As canções dos pescadores
que escuto de volta ao cais...
São ladainhas de dores
dos que não voltam jamais!
Enquanto a tarde serena,
sepulta um sol tão bonito...
O sol tristonho, me acena
da solidão do infinito!
Escrava do teu assédio,
a minha alma com ternura,
faz dele, um santo remédio,
para um mal que não tem cura!
Há na eclosão de uma flor,
e no olhar de uma criança,
lindos caprichos do amor
orvalhados de esperança!
Já sentiste a dor insana,
do canto de um passarinho,
que canta a maldade humana
sobre as cinzas do seu ninho?...
Lembrar momentos risonhos
dos tempos da mocidade,
é torturar velhos sonhos
no por do sol da saudade!
Meu pai... Ao te ver agora,
curvado e contando os passos...
Dói-me ao lembrar, quando outrora,
andava tanto em teus braços!
Meus versos são quais crianças,
dóceis, inocentes, belas...
Que vão pintando esperanças
e emoldurando aquarelas!
No entardecer da cidade,
antes do sol se esconder...
Há mais cinzas de saudade
nas cinzas do entardecer!
O orvalho que não reclama,
é o sentimento profundo,
do pranto que Deus derrama
ante as maldades do mundo!
O tempo, com seus deslizes,
com seus conceitos fatais...
Por pouco, nos fez felizes,
mas quase tarde demais!
Põe na vida mais ternura...
Sê como a luz de candeia:
Quanto a noite mais escura,
mais ela brilha e clareia!
Quando o sol dobra os joelhos,
de rubro a tarde se banha,
para escutar seus conselhos
sobre os braços da montanha!
Quanto mais ouço conversas,
mais eu vejo esforços vãos,
em mãos, incultas, perversas,
escravizando outras mãos!
Saudade - é faca de ponta,
que fere qualquer pessoa...
Toda tarde, dobra a conta
no coração que magoa!
Se acaso a vida te afeta,
não guardes dela, rancor!
Pois, coração de poeta,
é a caixa postal do amor!
Se a tua cruz pesa tanto,
do peso, não faças conta;
que até o terço mais santo,
carrega uma cruz na ponta!
Se a vida é luz e esperança,
riso, alegria, acalanto...
Por que será que a criança
ao vir à luz, chora tanto?!...
Seguindo os teus passos certos,
não temo o peso da cruz!...
Quero em teus braços abertos,
crucificar-me de luz!
Sem teu amor eu não vivo,
sem teus abraços, tampouco.
Sou velho escravo e cativo
desse amor que me fez louco!
Sepultem-se as desavenças!
Se houver paz no coração,
vão-se todas as descrenças,
todas as mágoas se vão!
Se um sonho bom, não te alcança,
fujas da vida vazia,
plantando pés de esperança
na esquina de cada dia!
Teu adeus, triste miragem!
Aos teus sinais, me anteponho:
Porque buscar noutra imagem,
a ilusão de um novo sonho?
Tu tens dois gestos dos sábios,
no teu modo de pensar:
Tens o silêncio em teus lábios
e a humildade em teu olhar!
Fonte:
Livro gentilmente enviado pelo autor:
Professor Garcia. Trovas que sonhei cantar vol. 2. 2.ed. Caicó/RN: Edição do Autor, 2018.
Professor Garcia. Trovas que sonhei cantar vol. 2. 2.ed. Caicó/RN: Edição do Autor, 2018.
Nenhum comentário:
Postar um comentário