domingo, 5 de maio de 2019

Pedro Du Bois (Poemas Escolhidos) 4


AMORES
Amor de segunda-feira
perdido em filas e pagamentos
amor de terça-feira
cansado da correria da semana
amor de quarta-feira
breve descanso após o expediente
amor de quinta-feira
alegria e glória pela sequência
amor de sexta-feira
lobos e cordeiros em seus lugares
amor de sábado
caseiras tarefas semanais
amor de domingo
agradecer aos céus e aos deuses

amores de todos os dias
                        cansados
            sem brincadeiras.

DIVISÕES

Ainda
divididos em raças
cores
credos
filosofias
políticas
virtudes
e vícios

diferentes histórias
religiões
medos
bandeiras
e línguas

tanto nos separamos
por árduos caminhos
que ao nos reencontramos
não nos reconhecemos
iguais como irmão.

PASSAGEM

Lodo
barro

a primeira impressão
na extração da costela
ao estratificar a marca

lama
barro

dificuldades e sujeiras
impedem o livre andar
para haver sentimentos
através da multiplicação
do pensamento

superar a lama que resseca
a herança marcada no solo
pela passagem.

PRINCÍPIO

Os que vieram
na primeira leva
nada trouxeram
além de suas vidas

pobres
paupérrimos: vidas
estagnadas vindas
de lugares pobres
paupérrimos

os que vieram
na primeira vez
não trouxeram
medo ou raiva

suas vidas eram pobres
para terem medo ou raiva

trouxeram suas vidas
e na vida foram os primeiro.

RECOMEÇAR

Recomeçar
deste ponto
recarregado
em energias
revolvidos
pensamentos
reescritas
palavras
resolvidos
problemas
recorrentes
saudades

deste ponto
o recomeço
viável
ou o salto
repetido.

SEM MEMÓRIA

Nada vale o ser
sem sua memória recente
perdido em antigas histórias
que repete
em antigos amores
amortecidos
deslumbrado com novidades
envelhecidas
deslocado em ambientes
irreconhecíveis

nada vale o passado
desacompanhado
nem o futuro
não vislumbrado
em antigas passagens
fechadas pelo tempo
fossem túmulos.

VINGANÇA

Tanta raiva traz o homem
em sua vingança: mais
do que o inverno e o verão
de polos opostos em atração
da noite pelo dia
                na madrugada

tanta ira traz o homem
em sua vingança: o barco
emborcado no porto
enquanto animais ferozes
sobre a presa no irônico
gargalhar do surdo

quanto de santidade há no homem
em sua vingança: o direito pelo revide
na mão que soca o inimigo e o caroço
cuspido no prato

tantas razões irracionais
no homem em sua vingança.

Fonte:
Pedro Du Bois

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