dito".

Partiste, chorando tanto,
no teu rumo oposto ao meu,
que, solidário ao teu pranto,
o céu fechou-se... e choveu...

Na tua ausência, a meu lado,
em cima de nossa mesa,
o candelabro apagado
mantém a saudade acesa!...

Teimei no amor... e errei tanto
na teimosia de amar,
que eu mesmo não sei mais quanto
errei tentando acertar!...

Partiste, cigana errante,
e de uma noite em teu leito,
restou-me um sonho distante
e esta saudade em meu peito'...

Meu sonho em mágoa desfeito,
tão grande fez meu desgosto,
que não cabendo em meu peito
se fez pranto em meu rosto!...

Feito de essência divina
e fluídos de eternidade,
um grande amor não termina,
mas se transforma em saudade!

Dando na alma embevecida,
laços de amor e amizade,
fui, na jangada da vida
um pescador de saudade!...

Sempre que a vida me nega
segurança nos meus passos,
minha esperança me pega
e me carrega nos braços!

Na luta contra a cobiça,
mantendo na alma a esperança,
meu desejo de justiça
é maior que o de vingança!

Quando a vida se complica
nas horas de solidão,
amigo é aquele que fica
depois que os outros se vão.

Não busques falso tesouro
se bens duráveis garimpas...
Nem sempre as mãos que têm ouro
e pedras raras, são limpas...

Castigado desde cedo,
tanto apanhei do destino,
que nunca tendo um brinquedo,
nem lembro que fui menino.

Dói a saudade em meu peito
e eu canto, não silencio...
Quando mais pedras no leito,
mais alto o canto do rio!...

Nem ouro, nem pedra rara,
nada que vem do garimpo,
vale um fio de água clara
no leito de um rio limpo...

Quando a voz de um pai ressoa
e a de um filho abaixa o tom,
conselho é semente boa,
plantada em terreno bom!

Sou de onde o vento trabalha,
lá onde a brisa fagueira
embala de leve a palha,
beijando a carnaubeira! ...

Era uma vez uma dona
que andava a pé, sem ninguém;
e tanto pediu carona,
que ganhou carro também! ...

Teu olhar... a voz macia...
tuas promessas de amor...
- são notas de fantasia
na pauta da minha dor.

Dos jogos o mais nocivo,
até hoje, em meu caminho,
tem sido o rebolativo da mulher
do meu vizinho!

Dos ideais o maior
é viver, lutar, e, após,
deixar um mundo melhor
aos que vêm depois de nós.

Enquanto o Zé Liberato
sai em busca da gatinha,
pela janela entra um gato
que janta a sua sardinha!

Creio em Deus, unicamente
não ando rezando à-toa...
- tenho uma alma que sente
e um coração que perdoa!

Somente um bem acontece
quando a gente cai doente:
doente é que se conhece
quem é amigo da gente.

Vejo em ti, coroa rica,
dois males que não têm cura:
- capa de pura pelica,
- cara de pelanca pura!

De olhos baços, pelas ruas,
vi, distante de Belém,
que sem a chuva das duas,
saudade molha também!

Já diz o velho ditado,
que lenha verde e viúva,
com paciência e cuidado
pegam fogo até na chuva!...

Quando a lei se faz omissa
e a impunidade se solta,
do silêncio da justiça
surgem gritos de revolta...

Não condeno o revoltado
que defende seu direito...
-revolta de injustiçado,
merece todo respeito!

Quando instantes de carinho,
trazem saudades depois,
lembrança é viver sozinho
de um sonho vivido a dois.

Quando não vens, na ansiedade
desses momentos perversos,
vem a musa da saudade
pôr mais saudade em meus versos.

Agora que tu partiste
e a saudade está chegando,
desculpe o meu verso triste,
minha musa está chorando!...

Volátil, discreta e doce,
no instante certo, presente,
a musa é como se fosse
o anjo-da-guarda da gente...

As musas, não posso vê-las...
vivem num mundo distante...
mas posso além das estrelas
ouvi-las a todo instante

No momento doce e breve
que a inspiração nos invade,
dos versos que a gente escreve,
a musa escreve metade!...

Na luta contra a cobiça,
mantendo na alma a esperança,
meu desejo de justiça
é maior que o de vingança!

Preguiçoso, o "ZÉ PIJAMA",
Tanta preguiça agasalha,
Que a mulher só não reclama
Porque o vizinho trabalha.

Mensagem de amor profundo,
nos deu o Mestre Divino...
O maior homem do mundo
antes foi pobre menino!...

Esta saudade infinita
do amor que a gente viveu,
é a mensagem mais bonita
que o meu passado viveu!...

Vencendo o tempo e a distância,
mensagens da mocidade,
sempre nos trazem da infância,
saudade ... muita saudade...

Mensagem que se recebe
e nos enche de quimeras,
é aquela em que se percebe
que as palavras são sinceras

Ante o medo que angustia,
talvez a grande mensagem,
fosse a que Deus nos diria ...
- Coragem, filho, coragem ...

Dói a saudade em meu peito
e eu canto, não silencio...
Quanto mais pedras no leito
mais alto o canto do rio!

Na tua ausência, ao meu lado
em cima da nossa mesa,
o candelabro apagado
mantém a saudade acesa.

Dentro da noite inclemente
De frio intenso e garoa,
o agrado de um beijo quente
garante que a noite é boa!...

- Pelas ruas da lembrança,
nas cirandas das calçadas,
saudade, sonho e esperança,
brincam juntos de mãos dadas!

- Quando o amor se faz lembrança
e a solidão nos invade,
ou se vive de esperança
ou se morre de saudade...

- Quando Deus fez da Trindade
a divina aventurança,
entre a fé e a caridade,
pôs em destaque a esperança...

- Na carta que ela me fez,
nas reticências sem fim,
a incerteza de um "talvez"
dá-me esperanças de um "sim"...

Na linha desta saudade,
que é tua e também é minha,
nós somos nós de verdade
nas duas pontas da linha!

Passa o tempo, a idade avança...
e na velhice inclemente,
a velha, numa cobrança
mata o velho... inadimplente...

Toda noite na gandaia,
vai muito mal a Loló...
Pois perdeu além da saia
outras coisas no forró.
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Fonte:
UBT Juiz de Fora

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