domingo, 28 de fevereiro de 2010

Aparecido Raimundo de Souza (O Encantador de sonhos)


“Quid scribit, bis legit”

“De médico e de louco todos temos um pouco. E de escritor também”- disse Harold Robbins em 1998 numa de suas entrevistas em Nova Iorque. Naquela época, isso já provava que um número cada vez maior de aspirantes sonhava com o fantástico mundo literário. De fato. Ainda hoje, quase dez anos depois, não são poucas as pessoas que buscam uma porta de editora aberta, de acesso fácil à publicação de sua obra, de um editor que acredite no talento do autor principiante e ofereça, a ele, a oportunidade tão almejada de ver seus trabalhos publicados e, claro, a disposição do respeitável público nas prateleiras das livrarias mais concorridas do país.

Nesta terra onde tanto se fala e se apregoa em propagar o livro e a boa leitura àqueles mais carentes, sabemos que, no fundo, por detrás das coxias, tudo não passa de pura balela, conversa fiada para boi dormir. Na verdade, o governo não está preocupado com a educação dos jovens, em mostrar ao mundo o talento de seus compatriotas. Ele quer que nossas crianças sejam, no amanhã – não o futuro da nação, mas um bando de analfabetos, tipo vaquinhas de presépio – de preferência que não saiba discernir um automóvel de uma bicicleta.

Todavia, apesar dos pesares, nem todos pensam assim. No meio dessa cambada de oportunistas da pior espécie, encontramos alguém que ainda pensa em estar do outro lado da porta, de braços abertos, à espera, para dar as boas vindas ao escrevinhador desconhecido. É o caso de Albert Paul Dahoui que, no intuito de “facilitar a vida de quem sonha em fazer livros e conquistar leitores”, abriu uma editora, no Rio de Janeiro, a Corifeu, que vem publicando, com regularidade, uma gama de novos talentos, como Dilson César Devides - 30 anos de Rock: Raul Seixas e a cultura brasileira de 1970 à contemporaneidade; Mário Alvim - Via Láctea; Gabriel Torres - Conspiração; Jurandir Araguaia - O Homem que não bebia cerveja; José Eduardo Stamato- Tempo de transformação; Angélica Borges - O Monge; Dy Lugon - Momentos; José Cornetta - A Construçao do ser; Julio Silva - Sonhos&Desejos; Antonio Valter Kuntz - Original Dewey; Diogo Santana - Fé e anarquia, Orlando J.D. Corrêa - Urrando no trecho e tantos outros.

Além de editor, Albert é também escritor. Acabou de lançar “O Sucesso de Escrever”, uma obra excelente que “coloca nos trilhos o potencial literário de cada pessoa”. Nesse opúsculo são abordados assuntos que vão desde a criação dos personagens, a estrutura de uma trama em todas as suas nuances, passando pela lógica da construção do começo, meio e fim, culminando com a consecução do trabalho como um todo.

O livro não trás fórmulas matemáticas como “O Homem que calculava, de Malba Tahan, nem se compara a manuais de especialistas que ensinam como se deve ou não escrever. Acima de tudo, o autor busca, de maneira simples, mostrar aos novatos que os “eventos iniciais precisam ser dinâmicos, a ponto de impactar o leitor, de cara, a ponto que, em nenhum momento, ele venha a se desinteressar pela leitura”. Esclarece que o meio do livro deverá alternar passagens de ritmo rápido para passagens mais lentas, dando tempo, ao leitor, para que saboreie e se deleite melhor com os aspectos íntimos de cada personagem ou situações e, sobretudo, a maneira como elas são apresentadas.

“O sucesso de Escrever” fala, ainda, das resoluções que devem ser objetivas, das frases longas, cheias de vírgulas, dos parágrafos extensos demais e cansativos. Discorre sobre as descrições longas, dos personagens, de palavras pouco usadas, ou daquelas muito rebuscadas, nas quais o cidadão leigo e menos desatento, precise, de um dicionário ao alcance das mãos.

Dahoui é, acima de tudo, um inventor de assombros e, mais que isso, ajuda o sonhador a construir suas fantasias mais estrambóticas, a sonhar com os pés no chão, a encontrar seu caminho sem se distanciar da realidade em que vive. Excelente, pois, para quem carrega, no sangue, o espírito aventureiro de um Veríssimo, ou de um Fernando Sabino. Recomendável para todos que se aventuram nessa senda quase intransponível de se tornar alguém reconhecido dentro de um universo cada vez mais fechado. Ser escritor, neste país, é como andar de mãos dadas com as ilusões que nascem da alma, mas igualmente com os pés atados e, pior, ladeado por um cotidiano invariavelmente bloqueado e desestimulante. O livro de Dahoui nos leva a acreditar piamente que não estamos ilhados no meio de outros escritores famosos e de renome, nem somos um Robinson perdido entre os demais semelhantes.

Fontes:
http://www.paralerepensar.com.br (6 agosto 2007)
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http://dry-martini.blogspot.com

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