Maurício Chamarelli Gutierrez é carioca, nascido em 1984, estudante de literatura na UFRJ e de música na Escola de Música Villa-Lobos. Toca saxofone nas horas vagas. Participou do projeto Arranjos para Assobio, da UFRJ, até 2004.
Uma girafa por entre outros animais, Maurício Chamarelli é daqueles cuja presença se ergue por sobre a grande maioria das outras. Entre os pés ágeis batendo firmes no chão enquanto recebem a força da terra e a cabeça que acolhe o mais tênue das alturas, o pensamento, neste livro, é do corpo, articulado pela intensidade destes dois vetores. Seja no ensaísmo, inédito, seja, como agora, na poesia, que se edita, este jovem de 21 anos começa traçando sua trajetória para que a vida fale publicamente em passos de gigante. Como se isto, com folga, não bastasse, ainda surpreendente é a intensidade tão precocemente aliada a uma rara maturidade; ou talvez seja justamente por tal aliança que, aqui, vida, de fato, fale em passos de gigante. Pela grandeza do que aqui se mostra, e do que, fora daqui, também conheço, a poesia e o pensamento brasileiros recebem um reforço de peso, daqueles que já chegam para vestir a camisa 9 ou 10 da seleção. Fosse a poesia futebol, não tenho dúvidas de que, com esta estréia, Maurício Chamarelli seria logo cobiçado pelos gramados europeus... mas, felizmente, não é este o caso.
Se, no princípio, era o corpo, e se todo corpo é tênue (não apenas o do poeta, mas o do leitor e de qualquer um ou outro que nunca teve um livro nas mãos), e se trata-se de uma voz – como é, explicitamente, o caso –, qual a voz, corporal, que concilia o corpo, que sempre principia, com o verbo que lhe é decorrente? Aqui, a voz poética é grito, sopro, rugido, tudo o que, imerso no sentido, sem denegá-lo, criando-o, o antecipa em puras exclamações, em sons de palavras rubras, rudes ou, mesmo, cansadas. A poesia de Maurício Chamarelli é da voz que antecipa o verbo, da voz que, no sentido, pronuncia o berro de nascimento de todo e qualquer sentido. De peito aberto e pés descalços, este corpo tênue mora em farpas da voz. E esta voz, tênue e corporal, esta voz encorpada da vida em passos de gigante, é uma farpa entre o nome e a morte, entre a morte e o nome. Ser esta farpa, eis a excelência do desafio poético proposto por Maurício Chamarelli. No princípio corporal e vocal, ser, portanto, tênue, só uma tonalidade, apenas uma veia, um mínimo vibrátil que alimente a interminável procura de um nome melhor para isto. Para isto que é vida (em passos de gigante), para isto que é poesia (também em passos de gigante).
A imagem, sim, a imagem incontornável, mas, em Corpo Tênue, sobretudo a música, que, mesmo na visão, é anterior à própria visão, a música do pensamento, da poesia, a música da voz. A música do grito, do sopro, do rugido. A música do corpo e, no corpo, a música do tênue. A música, como o mais tênue corpóreo, para quando a aflição do incorpóreo me estiver afogando. A música da celebração da poesia, afirmadora de todo um complexo de forças que, não se tornando perceptível, deixaria o mundo muito pior. A música... Diz o livro: É tudo música. Desde a abertura deste livro, a música se faz presente tanto como modo de realização quanto como tema. Assim, bem de acordo com o John Coltrane homenageado, o que se mostra ao longo do livro, entremeados ou não por títulos, são acontecimentos poemáticos espiralados feito o rodamoinho de um furacão, cujas células, menores (um verso qualquer que temos pela frente) ou maiores (todo o conjunto do livro), nos trazem – sempre – o poético em sua melhor maneira, o poético que mostra a vida em passos de gigante. Pegue este livro, portanto, como uma primavera nos dentes, porque, mesmo que escrito na primeira floração, ele se anuncia como outubro: Mas outubro,/ Outubro se anuncia entre esses dentes.// Não sei se de dentro/ - como vômito/ Ou se de fora/ - como soco// Mas outubro, outubro se anuncia. Maurício Chamarelli assim se anuncia: com passos de gigante.
(Prefácio do Livro Corpo Tênue, por Alberto Pucheu)
Fontes:
Confraria do Vento.
As Escolhas Afectivas.
http://www.oficinaraquel.com/mauricio.html
Uma girafa por entre outros animais, Maurício Chamarelli é daqueles cuja presença se ergue por sobre a grande maioria das outras. Entre os pés ágeis batendo firmes no chão enquanto recebem a força da terra e a cabeça que acolhe o mais tênue das alturas, o pensamento, neste livro, é do corpo, articulado pela intensidade destes dois vetores. Seja no ensaísmo, inédito, seja, como agora, na poesia, que se edita, este jovem de 21 anos começa traçando sua trajetória para que a vida fale publicamente em passos de gigante. Como se isto, com folga, não bastasse, ainda surpreendente é a intensidade tão precocemente aliada a uma rara maturidade; ou talvez seja justamente por tal aliança que, aqui, vida, de fato, fale em passos de gigante. Pela grandeza do que aqui se mostra, e do que, fora daqui, também conheço, a poesia e o pensamento brasileiros recebem um reforço de peso, daqueles que já chegam para vestir a camisa 9 ou 10 da seleção. Fosse a poesia futebol, não tenho dúvidas de que, com esta estréia, Maurício Chamarelli seria logo cobiçado pelos gramados europeus... mas, felizmente, não é este o caso.
Se, no princípio, era o corpo, e se todo corpo é tênue (não apenas o do poeta, mas o do leitor e de qualquer um ou outro que nunca teve um livro nas mãos), e se trata-se de uma voz – como é, explicitamente, o caso –, qual a voz, corporal, que concilia o corpo, que sempre principia, com o verbo que lhe é decorrente? Aqui, a voz poética é grito, sopro, rugido, tudo o que, imerso no sentido, sem denegá-lo, criando-o, o antecipa em puras exclamações, em sons de palavras rubras, rudes ou, mesmo, cansadas. A poesia de Maurício Chamarelli é da voz que antecipa o verbo, da voz que, no sentido, pronuncia o berro de nascimento de todo e qualquer sentido. De peito aberto e pés descalços, este corpo tênue mora em farpas da voz. E esta voz, tênue e corporal, esta voz encorpada da vida em passos de gigante, é uma farpa entre o nome e a morte, entre a morte e o nome. Ser esta farpa, eis a excelência do desafio poético proposto por Maurício Chamarelli. No princípio corporal e vocal, ser, portanto, tênue, só uma tonalidade, apenas uma veia, um mínimo vibrátil que alimente a interminável procura de um nome melhor para isto. Para isto que é vida (em passos de gigante), para isto que é poesia (também em passos de gigante).
A imagem, sim, a imagem incontornável, mas, em Corpo Tênue, sobretudo a música, que, mesmo na visão, é anterior à própria visão, a música do pensamento, da poesia, a música da voz. A música do grito, do sopro, do rugido. A música do corpo e, no corpo, a música do tênue. A música, como o mais tênue corpóreo, para quando a aflição do incorpóreo me estiver afogando. A música da celebração da poesia, afirmadora de todo um complexo de forças que, não se tornando perceptível, deixaria o mundo muito pior. A música... Diz o livro: É tudo música. Desde a abertura deste livro, a música se faz presente tanto como modo de realização quanto como tema. Assim, bem de acordo com o John Coltrane homenageado, o que se mostra ao longo do livro, entremeados ou não por títulos, são acontecimentos poemáticos espiralados feito o rodamoinho de um furacão, cujas células, menores (um verso qualquer que temos pela frente) ou maiores (todo o conjunto do livro), nos trazem – sempre – o poético em sua melhor maneira, o poético que mostra a vida em passos de gigante. Pegue este livro, portanto, como uma primavera nos dentes, porque, mesmo que escrito na primeira floração, ele se anuncia como outubro: Mas outubro,/ Outubro se anuncia entre esses dentes.// Não sei se de dentro/ - como vômito/ Ou se de fora/ - como soco// Mas outubro, outubro se anuncia. Maurício Chamarelli assim se anuncia: com passos de gigante.
(Prefácio do Livro Corpo Tênue, por Alberto Pucheu)
Fontes:
Confraria do Vento.
As Escolhas Afectivas.
http://www.oficinaraquel.com/mauricio.html
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