INCERTEZA
Desde a manhã tristonha em que partiste
que não posso pensar senão em ti,
tenho a louca impressão que te perdi
que nada mais entre nós dois existe...
Ao te ver a sorrir, como sorriste
no instante da partida, compreendi,
- que talvez, nunca mais voltes aqui...
- que hei de viver eternamente triste...
Por que tu me deixaste a duvidar?
Preferia mil vezes a certeza,
Já que um dia a certeza há de chegar...
Nem sabes a amargura que me invade,
- a vida que hoje levo, é uma tristeza,
um misto de tristeza e de saudades!
INCOERÊNCIA?
Achas-me indiferente... e até crês que há desdém
quando falo de amor em palavras singelas...
- pensas que as juras todas que já ouviste, aquelas
juras, a outras mulheres vou fazer também...
Dizes que não te quero... E eu te pergunto: - a quem
devo tudo o que fiz, as poesias mais belas?
- outras dirão talvez que as fiz pensando nelas,
mas todas te pertencem mais do que a ninguém!
Não vês que o que te cerca é a mentira da vida...
- nem sabes descobrir essa paixão imensa
que o meu orgulho torna egoísta e dolorida...
Não vês que o meu viver é falso, - e se resume
em te amar como um louco em minha indiferença,
e fingir que amo as outras para teu ciúme !
INCONSTÂNCIA
É o meu destino: - hei de seguir assim
como um novo amor por sol, em cada dia...
- o que há pouco era tudo o que queria
já agora não é nada para mim...
Só vive, o que ainda é sonho e fantasia!
O que conquisto encontra logo um fim...
O amor que nasce cheio de alegria
hoje - morre amanhã cheio de esplim...
Inconstante e volúvel, meus desejos
- tem a alma das bolhas de sabão
e a duração efêmera dos beijos...
O amor - é a vida de um perfume no ar,
o encanto de um segundo de ilusão...
- a beleza da espuma sobre o mar!...
INCONSTANTE...
I
Ela partiu... Deixou-me... E em despedida
uma carta ficou em seu lugar,
pois não teve coragem na partida
de cruzar, seu olhar com o meu olhar...
Partiu... Não compreendeu meu sentimento,
desprezou meu amor... minha afeição...
Quis apagá-la, então, do pensamento,
mas foi tudo desejo... tudo vão...
Se ela voltasse, um dia, ainda pensei,
por castigo, jamais, a perdoaria...
e um dia, ela voltou... E nesse dia
eu abri os meus braços, e a perdoei...
II
Esqueci minha dor e os meus receios,
reconstruí de novo os meus castelos,
- senti meus olhos novamente cheios
com os meus sonhos mais puros e mais belos...
Cumulei-a de amor e de carinho,
realizei seus mais íntimos desejos,
e as ânsias que guardei, quando sozinho
libertei-as felizes nos meus beijos...
III
Hoje - vivo sozinho novamente...
Ela partiu... Nem disse que ia embora...
Não deixou uma linha, uma somente,
nem uma só, como fizera outrora...
E amanhã, se voltar - ingenuamente
virá pedir perdão do que me fez,
- e hei de esquecer de tudo, novamente,
- e os braços, hei de abrir, mais uma vez!...
INÉDITO...
Relendo o último verso que compus
pouso entre as mãos maquinalmente o rosto,
e o olhar deixo vagar para o sol posto
onde o céu é um borrão de sombra e luz...
Um sossego interior, em mim, produz,
esta tarde fugindo ao mês de agosto...
- nas vitrines do espaço, onde era exposto
o sol, surge uma estrela que transluz...
Alguém põe-se às centenas a acendê-las,
e cada uma que a luz tinha escondido
brilha, e ao brilhar, enche-se o céu de estrelas...
E fitando-as, dispersas, no infinito,
sei, que apesar de nunca ter lido,
nos céus há um poema há muito tempo escrito...
INSATISFEITO
Quem ler os versos meus onde há certa tristeza
e certo desencanto suave e contrafeito,
poderá num momento pensar, com certeza,
que trago inutilmente um coração no peito!...
E que vivo afinal inquieto e insatisfeito
de paixão em paixão... de surpresa em surpresa,
- como um rio a mudar o curso do seu leito
sem saber aonde o arrasta a própria correnteza!
E acertará talvez, - pois falta essa mulher
que consiga escrever seu nome em minha vida
sem deixar no passado outro nome qualquer...
Falta-me um grande amor... Falta-me tudo em suma!
E sinto a alma vazia, estranha e incompreendida
por ter amado tantas sem amar nenhuma!
INUTILIDADE
Tenho vontade, as vezes, de sair da vida,
bato asas sofregamente
até que cansado jogo-me em mim mesmo
e desperto na queda da inutilidade...
Invejo o destino livre da fumaça,
tenho pena de mim,
tenho pena dos homens,
vendo aquele besouro a procurar espaço
e a bater na vidraça...
INUTILMENTE
Há de ser desta vez... Dir-lhe-ei contente
todo este amor que no meu Ser se abriga,
e tomando-lhe as mãos bem docemente
relembrarei a nossa infância antiga...
E a dúvida que guardo e que a alma sente
hei de acabar dizendo:- "minha amiga,
quero, ouvi-la afinal sinceramente
sem recear ferir com que me diga..."
Penso assim... E no entanto, quantas vezes
tenho-a encontrando, e inutilmente os meses
e os anos vão passando entre nós dois...
Basta vê-la e em minha alma acovardada,
- já não sei nada, nem me lembro nada
e deixo tudo pra dizer depois !
Fonte:
J. G. de Araújo Jorge. Os Mais Belos Poemas Que O Amor Inspirou. vol. 1. SP: Ed. Theor, 1965.
reconstruí de novo os meus castelos,
- senti meus olhos novamente cheios
com os meus sonhos mais puros e mais belos...
Cumulei-a de amor e de carinho,
realizei seus mais íntimos desejos,
e as ânsias que guardei, quando sozinho
libertei-as felizes nos meus beijos...
III
Hoje - vivo sozinho novamente...
Ela partiu... Nem disse que ia embora...
Não deixou uma linha, uma somente,
nem uma só, como fizera outrora...
E amanhã, se voltar - ingenuamente
virá pedir perdão do que me fez,
- e hei de esquecer de tudo, novamente,
- e os braços, hei de abrir, mais uma vez!...
INÉDITO...
Relendo o último verso que compus
pouso entre as mãos maquinalmente o rosto,
e o olhar deixo vagar para o sol posto
onde o céu é um borrão de sombra e luz...
Um sossego interior, em mim, produz,
esta tarde fugindo ao mês de agosto...
- nas vitrines do espaço, onde era exposto
o sol, surge uma estrela que transluz...
Alguém põe-se às centenas a acendê-las,
e cada uma que a luz tinha escondido
brilha, e ao brilhar, enche-se o céu de estrelas...
E fitando-as, dispersas, no infinito,
sei, que apesar de nunca ter lido,
nos céus há um poema há muito tempo escrito...
INSATISFEITO
Quem ler os versos meus onde há certa tristeza
e certo desencanto suave e contrafeito,
poderá num momento pensar, com certeza,
que trago inutilmente um coração no peito!...
E que vivo afinal inquieto e insatisfeito
de paixão em paixão... de surpresa em surpresa,
- como um rio a mudar o curso do seu leito
sem saber aonde o arrasta a própria correnteza!
E acertará talvez, - pois falta essa mulher
que consiga escrever seu nome em minha vida
sem deixar no passado outro nome qualquer...
Falta-me um grande amor... Falta-me tudo em suma!
E sinto a alma vazia, estranha e incompreendida
por ter amado tantas sem amar nenhuma!
INUTILIDADE
Tenho vontade, as vezes, de sair da vida,
bato asas sofregamente
até que cansado jogo-me em mim mesmo
e desperto na queda da inutilidade...
Invejo o destino livre da fumaça,
tenho pena de mim,
tenho pena dos homens,
vendo aquele besouro a procurar espaço
e a bater na vidraça...
INUTILMENTE
Há de ser desta vez... Dir-lhe-ei contente
todo este amor que no meu Ser se abriga,
e tomando-lhe as mãos bem docemente
relembrarei a nossa infância antiga...
E a dúvida que guardo e que a alma sente
hei de acabar dizendo:- "minha amiga,
quero, ouvi-la afinal sinceramente
sem recear ferir com que me diga..."
Penso assim... E no entanto, quantas vezes
tenho-a encontrando, e inutilmente os meses
e os anos vão passando entre nós dois...
Basta vê-la e em minha alma acovardada,
- já não sei nada, nem me lembro nada
e deixo tudo pra dizer depois !
Fonte:
J. G. de Araújo Jorge. Os Mais Belos Poemas Que O Amor Inspirou. vol. 1. SP: Ed. Theor, 1965.
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