"Frente ao bloqueio sistemático das editoras, um circuito paralelo de produção e distribuição independente vai se formando e conquistando um público jovem que não se confunde com o antigo leitor de poesia."
O parágrafo acima poderia se referir ao novo paradigma surgido com a era digital, ou às dezenas de saraus de poesia que surgem hoje na perifeira de São Paulo, mas não. Consta no prefácio escrito por Heloisa Buarque de Hollanda para o livro 26 poetas hoje (Aeroplano, 2007, 6° ed.), em 1975. Naquela época, enquanto no mundo girava a roda de aquários e a geração hippie, inspirada na sua predecessora beat, vivia sua onda, no Brasil corria solta a censura e a repressão militar. Foi o período do chamado vazio cultural, diagnosticado pelo jornalista Zuenir Ventura e decorrente do silenciamento forçado das vozes criativas.
À margem das atenções, pelo seu poder de audiência reduzido, a poesia tornou-se uma área de livre manifestação, abarcando frustrações, fosse da juventude, fosse da esquerda. Proliferavam os volumes de produção independente, vendidos diretamente pelo autor, impressos em mimeógrafos, confeccionados com originalidade e esgotados rapidamente. A poesia, pelo menos no Rio de Janeiro, acontecia e parecia estar em toda parte: em recitais, lançamentos, portas de teatro e bares da moda.
O livro organizado por Heloisa tinha por intenção "reunir num livro 'de editor', e, portanto num livro que se insinuasse num circuito mais amplo, manifestações isoladas ou praticamente isoladas, que eu percebia como importantes no campo da cultura e no campo da literatura", disse a crítica literária à revista José no ano seguinte da publicação do livro. Os poetas escolhidos, de diferentes gerações e motivações, portanto desorganizados como grupo, eram todos praticantes de uma mesma dicção ligada ao cotidiano e donos de uma atitude de desierarquização do espaço nobre da poesia. Uma revisitação mais forte do ideal modernista de 1922. 26 poetas hoje (Aeroplano) foi além do pretendido e virou espécie de retrato oficial do que é considerado o último grande rótulo da poesia brasileira: a poesia marginal.
Logo de cara, o livro obteve enorme repercussão nos jornais e atiçou como nunca o meio acadêmico, impulsionando a carreira de crítica literária da já estabelecida professora universitária Heloisa Buarque. Essa história está contada em Escolhas: uma autobiografia intelectual (Lingua Geral): "Para meu espanto, a antologia teve uma repercussão inexplicável. Sou convidada para conferências, seminários, entrevistas. O pequeno volume da Editora Labor foi resenhado e escrutinado em um sem número de jornais e revistas. Os jornalistas se entusiasmavam com uma 'novidade' para os espaços melancolicamente vazios de seus cadernos e suplementos culturais. Os professores e criticos dividiam-se frente à uma possivel 'agressão' à instituição literária", escreveu Heloisa no seu mais recente livro.
Hoje, 26 poetas hoje (Aeroplano) transformou-se em uma antologia clássica. Os poetas nela presentes, por ironia, se tornaram cânone e temas de teses de mestrado e doutorado, quando antes eram sequer considerados literatura. Alguns já estão mortos, como Torquatto Neto, Ana Critina César e Waly Salomão; outros ainda vivem a poesia, como Roberto Piva e Chico Alves; um, Roberto Schwartz, um dos maiores críticos literários em atividade; outros, como Chacal, Capinam e Geraldo Carneiro, roteiristas e compositores.
Fonte:
http://portalliteral.terra.com.br/blogs/26-poetas-hoje-digital
O parágrafo acima poderia se referir ao novo paradigma surgido com a era digital, ou às dezenas de saraus de poesia que surgem hoje na perifeira de São Paulo, mas não. Consta no prefácio escrito por Heloisa Buarque de Hollanda para o livro 26 poetas hoje (Aeroplano, 2007, 6° ed.), em 1975. Naquela época, enquanto no mundo girava a roda de aquários e a geração hippie, inspirada na sua predecessora beat, vivia sua onda, no Brasil corria solta a censura e a repressão militar. Foi o período do chamado vazio cultural, diagnosticado pelo jornalista Zuenir Ventura e decorrente do silenciamento forçado das vozes criativas.
À margem das atenções, pelo seu poder de audiência reduzido, a poesia tornou-se uma área de livre manifestação, abarcando frustrações, fosse da juventude, fosse da esquerda. Proliferavam os volumes de produção independente, vendidos diretamente pelo autor, impressos em mimeógrafos, confeccionados com originalidade e esgotados rapidamente. A poesia, pelo menos no Rio de Janeiro, acontecia e parecia estar em toda parte: em recitais, lançamentos, portas de teatro e bares da moda.
O livro organizado por Heloisa tinha por intenção "reunir num livro 'de editor', e, portanto num livro que se insinuasse num circuito mais amplo, manifestações isoladas ou praticamente isoladas, que eu percebia como importantes no campo da cultura e no campo da literatura", disse a crítica literária à revista José no ano seguinte da publicação do livro. Os poetas escolhidos, de diferentes gerações e motivações, portanto desorganizados como grupo, eram todos praticantes de uma mesma dicção ligada ao cotidiano e donos de uma atitude de desierarquização do espaço nobre da poesia. Uma revisitação mais forte do ideal modernista de 1922. 26 poetas hoje (Aeroplano) foi além do pretendido e virou espécie de retrato oficial do que é considerado o último grande rótulo da poesia brasileira: a poesia marginal.
Logo de cara, o livro obteve enorme repercussão nos jornais e atiçou como nunca o meio acadêmico, impulsionando a carreira de crítica literária da já estabelecida professora universitária Heloisa Buarque. Essa história está contada em Escolhas: uma autobiografia intelectual (Lingua Geral): "Para meu espanto, a antologia teve uma repercussão inexplicável. Sou convidada para conferências, seminários, entrevistas. O pequeno volume da Editora Labor foi resenhado e escrutinado em um sem número de jornais e revistas. Os jornalistas se entusiasmavam com uma 'novidade' para os espaços melancolicamente vazios de seus cadernos e suplementos culturais. Os professores e criticos dividiam-se frente à uma possivel 'agressão' à instituição literária", escreveu Heloisa no seu mais recente livro.
Hoje, 26 poetas hoje (Aeroplano) transformou-se em uma antologia clássica. Os poetas nela presentes, por ironia, se tornaram cânone e temas de teses de mestrado e doutorado, quando antes eram sequer considerados literatura. Alguns já estão mortos, como Torquatto Neto, Ana Critina César e Waly Salomão; outros ainda vivem a poesia, como Roberto Piva e Chico Alves; um, Roberto Schwartz, um dos maiores críticos literários em atividade; outros, como Chacal, Capinam e Geraldo Carneiro, roteiristas e compositores.
Fonte:
http://portalliteral.terra.com.br/blogs/26-poetas-hoje-digital
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