quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Cristina Arraes Moreira (Reflexões Após Leitura)


Acabo de reler o livro “O Retrato de Dorian Gray” de Oscar Wilde, onde se encontra muitas reflexões que são inerentes ao ser humano. Ali se pode ter a oportunidade de ver retratado as preocupações com a beleza, em contraponto com nossa própria essência. Opções de vida, decisões que podem transformar nossa realidade também é ali apresentado de forma cativante e real.

Começo pela preocupação por uma beleza, muito menos desejada e muito mais imposta por um mundo, cuja população tem necessidade de modelos para se tornarem semelhantes. Mas o que é esta perfeição física, sem um espírito que a anime e a faça presente e participante?

Se pudéssemos separar a alma do corpo, como se fossem dois, o que seria um disparate, com qual parte gostaríamos de ficar? Optando pela alma, tenho o corpo físico junto porque ela é a verdadeira essência de ser. Mas o que acontece se, como o autor descreve, tem-se um desejo profundo de se tornar eternamente jovem, sem que as experiências da vida tenham qualquer sinal no que as pessoas podem ver.

Realmente fiquei muito pensativa, perdida nestas reflexões. Olho-me ao espelho e posso vislumbrar uma vida toda, de amores e decepções, tristezas, alegrias, dúvidas, realizações, tudo enfim que me fez ser o que sou hoje.

Lembro então do personagem desta obra, que fez a opção de não ver exteriorizado todo este caminho, sua verdadeira história. O autor consegue transmitir o completo vazio que se apodera do ser humano, ao se ver separado de suas emoções.

O mundo ocidental apresenta uma super valorização da juventude, sua disponibilidade, seu frescor, sua forma de sonhar e buscar seus projetos. As “não marcas” em seu corpo por uma história que apenas se inicia. Tudo isto é perfeito, na hora certa, no momento certo. Mas tentar eternizar esta condição, seria loucura, um desmando em relação à própria natureza.

História... A minha história, a sua história... Quantas coisas se perderiam se não houvesse um registro de fatos e emoções. E que são estes registros? Marcas que o tempo coloca em nosso corpo, mapa de uma existência que é dádiva e que se deve preservar. O personagem, provavelmente se olhava no espelho e deveria sentir o vazio de sua aparência, sua identidade se tornava algo irreconhecível, perdido no desejo da vaidade.

Gosto de minha vida, gosto de minha história, gosto de minhas experiências, gosto de me olhar e sentir que realmente vivi, que fiz diferença neste mundo, para mim, para os que encontrei, para os que amo. Não renuncio a isto por uma bonita imagem que o mundo anseia por impor. Que venha a maturidade, com suas transformações físicas, emocionais, espirituais, presentes de anos de vivência, ricos de tentativas, sucessos, derrotas.

Para tudo há o seu momento e, infeliz daquele que ousar modificar a ordem natural das coisas. Como é bom, como é gratificante ir conhecendo, aos poucos, tudo que se adquire com os anos que passam. Melhor ainda chegar à compreensão de que, por mais que se estude, mais teremos a aprender. A constatação de que a vida é um livro que não tem fim. A morte vem e interrompe o simples passar das páginas. Fica o enredo, fica a história, que servirá para outros continuarem.

Mate-se os sinais da própria vida, mate-se as emoções retratadas nas mãos, nos olhos, no corpo e há que se ter a morte que se precipita, chega-se ao fim, prematuramente.

Fonte:
http://www.vaniadiniz.pro.br/

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