Sentiu-se perdido! Encurralado!
Tentou prolongar o túnel, escavando-o com empenho desesperado, Usaria as unhas... usaria os dentes se os tivesse!
A tensão roubava-lhe o fôlego e as derradeiras forças.
Pouco antes, ouvira vozes abafadas. Confabulavam, lá fora. Tramavam-lhe o fim.
— "Com esta, não escapa!" — diziam. A sonda metálica, introduzida no túnel, cada vez mais perto.
A hora se aproximava. Quem não via?! Hora? — Otimismo! — Não teria, quem sabe, um mísero minuto de vida!
E a vida era tão boa... em que hora o reconhecia!
Sentiu revolta interior... amarga e doída! Jamais fizera mal a alguém. Pelo menos, conscientemente. Ambições? — Tão pequenas! — Não invejava. Não criava conflitos... Por quê?! Por que fora cair em tal enrascada?!
Ouvira cochichos... deixara rastros. Isto! Deixara rastros! Idiota! — Deveria ter engolido até os resíduos! Agora... fácil seguir-lhe as pegadas!
Desarmado! Indefeso! Ali estava, absolutamente à mercê do que desse e viesse. E só viria o pior!
Sentia-se um verme nojento. Nojento e impotente... pronto a ser esmagado!
O instinto, animal, de conservação, mais forte quanto maior o perigo, deu base à última arremetida. Impulsionado pelo pavor, atirou-se violentamente contra a parede que o bloqueava.
— Inútil! Algo compacto, frio... duro como aço, lhe truncava os passos. Coisas... coisas, adversas e intransponíveis, decidiam seu destino!
E outra coisa, extremamente ameaçadora, chegava através da sonda maldita. Alguma coisa terrível! — Desagradável, a princípio. Sufocante, depois! Agora, tóxica! Letal!
Sentiu-se flutuante... Com náuseas... As entranhas enovelaram-se. Vomitou... uma, duas vezes... vomitou a alma!
Quis gritar: — Não tinha voz. Debater-se: — Não tinha braços!
Coleou, desesperadamente... lembrando minhoca imunda, no seu túnel de lama.
Sentiu-se viscoso... frio... Estrebuchou... Amoleceu... Morreu!...
Morreu, maldizendo o destino que o fizera nascer cupim.
Cupim indefeso. Débil!,.. Condenado! Cupim impotente, ante a técnica dos homens. Homens-vermes que, através dos tempos, nunca se entenderam, a não ser... para matar!
Fonte:
Carolina Ramos. Interlúdio: contos. São Paulo: EditorAção, 1993.
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